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Obama faz advertências

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Em seu último discurso como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama mencionou brevemente suas conquistas nos últimos oito anos, mas passou a maior parte do tempo advertindo sobre os riscos que a desigualdade econômica, a intolerância e a polarização representam para o futuro do país. Diante de milhares de […]

Obama faz seu último discurso como presidente dos EUA, em Chicago / Jonathan Ernst/Reuters
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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 09h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Em seu último discurso como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama mencionou brevemente suas conquistas nos últimos oito anos, mas passou a maior parte do tempo advertindo sobre os riscos que a desigualdade econômica, a intolerância e a polarização representam para o futuro do país.

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Diante de milhares de simpatizantes reunidos em um centro de convenções de Chicago, cidade onde começou sua carreira política, Obama pediu que os americanos exerçam o cargo mais poderoso do país, o de cidadãos, para defender os ideais democráticos consagrados na Constituição dos Estados Unidos.

Embora tenha mencionado Donald Trump apenas uma vez, Obama refutou muitas das ideias defendidas por seu sucessor durante a campanha presidencial. Trump assume a presidência em 20 de janeiro.

“Rejeito a discriminação contra os muçulmanos americanos”, disse Obama, em uma de suas frases mais aplaudidas. “É por isso que não podemos abandonar lutas globais – para expandir a democracia, os direitos humanos, direitos das mulheres e [da população] LGBT – por mais imperfeitos que sejam nossos esforços, por mais conveniente que pareça ser ignorar esses valores.”

A democracia, disse o presidente, não requer unanimidade, mas sim “um senso básico de solidariedade”. “Quando grupos minoritários expressam descontentamento, eles não estão sendo racistas ao contrário ou politicamente corretos; quando fazem protestos pacíficos, não estão demandando tratamento especial, mas o tratamento igualitário prometido pelos nossos fundadores”, disse Obama, primeiro negro a ocupar a Presidência americana.

Obama também falou sobre os desafios da globalização e do avanço tecnológico. O núcleo dos eleitores que levaram Trump à Casa Branca é composto por brancos de classe média que viram seus empregos migrarem para o exterior e que expressaram nas urnas sua insatisfação com a distribuição desigual dos frutos da economia globalizada.

“A próxima onda de deslocação econômica não virá do exterior, mas sim da implacável onda de automação que vai provocar a obsolescência de empregos de classe média. Precisamos de um novo contrato social. De uma rede de proteção social atualizada”, afirmou. Ele também mencionou a necessidade de reformar a estrutura tributária para que empresas e cidadãos mais ricos paguem mais impostos – exatamente o contrário do que Trump promete fazer ao assumir.

O presidente falou ainda sobre a questão da imigração, um dos temas mais controversos durante a campanha presidencial do ano passado. “Se não estivermos dispostos a investir nos filhos dos imigrantes só porque eles não são parecidos conosco, vamos diminuir as perspectivas de nossos próprios filhos – porque essas crianças de pele marrom vão representar uma fatia cada vez maior da força de trabalho dos Estados Unidos”.

Obama fez referências às bolhas de informação habitadas pelas pessoas, seja no bairro, na igreja ou “especialmente nas redes sociais”. “Estamos tão seguros em nossas bolhas que começamos a aceitar somente as informações, verdadeiras ou não, que se encaixam em nossas opiniões, em vez de nos basear em evidências que estão aí.”

O democrata agradeceu a todos que participaram de seu governo: seu vice, Joe Biden, a quem chamou de irmão; sua mulher, Michelle Obama, sua “melhor amiga”, e suas duas filhas, Malia e Sasha. “Você fez da Casa Branca um lugar que pertence a todos”, disse o presidente, dirigindo-se a Michelle e enxugando uma lágrima com um lenço branco.

Apesar do tom sombrio das advertências, Obama temperou sua fala com otimismo. Ele disse que as relações raciais nos Estados Unidos estão melhores do que há “10, 20 ou 30 anos” e repetiu sua crença de que uma população engajada pode construir pontes. “Depois de oito anos como seu presidente, ainda acredito nisso. E não é só minha crença. É o coração pulsante de nossa ideia americana – nosso audacioso experimento de autogoverno.”

No final do discurso, que teve quase uma hora de duração, Obama fez um pedido, “o último pedido que faço como seu presidente”. “Peço que acreditem. Não em minha capacidade de provocar mudanças – mas na sua. Estou pedindo que se agarrem à fé que está escrita nos nossos documentos de fundação; a ideia sussurrada por escravos e abolicionistas; o espírito cantado por imigrantes e pioneiros e aqueles que marcharam pela justiça; o credo reafirmado por aqueles que plantaram bandeiras de campos de batalha no estrangeiro à superfície da Lua; um credo no centro de toda história americana ainda não-escrita: Sim, podemos. Sim, conseguimos.”

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