Organização coleta amostras na Síria para verificar uso de armas químicas
O suposto ataque com gás tóxico em 7 de abril, que deixou pelo menos 40 mortos em Duma, provocou tensões diplomáticas
Karin Salomão
Publicado em 21 de abril de 2018 às 17h13.
Haia - Investigadores internacionais conseguiram finalmente entrar, neste sábado (21), na cidade síria de Duma para coletar amostras duas semanas após um suposto ataque químico no local, que motivou uma ofensiva militar do Ocidente contra o regime de Bashar al Assad.
O suposto ataque com gás tóxico em 7 de abril, que deixou pelo menos 40 mortos em Duma, segundo socorristas, provocou tensos enfrentamentos diplomáticos entre as grandes potências, contrapondo Washington e Moscou.
O regime sírio, que executava uma campanha violenta para recuperar a cidade das mãos de rebeldes, nega ter recorrido ao uso de armas químicas e já havia solicitado uma investigação da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Mas, desde sua chegada há uma semana a Damasco, especialistas desta organização não tinham conseguido ir a Duma, ex-reduto rebelde no entorno da capital.
A Rússia, aliada do regime de Bashar al Assad, alegou motivos de segurança. Já os ocidentais acusaram Moscou e Damasco de dificultarem as investigações para fazer as provas sumires - o que o Kremlin nega contundentemente e considera serem acusações "infundadas".
Da sede em Haia, a OPAQ informou que "vai avaliar a situação e decidir os próximos passos, inclusive a possibilidade de outra visita a Duma".
A organização é capaz determinar se houve uso de armas químicas, mas não identificar os autores.
"As amostras recolhidas serão enviadas ao laboratório da OPAQ em Rijswijk (periferia de Haia), antes de serem distribuídas em vários laboratórios no mundo certificados pela organização", explicou o organismo encarregado de assegurar a destruição das armas químicas e evitar qualquer forma de seu desenvolvimento.
Tarefa árdua
Duas semanas depois do suposto ataque, o trabalho dos especialistas se anuncia complexo.
Eles terão que compilar "amostrar químicas, ambientais e biomédicas", interrogar vítimas, testemunhas, equipes médicas e podem até participar de necropsias, explicou a Opaq. Eles também buscarão indícios de que o local tenha sido alterado, segundo especialistas.
"As amostras de necropsias, se estiverem disponíveis, podem fornecer provas de valor incalculável, já que agentes neurotóxicos podem ser encontrados em muitos órgãos", garantiu à AFP Alastair Hay, professor de toxicologia ambiental na Universidade de Leeds.
As primeiras acusações falam em cloro gasoso e até gás sarin, um agente neurotóxico mais potente.
Especialistas vão buscar "formas degradadas" deste gás. Embora seja difícil detectar cloro após certo período de tempo, os restos de sarin podem ser encontrados durante semanas.
As amostras serão analisadas em laboratórios especializados e os resultados podem ficar prontos em duas semanas, segundo especialistas.