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Opositor de presidente turco tem popularidade para ir ao segundo turno

Pesquisas indicam que Erdogan não terá mais da metade dos votos para vencer no primeiro turno e colocam Muharrem Ince como seu oponente no segundo turno

Muharrem Ince: candidato percorreu o país em uma campanha que o transformou em uma figura popular (Stoyan Nenov/Reuters)
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EFE

Publicado em 22 de junho de 2018 às 19h52.

Istambul - Muharrem Ince, candidato presidencial do Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla em turco), é um dos grandes críticos do presidente da Turquia , Recep Tayyip Erdogan, e usa as mesmas armas do chefe de Estado para combatê-lo: uma oratória direta e um estilo franco que se conecta com o eleitorado.

Ince - nascido em 1964 em Yalova, província limítrofe com Istambul - é um veterano parlamentar do CHP que conseguiu fazer com que seu partido subisse nas pesquisas antes das eleições presidenciais deste domingo.

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Todas as pesquisas indicam que Erdogan não terá mais da metade dos votos para vencer no primeiro turno das eleições e muitas colocam Ince como seu oponente em um segundo e definitivo turno.

Apesar de não ser um político muito conhecido antes de sua designação como candidato, Ince percorreu o país em uma campanha que o transformou em uma figura popular.

Erdogan apresentou durante anos o CHP como um partido da elite laica afastada do povo e que menosprezava o islã, algo que Ince desmente: suas origens são humildes e conservadoras e ele é religioso.

Conhecido por sua boa oratória, o candidato pertence à ala nacionalista laica do partido, embora também tenha um eleitorado mais conservador e, inclusive, curdo.

Ince trabalhou como professor de física antes de ser parlamentar e dirigiu a Associação de Pensamento de Atatürk em Yalova, uma instituição que preserva a ideologia laica do fundador da República, Mustafa Kemal Atatürk.

De família conservadora, frequentou escola corânica, algo que pode atrair o voto de setores tradicionais distanciados da linha personalista e autoritária de Erdogan.

"Serei o presidente dos 80 milhões (de habitantes da Turquia), dos direitistas e esquerdistas, dos alevitas e sunitas, de turcos e curdos", prometeu Ince em seu primeiro discurso como candidato.

O político social-democrata também pretende conseguir os votos que o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan pode perder no sudeste do país, já que, até agora, era a segunda legenda mais votada nesse território de maioria curda.

Os decretos ministeriais assinados sob o estado de emergência - vigente desde a tentativa fracassada de golpe de Estado em julho de 2016 - pelos quais milhares de pessoas perderam seus empregos, além das detenções dos líderes do opositor pró-curdo Partido Democrático dos Povos (HDP) ameaçam diminuir o apoio curdo ao AKP.

Ince visitou o candidato do pró-curdo e esquerdista HDP, Selahattin Demirtas, que está preso desde novembro de 2016, e propôs criar uma comissão com representantes de todos os partidos para resolver "a questão curda".

O candidato a presidente também acenou aos eleitores mais nacionalistas com críticas ao AKP por acolher mais de 3 milhões de sírios na Turquia, assim como às bases progressistas do CHP, com promessas de uma educação "gratuita, laica e científica".

Ince afirmou que quer restabelecer a neutralidade das instituições do Estado e restaurar a separação de poderes, que, na sua opinião, foi abolida no governo do AKP.

Esta campanha com mensagens para todos os setores sociais parece ter funcionado e fortaleceu o CHP nas pesquisas.

Antes de apresentar seu candidato, as intenções de voto eram menores que as de Erdogan e Meral Aksener, líder do novo partido direitista IYI.

No entanto, as últimas pesquisas colocam Ince, que obteria entre 22% e 24% dos votos, atrás de Erdogan, que tem entre 43% e 46%.

Ince prometeu que, se for presidente, irá retirar o estado de emergência e quer uma nova Constituição para restaurar o sistema parlamentar.

Após estas eleições serão aplicadas pela primeira vez as mudanças constitucionais aprovadas em um referendo no ano passado e que transformarão a Turquia em um sistema presidencialista, no qual o chefe do Estado terá amplos poderes executivos.

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