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Nova York reelege o anti-Trump

Democrata Bill de Blasio defende direitos de mulheres e imigrantes e refugiados e a manutenção, e não o corte, dos impostos

DE BLASIO EM WALL STREET: embora ainda tenha pouca projeção nacional, de Blasio poderia estar se posicionando como um possível candidato à Presidência / Drew Angerer/Getty Images (Drew Angerer/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2017 às 07h52.

Última atualização em 11 de novembro de 2017 às 09h58.

NOVA YORK – Bill de Blasio foi reeleito com folga na terça-feira para um segundo mandato como prefeito de Nova York. Foi a primeira reeleição de um candidato do Partido Democrata para a prefeitura da maior cidade americana em mais de 30 anos. De Blasio, um autodeclarado “progressista”, obteve 66% dos votos, contra 28% para sua adversária, a republicana Nicole Malliotakis. A vitória do democrata reflete a pouca expressão de sua principal adversária e também a confirmação de que o presidente Donald Trump não é nem um pouco popular em sua cidade natal. “Esse é o começo de uma nova era de liderança democrática progressista em Nova York, por anos e anos”, afirmou de Blasio na festa da vitória, realizada no Brooklyn Museum.

De Blasio, 56, tem uma série de problemas complicadíssimos para resolver, ou pelo menos mitigar, nos próximos quatro anos – tanto no âmbito da cidade quanto no delicado relacionamento com o governo federal. Mas, como fez durante a campanha, o prefeito deixou clara sua posição em relação a Washington. “Hoje, Nova York manda uma mensagem para a Casa Branca”, disse de Blasio. “Nossa mensagem é: você não pode enfrentar os valores de Nova York e sair vencedor, senhor presidente.” O maior risco, nas palavras do prefeito, não está na própria cidade, mas 300 quilômetros ao sul, pela rodovia I-95, em referência à estrada que corre a Costa Leste americana.

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Na reta final da campanha, de Blasio mirou especificamente no ambicioso plano de corte de impostos apresentado por Trump. Entre as medidas propostas está o fim de deduções tributárias no nível estadual e municipal, o que tornaria inevitável um corte dos impostos. “Isso significa menos proteção da polícia. Isso significa esperar mais pela ambulância. Isso significa salas de aula mais lotadas”, escreveu de Blasio num artigo publicado dias antes da eleição no site Business Insider. “Os republicanos poderiam simplesmente pedir que os trabalhadores nova-iorquinos sacassem 1.000 dólares no caixa eletrônico e procurassem um gestor de fundo de hedge para entregar o dinheiro.”

Embora ainda tenha pouca projeção nacional, de Blasio poderia estar se posicionando como um possível candidato à Presidência, dizem observadores da política americana. Em todas as oportunidades possíveis, ele deixa claro que é o anti-Trump: em defesa dos direitos das mulheres, dos imigrantes e dos refugiados de guerra. Durante a campanha pela prefeitura, de Blasio tentou jogar o presidente no colo dos adversários. O prefeito não é nem de perto um campeão de popularidade — ele torce para os Red Sox, time de beisebol de Boston arquirrival dos Yankees de Nova York, e foi flagrado comendo pizza de garfo e faca, uma gafe imperdoável na cidade —, mas diante do bufão Trump sua imagem ganha lustro especial.

Antes de sonhar com o cenário nacional, entretanto, o prefeito terá de arrumar a casa. O problema mais visível da cidade é o da população sem-teto. Neste ano, quase 130.000 pessoas diferentes passaram pelo menos uma noite em albergues municipais, segundo a organização não-governamental Coalition for The Homeless. Nos últimos dez anos, a ocupação dos albergues municipais aumentou 74%. A cidade não registrava tantos sem-teto desde a Grande Depressão dos anos 1930. Nova York vive um boom imobiliário, com a construção de diversos edifícios residenciais e comerciais de luxo. Mas é cada vez mais difícil encontrar moradias de preço acessível.

“Obviamente não estou contente com a situação”, disse de Blasio em entrevista ao jornal Daily News, falando sobre o problema dos sem-teto. “Acabar com o problema em Nova York, não sei como nem quando isso vai acontecer. Certamente isso acontece tragicamente em outras cidades. Estamos falando de uma longa guerra”, afirmou o prefeito. A cidade gasta 1,2 bilhão de dólares anuais para lidar com a população sem-teto, e ainda assim a estrutura é insuficiente. O plano de de Blasio é construir 90 novos albergues municipais — desde que ele consiga vencer a oposição dos moradores dos bairros onde a cidade quer instalá-los.

Outra questão urgente na maior cidade americana é o transporte público, especialmente o metrô, uma das maiores reclamações dos habitantes da cidade. Embora a Metropolitan Transportation Authority, responsável pelo sistema do metrô, seja uma empresa do Estado, parte dos custos é compartilhada com o município — que sofre 100% dos problemas, como atrasos, falta de manutenção e recentes acidentes graves. De Blasio propôs um “imposto sobre os milionários” para pagar a conta do metrô, um dos mais antigos do mundo. Mas o governador do Estado, seu colega de partido Andrew Cuomo, é contra a ideia e disse que um aumento de impostos jamais seria aprovado pelo Senado de Nova York.

Eventuais ambições nacionais de de Blasio também dependerão de uma capacidade de mobilizar eleitores, algo que ele não foi capaz de fazer nem sequer na cidade que governa. Apesar da margem expressiva da vitória do democrata, os números contam uma história um pouco mais complicada. Dos 4,5 milhões de eleitores registrados da maior cidade americana, somente 21,7% compareceram às urnas. Ou seja, de Blasio foi eleito com o apoio de apenas 14% dos eleitores. O fato de a eleição acontecer num dia de semana – como é tradicionalmente o caso no país – certamente contribui para o alto índice de abstinência. Mas o total de eleitores que se dão ao trabalho de votar nas eleições municipais de Nova York vem caindo a cada quatro anos.

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