O sufoco dos estudantes estrangeiros no Reino Unido durante a pandemia
Sem ajuda alimentar, que distribui refeições três noites por semana, "seria difícil" para vários estudantes sobreviver entre as altíssimas taxas da universidade e o custo de vida em Londres durante a pandemia
AFP
Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 10h37.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2021 às 18h42.
É difícil comprar comida, os preços são muito mais altos do que na Índia": sem trabalho ou ajuda estatal, os jovens estudantes estrangeiros que vieram, como Jay Patel, ao Reino Unido para realizar seus sonhos, estão mergulhados na pobreza por causa da pandemia.
Apesar da chuva, dezenas de jovens como ele, com capuzes na cabeça e sacolas de compras nas mãos, aglomeram-se em frente à salinha da associação Newham Community Project, no leste de Londres, para receber arroz, alguns vegetais e outros alimentos.
"A condição para que eu viesse para o Reino Unido era não pedir dinheiro aos meus pais uma vez aqui", conta Jay Patel, de 19 anos, estudante da Greenwich University. "Não falei com meu pai sobre minha situação porque a pandemia também é difícil para eles".
Sem a ajuda deste banco alimentar, que distribui três noites por semana, "seria difícil" para ele e os seus locatários, entre as altíssimas taxas da universidade e o custo de vida em Londres: "Sem dúvida passaríamos fome".
"Eu realmente vim na hora errada", suspira.
Destino popular entre estudantes estrangeiros, o Reino Unido é o país da Europa com mais mortes pela pandemia (cerca de 120.000), mas também o que mais sofre com a crise econômica. A Inglaterra está no terceiro confinamento desde o ano passado, o que torna quase impossível encontrar um emprego.
"Necessidade enorme"
Apesar do frio e da chuva, a fila em frente à sala chega a 300 metros das 19h00 às 23h00. Os voluntários cumprimentam os regulares.
Lá dentro, ocupam-se em servir os alunos o mais rápido possível, jogando os pacotes de arroz. No chão, centenas de sacos de comida, cuidadosamente preparados com antecedência, com opções para refeições vegetarianas ou hallal.
Esta associação local, enraizada na comunidade indiana do leste de Londres, começou sua distribuição durante o primeiro confinamento, quando o Ramadã começou.
"No início distribuíamos 20 pacotes por dia", explica Elyas Ismail, seu diretor. "Em três semanas, passamos a mais de 800 alunos!"
"A necessidade é enorme. Fazemos isso há dez meses e o número continua a aumentar", acrescentou ele, estimando que agora atende cerca de 2.000 lares por semana, às vezes com apartamentos compartilhados por 15 alunos.
Os mais afetados pela crise são os jovens não europeus, que eram, de acordo com a Agência de Estatística do Ensino Superior, mais de 400.000 vindos em 2020, principalmente da China e da Índia.
No distrito de Newham, 99% dos que vêm em busca de comida são indianos: "estudantes pobres, cujos pais às vezes tiveram que vender as joias da família para fazê-los partir", lamenta Elias.
"Por causa do tipo de visto, eles não têm acesso a auxílio financeiro do governo ou das universidades”, acrescenta Aamena Ismail, voluntária de 21 anos, que acredita que "o governo deve fazer algo contra essa política injusta".
"É realmente de partir o coração. Eles vieram com suas esperanças de uma vida melhor e de repente a covid chegou e destruiu tudo", acrescenta.
"Sonhos" partidos
Este é o sentimento de Alpef Shaik, de 23 anos, que veio para o Reino Unido para realizar o "sonho" de seus pais de "receber a verdadeira educação" que eles nunca tiveram.
Seis meses após sua chegada, chegou o confinamento. "Desde então, tudo foi de mal a pior", explica o aluno de mestrado da University of East London.
Entre a falta de dinheiro, de vida social e os cursos online, "não vale a pena" vir estudar no Reino Unido neste momento, estima: "Estou pagando por um Rolls Royce, e recebo um velho Toyota".
Mohammed Ahmed, de 25 anos, vem à associação há três meses. Ele seguiu sua esposa, que estuda na BPP University.
"Tínhamos muitas expectativas em vir morar no Reino Unido e, por causa da pandemia, elas foram frustradas", suspira. "Se isso continuar, teremos que voltar para casa. Não podemos sobreviver assim".