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Os desafios de Macron ante a maioria absoluta nas legislativas

Em posição de força depois de liderar o primeiro turno das legislativas, o líder francês ainda precisa superar obstáculos

Emmanuel Macron: o novo presidente já anunciou a sua intenção de acelerar as reformas (Philippe Wojazer/Reuters)

Emmanuel Macron: o novo presidente já anunciou a sua intenção de acelerar as reformas (Philippe Wojazer/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de junho de 2017 às 14h49.

Última atualização em 12 de junho de 2017 às 14h51.

Abstenção recorde, dificuldades para manejar uma ampla maioria heterogênea, uma oposição que pode ir às ruas. São vários os desafios que poderá enfrentar o presidente francês, Emmanuel Macron, em posição de força depois de liderar o primeiro turno das legislativas.

Abstenção recorde

Mais de um em cada dois eleitores (51,29%) não votou no primeiro turno das eleições legislativas de domingo, algo nunca antes visto na França nestas eleições.

"Estamos diante de uma abstenção recorde e de um desmoronamento em comparação com a participação no primeiro turno das presidenciais", que superou os 77%, indicou o cientista político Thomas Guénolé, que aponta entre as causas "uma mistura de resignação e de greve de voto".

Para Jérôme Sainte-Marie, do instituto de pesquisas Polling Vox, esta abstenção se deve a "uma forma de desconexão de uma parte dos franceses, principalmente das classes populares, mas também dos jovens", que votam em massa pela extrema-direita e pela esquerda radical.

Estes grupos de eleitores ficaram "profundamente decepcionados depois das presidenciais", nas quais foram derrotados os seus candidatos - Marine Le Pen (Frente Nacional) e Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa).

Para os opositores ao novo presidente, esta baixa mobilização afeta sua legitimidade para governar.

"Apenas um em cada sete eleitores votou" pelo partido presidencial, assinalou Brice Hortefeux, do partido de direita Os Republicanos.

A equipe de Macron admite que estes números são uma "derrota". "Devemos devolver a confiança" aos franceses, comentou o porta-voz do governo, Christophe Castaner.

 Maioria absoluta perigosa?

A entrada na Assembleia Nacional de centenas de deputados novatos na política, vindos de um movimento criado há pouco mais de um ano, pode criar dificuldade, sobretudo em relação à disciplina de voto.

"Uma maioria esmagadora pode ser perigosa para Emmanuel Macron, com muitos deputados que provavelmente pecarão por entusiasmo. O presidente terá que ter muita energia para disciplinar a Assembleia", advertiu Guénolé.

"Os novos deputados, por sua inexperiência e heterogeneidade política, vão formar uma massa enorme, mas atomizada. Pode haver alguma dissidência, mas não estruturada. Diante de um poder Executivo de uma força sem precedentes, o poder legislativo não pesará muito", considerou Sainte-Marie.

Para Sainte-Marie, "atualmente não há nenhuma oposição forte a Emmanuel Macron, apesar de 75% dos franceses não terem votado por ele no primeiro turno. A oposição está composta por quatro forças irreconciliáveis: França Insubmissa (esquerda radical), Frente Nacional (extrema-direita), esquerda socialista e a direita de Os Republicanos".

A oposição irá para as ruas?

O novo presidente já anunciou a sua intenção de acelerar as reformas, começando pela trabalhista, uma das mais importantes de seu programa para retirar a França do estancamento econômico.

"Se não há uma Assembleia Nacional que ofereça uma representação proporcional às diferentes forças políticas de oposição, estas se verão obrigadas a criar outras formas de oposição externas, provavelmente nas ruas", analisa Guénolé.

O coletivo sindical e associativo "Frente Social" convocou para 19 de junho, dia seguinte do segundo turno das legislativas, manifestações contra a reforma trabalhista de Macron.

O projeto, em discussão há mais de uma semana, preocupa os sindicatos, que se mobilizaram em massa no ano passado, durante a presidência de François Hollande, contra uma lei similar que para eles supunha um retrocesso das condições de trabalho.

Para Sainte-Marie "não se consegue bloquear uma reforma indo às ruas, mas com greves, como as de 1995. Entretanto, atualmente não vemos quem possa fazer greve: os trabalhadores do setor privado estão ameaçados pelo desemprego e os do público estão endividados. Todos os mais recentes movimentos sociais fracassaram, o que leva a uma desmoralização social".

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