Exame Logo

ONU responsabiliza forças sírias por massacres em Banias

Nações Unidas acusa Assad por dois massacres em maio nos quais cerca de 450 civis foram mortos

Soldados e civis leais ao regime de Bashar al-Assad: relatório documenta nove massacres no total, atribuindo sete delas às forças governamentais (Mohamed Azakir/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de setembro de 2013 às 16h48.

Genebra - A equipe da ONU de investigação de abusos contra os direitos humanos concluiu que forças do governo sírio quase certamente foram as responsáveis por dois massacres em maio nos quais cerca de 450 civis foram mortos, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira.

O relatório documenta nove massacres no total, atribuindo sete delas às forças governamentais, mas diz que na disputa por território tanto os combatentes rebeldes como o governo cometeram crimes de guerra, incluindo assassinatos, tomada de reféns e bombardeio de áreas civis.

Os massacres em Baida e Ras al-Nabaa, dois bolsões de simpatizantes dos rebeldes cercados por vilarejos leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad, nos arredores da cidade costeira de Banias, enviam uma dura mensagem sobre o preço a ser pago pelo apoio aos rebeldes.

A comissão da ONU não teve permissão de entrar na Síria, mas seus 20 investigadores realizaram 258 entrevistas com refugiados, desertores e outras pessoas na região e em Genebra, incluindo via Skype, para elaborar seu 11º relatório em dois anos.

Segundo o texto, entre 150 e 250 civis encontrados em uma casa supostamente foram mortos em Baida, incluindo 30 mulheres, aparentemente executados. O relatório diz que rebeldes armados não atuavam na área na época dessa matança.

"Houve testemunhos consistentes de que membros das Forças de Defesa Nacional estavam ativamente envolvidos nas incursões e, em muitos casos, as lideravam", diz o documento.

"Com base nisso, há motivos razoáveis para acreditar que forças do governo e milícias a ele ligadas, incluindo as Forças de Defesa Nacional, são os autores do massacre de Al-Bayda (Baida)." No dia seguinte, à medida que se espalhavam os rumores de que combatentes das milícias estavam avançando com o apoio do Exército, centenas de civis tentaram fugir do vilarejo vizinho de Ras al-Nabaa, mas foram forçados a recuar em postos de controle. As forças governamentais passaram então a bombardear o vilarejo e, então, as milícias entraram.


"Enquanto eles atacavam o vilarejo, civis eram capturados e executados", assinala o relatório. "A operação não ocorreu no contexto de um confronto militar. As forças do governo tinham pleno controle da área." A estimativa de que de 150 a 200 pessoas tenham morrido em Ras al-Nabaa.

Silêncio do Governo

O governo sírio manteve silêncio sobre as mortes na época, mas uma autoridade da inteligência síria, que falou com a Reuters em condição de anonimato, reconheceu que apoiadores do governo foram responsáveis, incluindo alguns de cidades alauítas nos arredores.

O conflito iniciado em 2011 deixou pelo menos 100 mil pessoas mortas e milhões desalojadas de suas casas. Inicialmente, o que era um levante contra Assad, depois foi se intensificando em forma de guerra civil na qual rebeldes, na maioria muçulmanos sunitas, lutam contra forças do governo, apoiadas pelo Irã, de maioria muçulmana xiita, e o grupo xiita libanês Hezbollah.

A única matança deliberada de civis atribuída a forças rebeldes no período investigado pela ONU foi em junho, quando rebeldes capturaram a localidade de Hatla, na província de Deir al-Zor, leste do país.

"Durante a ocupação, grupos antigovernamentais armados invadiram casas, matando e executando sumariamente (por tiro a curta distância) muitos xiitas, incluindo pelo menos 30 civis, entre os quais crianças, mulheres e idosos", diz o texto.

O relatório de 42 páginas, que cobre incidentes ocorridos entre maio e julho, também acusa forças leais a Assad de bombardearem escolas e hospitais, e os rebeldes, de realizarem execuções sumárias depois de sentenciar pessoas por cortes islâmicas com base na sharia, sem um processo legal.


"Os autores dessas violações e crimes, em todos os lados, agem desafiando a lei internacional", afirma o relatório.

A comissão, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, instou o Conselho de Segurança da ONU a apontar os autores como responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Para elaborar o relatório, os investigadores, entre os quais a ex-procuradora do tribunal da ONU para crimes de guerra Carla del Ponte, analisaram fotografias, vídeos e imagens de satélite, bem como arquivos médicos e forenses.

A equipe também analisou o caso da matança de 450 pessoas durante uma ofensiva de forças do governo sírio e combatentes do Hezbollah para retomar o controle da estratégica cidade de Qusair. Durante o cerco, foi cortado o fornecimento de comida e água e a cidade foi pesadamente bombardeada.

"Aproximadamente metade das vítimas era civil, mortas principalmente no bombardeio aéreo e ataque de artilharia contra a cidade nos primeiros dias da ofensiva", assinala o relatório.

O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu nesta terça-feira ao Congresso que adie a votação sobre a autorização de um ataque militar contra a Síria pelo uso de armas químicas, para dar tempo a um plano russo para remoção desse tipo de armamento da Síria.

Especialistas dizem ter recebido informações sobre uso de armas químicas, "predominantemente por forças do governo", mas não poderiam dar detalhes sobre os fatos, alguns dos quais estão sendo investigados por inspetores de armas da ONU há algumas semanas.

Veja também

Genebra - A equipe da ONU de investigação de abusos contra os direitos humanos concluiu que forças do governo sírio quase certamente foram as responsáveis por dois massacres em maio nos quais cerca de 450 civis foram mortos, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira.

O relatório documenta nove massacres no total, atribuindo sete delas às forças governamentais, mas diz que na disputa por território tanto os combatentes rebeldes como o governo cometeram crimes de guerra, incluindo assassinatos, tomada de reféns e bombardeio de áreas civis.

Os massacres em Baida e Ras al-Nabaa, dois bolsões de simpatizantes dos rebeldes cercados por vilarejos leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad, nos arredores da cidade costeira de Banias, enviam uma dura mensagem sobre o preço a ser pago pelo apoio aos rebeldes.

A comissão da ONU não teve permissão de entrar na Síria, mas seus 20 investigadores realizaram 258 entrevistas com refugiados, desertores e outras pessoas na região e em Genebra, incluindo via Skype, para elaborar seu 11º relatório em dois anos.

Segundo o texto, entre 150 e 250 civis encontrados em uma casa supostamente foram mortos em Baida, incluindo 30 mulheres, aparentemente executados. O relatório diz que rebeldes armados não atuavam na área na época dessa matança.

"Houve testemunhos consistentes de que membros das Forças de Defesa Nacional estavam ativamente envolvidos nas incursões e, em muitos casos, as lideravam", diz o documento.

"Com base nisso, há motivos razoáveis para acreditar que forças do governo e milícias a ele ligadas, incluindo as Forças de Defesa Nacional, são os autores do massacre de Al-Bayda (Baida)." No dia seguinte, à medida que se espalhavam os rumores de que combatentes das milícias estavam avançando com o apoio do Exército, centenas de civis tentaram fugir do vilarejo vizinho de Ras al-Nabaa, mas foram forçados a recuar em postos de controle. As forças governamentais passaram então a bombardear o vilarejo e, então, as milícias entraram.


"Enquanto eles atacavam o vilarejo, civis eram capturados e executados", assinala o relatório. "A operação não ocorreu no contexto de um confronto militar. As forças do governo tinham pleno controle da área." A estimativa de que de 150 a 200 pessoas tenham morrido em Ras al-Nabaa.

Silêncio do Governo

O governo sírio manteve silêncio sobre as mortes na época, mas uma autoridade da inteligência síria, que falou com a Reuters em condição de anonimato, reconheceu que apoiadores do governo foram responsáveis, incluindo alguns de cidades alauítas nos arredores.

O conflito iniciado em 2011 deixou pelo menos 100 mil pessoas mortas e milhões desalojadas de suas casas. Inicialmente, o que era um levante contra Assad, depois foi se intensificando em forma de guerra civil na qual rebeldes, na maioria muçulmanos sunitas, lutam contra forças do governo, apoiadas pelo Irã, de maioria muçulmana xiita, e o grupo xiita libanês Hezbollah.

A única matança deliberada de civis atribuída a forças rebeldes no período investigado pela ONU foi em junho, quando rebeldes capturaram a localidade de Hatla, na província de Deir al-Zor, leste do país.

"Durante a ocupação, grupos antigovernamentais armados invadiram casas, matando e executando sumariamente (por tiro a curta distância) muitos xiitas, incluindo pelo menos 30 civis, entre os quais crianças, mulheres e idosos", diz o texto.

O relatório de 42 páginas, que cobre incidentes ocorridos entre maio e julho, também acusa forças leais a Assad de bombardearem escolas e hospitais, e os rebeldes, de realizarem execuções sumárias depois de sentenciar pessoas por cortes islâmicas com base na sharia, sem um processo legal.


"Os autores dessas violações e crimes, em todos os lados, agem desafiando a lei internacional", afirma o relatório.

A comissão, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, instou o Conselho de Segurança da ONU a apontar os autores como responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Para elaborar o relatório, os investigadores, entre os quais a ex-procuradora do tribunal da ONU para crimes de guerra Carla del Ponte, analisaram fotografias, vídeos e imagens de satélite, bem como arquivos médicos e forenses.

A equipe também analisou o caso da matança de 450 pessoas durante uma ofensiva de forças do governo sírio e combatentes do Hezbollah para retomar o controle da estratégica cidade de Qusair. Durante o cerco, foi cortado o fornecimento de comida e água e a cidade foi pesadamente bombardeada.

"Aproximadamente metade das vítimas era civil, mortas principalmente no bombardeio aéreo e ataque de artilharia contra a cidade nos primeiros dias da ofensiva", assinala o relatório.

O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu nesta terça-feira ao Congresso que adie a votação sobre a autorização de um ataque militar contra a Síria pelo uso de armas químicas, para dar tempo a um plano russo para remoção desse tipo de armamento da Síria.

Especialistas dizem ter recebido informações sobre uso de armas químicas, "predominantemente por forças do governo", mas não poderiam dar detalhes sobre os fatos, alguns dos quais estão sendo investigados por inspetores de armas da ONU há algumas semanas.

Acompanhe tudo sobre:Bashar al-AssadGuerrasMassacresPolíticosSíria

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame