Novo presidente do México, Obrador deve enfrentar desafios econômicos
O político de esquerda conhecido pela sigla AMLO assumirá a presidência por um período de seis anos após uma grande vitória eleitoral
AFP
Publicado em 30 de novembro de 2018 às 12h26.
Última atualização em 30 de novembro de 2018 às 12h49.
Andrés Manuel López Obrador chega neste sábado à presidência do México, a segunda maior economia da América Latina, entre altas expectativas dos eleitores, mas também com a incerteza dos investidores e dos mercados financeiros.
O veterano esquerdista de 65 anos assumirá a presidência por um período de seis anos após uma grande vitória eleitoral, embora algumas de suas decisões durante o governo de transição, que durou cinco meses, tenham abalado os mercados.
Após sua vitória em 1º de julho, ele prometeu manter o equilíbrio macroeconômico e respeitar a autonomia do Banco Central do México, tranquilizando os investidores.
No entanto, sua decisão de cancelar a construção de um novo aeroporto na Cidade do México - uma obra que custaria 13 bilhões de dólares e que ele chamou de "faraônica" - apoiada por uma controversa consulta pública, provocou reação adversa nos mercados e reclamações entre os empresários.
Após o anúncio do cancelamento no final de outubro, a bolsa mexicana despencou 4,2%, enquanto o peso mexicano caiu mais de 3%.
Reação das agências de classificação
A decisão também perturbou as agências de classificação de risco. A Fitch rebaixou a perspectiva da nota BBB+ do México, justificando que o cancelamento do aeroporto enviava "um sinal negativo para os investidores".
A Moody's manteve a nota do México em A3, mas apontou a incerteza após a decisão.
López Obrador, conhecido como AMLO por suas iniciais, respondeu por meio de um vídeo que "não havia nada a temer" e acusou "uma campanha de instabilidade". Além disso, se reuniu com funcionários do aeroporto.
No entanto, dias depois, em 11 de novembro, o mercado financeiro mexicano afundou quase 6% após o anúncio de uma proposta do Morena, partido de AMLO, de limitar as taxas cobradas pelos bancos.
Depois, as ações das principais mineradoras do país, como Grupo México - um dos maiores produtores de cobre do mundo - caíram frente a outra iniciativa do Morena para endurecer as exigências sociais e ambientais necessárias para a outorgar concessões.
No final de novembro, López Obrador conduziu outra consulta sobre um trem turístico na península de Yucatán e outros programas sociais, obtendo apoio quase total dos quase 950 mil eleitores.
Incerteza
Especialistas temem pelo futuro do investimento devido à maneira como o governo López Obrador tomará decisões.
"A incerteza sobre as decisões políticas do próximo governo podem ter um impacto sobre o investimento, tanto interno quanto externo", disse Carlos Serrano, economista-chefe do banco espanhol BBVA Bancomer, à AFP.
Serrano não é o único preocupado. Ao elevar a taxa básica de juros para 8% em meados de novembro, o Banco do México reconheceu a preocupação dos participantes do mercado com as políticas do novo governo.
Edward Glossop, economista da Capital Economics, aponta que há um temor quanto a uma "política fiscal que seja afrouxada agressivamente" e que "contratos energéticos sejam revogados (seja por uma consulta ou com mudanças nas leis do Congresso)".
Para Philip Waechter, economista-chefe da Ostrum Asset Management, empresa de investimentos que administra cerca de 265 bilhões de euros, a incerteza sobre o novo governo pode ser de curta duração.
"Provavelmente, uma vez no poder, após um período de ajuste, as coisas serão diferentes, é isso que vemos em grandes economias. A incerteza sobre Obrador pode ser de curto prazo."
Atenção ao orçamento
A atenção do mercado está agora no orçamento que será apresentado pela equipe de López Obrador - liderado por Carlos Urzúa, futuro secretário do Tesouro - no mais tardar em 15 de dezembro.
"Se for um pacote econômico confiável, pode acabar parcialmente (com a incerteza)", mas "parte da incerteza tem a ver não apenas com isso, mas também com as dúvidas geradas nestas consultas", acrescenta Serrano do BBVA Bancomer.
"O importante está nos detalhes. O objetivo do superávit primário é inconsistente com a promessa de campanha de aumentar os gastos do governo e não aumentar os impostos", indica a Capital Economics em um relatório.
López Obrador procurou novamente esta semana tranquilizar os investidores.
"Aqueles que investem em empresas, em ações, no mercado financeiro, terão esses investimentos segurados e obterão bons retornos", garantiu o futuro presidente em uma mensagem nas redes sociais.
"Haverá um autêntico Estado de Direito, não haverá expropriações, atos arbitrários, acabaremos com a corrupção", acrescentou.
Por enquanto, o Banco do México reduziu a previsão de crescimento para o México em 2019 - o primeiro ano de López Obrador no poder - para entre 1,7% e 2,7%.