O plano migratório proposto por senadores que desafia Trump
Um grupo de senadores republicanos e democratas revelou um compromisso na quarta-feira para proteger os "Dreamers" e aumentar a segurança na fronteira
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 09h35.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2018 às 09h35.
Washington - Com os esforços para obter um consenso para a reforma migratória por um fio, um grupo de senadores republicanos e democratas revelou um compromisso na quarta-feira para proteger os "Dreamers" e aumentar a segurança na fronteira, desafiando a dura postura do presidente americano Donald Trump .
O compromisso, alcançado após várias horas de negociações a portas fechadas, foi anunciado quando o destino de 1,8 milhão de imigrantes que chegaram crianças aos Estados Unidos entra em um momento crucial no debate sobre uma reforma migratória.
Trump aumentou a pressão na quarta-feira sobre o Senado, que deve chegar a um consenso sobre um vasto projeto de reforma da lei de imigração até sexta-feira.
Dois projetos de lei, o do presidente e o bipartidário, estão sobre a mesa.
A chave está em qual projeto conseguirá o apoio de 60 dos 100 senadores antes do fim de semana.
A medida bipartidária, que tem o apoio de oito republicanos e oito democratas, surgiu de um grupo centrista denominado "coalizão do senso comum".
"Nosso projeto de lei destaca o compromisso amplo e bipartidário para criar um caminho para a cidadania dos Dreamers, que foram trazidos a este país (por seus pais quando ainda eram crianças), enquanto se fortalece a segurança na fronteira para ajudar a deter o fluxo de imigrantes ilegais", afirmou a senadora Susan Collins, uma republicana que fundou a coalizão.
O plano de Trump, apresentado pelo senador republicano Chuck Grassley, protege os Dreamers e destina recursos para a construção de um muro na fronteira com o México, mas também acaba com a loteria de vistos de residência e restringe a reunificação familiar.
O projeto bipartidário faz mudanças limitadas à reunificação familiar, e não afeta a loteria de vistos, dois temas "tóxicos politicamente", segundo o senador republicano Lindsey Graham.
Graham disse à AFP que há um "crescente consenso" ao redor do projeto bipartidário.
"Acredito que é o que tem a melhor chance de obter os 60 votos".
Pressões
Mas apoiar a iniciativa bipartidária colocaria os congressistas republicanos contra o presidente, que exigiu que seu partido não aceite qualquer projeto diferente do seu.
"Peço a todos os senadores, dos dois partidos, para apoiar o projeto Grassley e se opor a toda legislação que não mencione os quatro pilares", afirmou o presidente em comunicado.
Isto levou a um impasse no Senado e muitos especularam sobre a possibilidade de cumprir o prazo autoimposto de sexta-feira.
Além disso, mesmo no caso de aprovação da iniciativa bipartidária pelo Senado e depois pela Câmara de Representantes, o projeto não tem chance de ser promulgado pelo presidente.
Os congressistas tentam há vários meses estabelecer um acordo para um projeto de reforma que se aproxime dos desejos de Trump, mas que assegure um futuro para os 1,8 milhão de jovens que foram levados ilegalmente ao território americano quando ainda eram crianças.
Quase 690.000 deles - conhecidos como "Dreamers" (sonhadores) - estão protegidos desde 2012 por um estatuto temporário, o decreto "Daca" de Barack Obama. Os outros não se beneficiam do programa, mas podem ser incluídos no mesmo.
Mas Trump cancelou o Daca em setembro de 2017 e deu ao Congresso prazo até 5 de março para um acordo definitivo sobre o destino de seus beneficiários.
"Se ao final da semana não conseguirmos um projeto que possa ser aprovado, a responsabilidade recairá totalmente sobre o presidente e seus aliados", advertiu o líder da minoria democrata, Chuck Schumer.
"Os americanos sabem que este presidente não apenas criou o problema, mas que também parece estar contra qualquer solução que não seja 100% o que ele quer", completou.