O presidente da Fifa, Joseph Blatter, sob chuva de dólares falsos (Arnd Wiegmann/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2015 às 15h54.
Mais uma dor de cabeça para a Fifa: a federação internacional dos jogadores de futebol quer acabar com a tradição de os clubes pagarem pela compra de talentos, que vigora há 125 anos.
A federação, conhecida como FIFPro, está disposta a financiar centenas de milhares de euros em honorários legais se um jogador concordar em desafiar as regras que sustentam um mercado de US$ 4 bilhões ao ano que permite que um clube exija o pagamento de uma taxa de transferência para liberar um jogador sob contrato, segundo uma fonte informada sobre seus planos.
A federação também começou a exercer pressão sobre autoridades da União Europeia em prol da abolição do sistema, que segundo a entidade proporciona uma menor liberdade de movimento aos jogadores em relação a outros trabalhadores, disse a fonte, que pediu anonimato porque as negociações são confidenciais.
A Fifa, órgão que administra o esporte, está se recuperando de uma investigação criminal aos seus executivos nos EUA.
É improvável que a entidade tenha apetite para uma reformulação das regras das transferências, algo que exige tempo, mesmo se houver outras formas de redistribuir a riqueza, como, por exemplo, a divisão mais igualitária da renda da televisão entre os clubes, segundo Geoff Pearson, professor de Direito da Universidade de Manchester, do Reino Unido.
“Você pode até ter um bom argumento para o fim do mercado de transferências, mas as autoridades do futebol não parecem estar interessadas”, disse Pearson, que publicou um artigo sobre o mercado de transferências.
A simples atualização das regras de transferência de jogadores, em 2001, exigiu três anos de debates, acrescentou.
Philippe Piat, presidente da FIFPro, entidade com sede em Hoofddorp, nos Países Baixos, disse em 2013 que o sistema de transferências -- que remonta ao futebol inglês de 1890 e foi criado para compensar os clubes que perdiam seus jogadores para rivais mais ricos -- “é um fracasso para 99 por cento dos jogadores”.
Entre os atletas mais afetados estão os de alguns países do Leste Europeu, que não têm liberdade para se movimentarem, mesmo que não tenham recebido salários durante seis meses, disse a fonte.
A FIFPro quer que os jogadores possam se transferir depois de notificarem os clubes com um ou dois meses de antecedência.
Escândalo de subornos
Atualmente, a Fifa -- fundada em 1904 -- está lidando com o maior escândalo de sua história. Em maio, a polícia suíça prendeu sete autoridades do futebol -- dentre elas dois vice-presidentes da Fifa -- a pedido de procuradores dos EUA que os acusavam de suborno e outros crimes.
Na semana seguinte, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, que não teve envolvimento no caso, disse que encerraria seu mandato de 17 anos dentro de nove meses. Posteriormente, foi programada uma eleição para escolha de seu sucessor para o dia 26 de fevereiro.
A Fifa disse em um e-mail que está trabalhando com a FIFPro e com outras associações futebolísticas para melhorar o sistema e que avançou em relação às medidas propostas para garantir o pagamento imediato e a resolução rápida de litígios.
A entidade não respondeu imediatamente se estudaria a abolição do sistema de transferências.
Contudo, se os pagamentos de transferências forem abolidos, isso poderia tornar a desigualdade ainda pior, porque muitos clubes dependem desse dinheiro para manter seu modelo de negócio, segundo Ariel Reck, advogado de Buenos Aires.
O River Plate, por exemplo, deverá ganhar até US$ 16 milhões com a negociação de dois jogadores -- Ramiro Funes Mori e Matías Kranevitter -- para o Everton e o Atlético de Madrid, respectivamente, disse Reck, por e-mail.
O valor representa duas vezes e meia o que uma das principais equipes da Argentina recebe por ano com direitos de televisão.