Nove países sul-americanos condenam tentativa de golpe na Bolívia
Posição une Lula, o presidente da Argentina, Javier Milei, e os principais líderes da região
Agência de notícias
Publicado em 27 de junho de 2024 às 18h11.
Última atualização em 27 de junho de 2024 às 19h29.
Os países do Mercosul, incluindo membros plenos e associados, divulgaram uma nota nesta quinta-feira em que manifestam preocupação e condenam as mobilizações de algumas unidades do Exército boliviano que tentaram um golpe de Estado no país vizinho, na quarta-feira. O texto adverte que a movimentação, sufocada com a troca do comando das Forças Armadas da Bolívia, fere os princípios internacionais democráticos.
A nota foi assinada pelos líderes de todos os países, o que demonstra um cenário de coesão em defesa da democracia, não importando os regimes de governo. Por exemplo, foram signatários os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o argentino Javier Milei, de esquerda e ultradireita, respectivamente, que jamais se cumprimentaram.
O comunicado também traz a assinatura de Uruguai e Paraguai, como membros plenos; e Chile, Colômbia, Bolívia, Equador e Peru; como associados.
No comunicado, os países sul-americanos “rejeitam qualquer tentativa de mudança de poder por meio da violência e de forma inconstitucional que atende contra a vontade popular, soberania, autodeterminação dos povos e que vulnerabilize a estabilidade política e social do país irmão”.
Os nove países também expressaram solidariedade e “irrestrito apoio” ao governo do presidente da Bolívia, Luis Arce. Defenderam a manutenção da democracia e a plena vigência do Estado de direito.
O Mercosul tem uma cláusula democrática, que prevê punições a países que rompem com os princípios democráticos. Foi o que aconteceu com a Venezuela, em 2016, suspensa até hoje do bloco. A nação perde o direito de participar de acordos de preferências comerciais e de decisões sobre os rumos do bloco.
Entenda a tentativa de golpe
O general Juan José Zúñiga, apontado como o responsável pela tentativa fracassada de golpe de Estado na Bolívia, foi preso na noite de quarta-feira, horas após ter declarado à imprensa que "a mobilização de todas as unidades militares" busca expressar seu descontentamento "com a situação do país".
"Já basta. Não pode haver essa deslealdade", afirmou.
Zúñiga teria chegado ao local em um blindado e armado, segundo jornais bolivianos. A imprensa local começou a relatar a presença de blindados e de militares em torno da sede do governo, na Praça Murillo, por volta das 16h30 (horário de Brasília). Em vídeos que circulam pelas redes sociais, é possível ver o momento em que um blindado avança contra o palácio e tenta derrubar uma porta metálica.
O presidente Luis Arce, que momentos antes tinha denunciado "mobilizações irregulares", convocou os bolivianos a se mobilizarem. Ele confrontou o general, que entrou no palácio presidencial após um blindado ter derrubado a porta, afirmando que não iria "permitir essa insubordinação".
Os militares lançaram gás lacrimogêneo e balas contra um grupo de cidadãos que gritavam "Lucho [ apelido do presidente ], você não está sozinho". Países da América Latina e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também saíram em defesa das lideranças bolivianas, e exigiram respeito aos valores democráticos.
Às pressas, Arce jurou uma nova liderança militar, nomeando José Sánchez Velázquez como o novo comandante do Exército. Desde terça-feira, já circulavam rumores sobre a possível destituição de Zúñiga após suas declarações sobre a possível candidatura do ex-presidente Evo Morales em 2025. Em uma entrevista, o general disse que Morales "não pode mais ser presidente deste país".
Sánchez, ao tomar a palavra, ordenou o regresso dos militares que estavam na praça às suas unidades. Pouco depois, os soldados começaram a deixar as imediações da sede do governo. Nesta quinta-feira, 17 pessoas, incluindo militares ativos e reformados, foram detidas nesta quinta pela suposta ligação com a tentativa de golpe.
Zúñiga irá responder pelos crimes de levante armado contra a segurança e soberania do Estado, sedição de tropas e ataque ao presidente e outros dignitários, que podem render penas de até 20 anos de prisão.