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Novas inundações no Paquistão deixam 1 milhão de desabrigados

Informações da ONU mostram que enchentes no sul do país aumentaram nos últimos dois dias

As autoridades evacuam nesta sexta-feira a cidade de Tatta, de 300.000 habitantes, ameaçada pela cheia do rio Indo, no sul do país (AFP/Arif Ali)

As autoridades evacuam nesta sexta-feira a cidade de Tatta, de 300.000 habitantes, ameaçada pela cheia do rio Indo, no sul do país (AFP/Arif Ali)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Islamabad - Um mês depois do começo das inundações no Paquistão, a catástrofe segue se agravando a cada dia, com novos rios transbordando, desta vez na parte sul do país, onde um milhão de pessoas tiveram que deixar seus lares nas últimas horas.

As águas invadiram os campos da província sudeste de Sindh, onde represas, canais e muros de proteção, incapazes de conter o enorme fluxo do rio Indo, foram danificados.

Segundo a ONU, nas últimas 48 horas 1 milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas por causa das novas inundações em uma área entre os distritos de Qambar-Shahadadkot e Thatta, ou seja, do norte ao sul pela margem esquerda do Indo até a sua chegada ao Mar da Arábia.

"Um desastre que já é colossal está ficando ainda pior, por isso é preciso uma resposta colossal. A magnitude desta crise está alcançando níveis que vão além dos temores iniciais", advertiu o organismo.

As autoridades alertaram sobre a necessidade de seguir evacuando a população das áreas mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que as organizações humanitárias pedem à comunidade internacional que impulsione o ritmo das doações, que voltou a diminuir.

Em entrevista coletiva em Islamabad, um porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Maurizio Giuliano, fez questão de lembrar hoje que nos últimos dias "não se arrecadou nada".

Giuliano explicou, além disso, que o marco de ação do plano de emergência da ONU foi ampliado de três para seis meses. Por enquanto a organização recebeu US$ 290 milhões dos quase 460 milhões solicitados para proporcionar comida, água potável, abrigo e atendimento médico e sanitário para os 8 milhões de desabrigados pelas enchentes que estão em pior situação.

Alguns países e instituições enviaram ajuda para outras ONGs ou diretamente para o Governo. Assim, estima-se que entre promessas e contribuições consumadas, o Paquistão conseguiu US$ 800 milhões até agora.


As inundações, que já alagaram 160 mil quilômetros quadrados do território (20%), estão fazendo com que a desnutrição infantil e as doenças entre os desabrigados disparem. Já foram registrados mais de 430 mil casos de diarréia, 609 mil de infecções cutâneas e 71,4 mil de malária.

Uma fonte do serviço secreto paquistanês (ISI) admitiu hoje que a estratégia do Paquistão na luta contra o terrorismo poderia ser muito afetada.

"Nestes momentos, a prioridade das autoridades é destinar todos os recursos para proporcionar assistência aos desabrigados. Isto é uma crise a longo prazo, e pode afetar bastante à guerra contra o terrorismo", disse à Agência Efe um funcionário do ISI.

O Exército paquistanês tem 60 mil soldados espalhados pelo país. Eles participam ativamente nos trabalhos de resgate e assistência, e 60 helicópteros militares estão sendo utilizados atualmente para estes trabalhos.

Segundo a fonte, o Exército e o Governo continuam "comprometidos" na luta contra a insurgência talibã e as operações militares no conflituoso noroeste "seguem em andamento", mas a atenção das autoridades foi desviada para os assuntos prioritários.

Muitos analistas acham que a crise está permitindo que os fundamentalistas se reorganizem. Em Washington acredita-se que os talibãs planejam cometer atentados contra os trabalhadores estrangeiros das organizações humanitárias envolvidos no auxílio aos desabrigados.

"Este tipo de comentário (sobre a atividade dos insurgentes) buscam perturbar a ajuda", lamentou a fonte do ISI que, no entanto, reconheceu que as forças de segurança estão em alerta, pois "o risco" de ataques "sempre está aí".

Por sua vez, a ONU reafirmou hoje através de Giuliano seu "empenho em salvar vidas" sem medo das ameaças dos talibãs e ressaltou que "até agora a segurança não foi um obstáculo".

As piores inundações no território nos últimos 80 anos deixaram pelos menos 1,6 mil mortos e entre 17,2 e 20 milhões de desabrigados desde o fim de julho.

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