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Por que alguns jihadistas estão deixando o Estado Islâmico

Um estudo do The International Centre for the Study of Radicalisation and Political Violence investigou os principais motivos de deserção do EI. Veja aqui


	O piloto jordaniano Maaz al-Kassasbeh é visto em cela antes de ser morto pelo EI: assassinato aleatório de reféns é um dos motivos que levam muitos combatentes a abandonarem o grupo
 (Social media via Reuters)

O piloto jordaniano Maaz al-Kassasbeh é visto em cela antes de ser morto pelo EI: assassinato aleatório de reféns é um dos motivos que levam muitos combatentes a abandonarem o grupo (Social media via Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 22 de setembro de 2015 às 09h32.

São Paulo – Números recentes compilados pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mostraram que o grupo extremista Estado Islâmico (EI) conta com cerca de 25 mil combatentes estrangeiros de 100 diferentes países em seu quadro de recrutas.

O relatório, divulgado no início do ano pela agência de notícias Associated Press, constatou ainda que o número de pessoas que decidiram se envolver nessa batalha aumentou em 71% entre meados de 2014 e março de 2015.

Mas um estudo realizado pelo The International Centre for the Study of Radicalisation and Political Violence, um centro de pesquisa ligado a universidades prestigiadas como a britânica King’s College London, revelou um novo e cada vez mais frequente fenômeno que atinge o grupo em suas entranhas: há combatentes que estão voltando atrás no apoio ao EI e optando por abandoná-lo.

Divulgado na semana passada, o estudo investigou as trajetórias de 58 pessoas, homens e mulheres, que deixaram o EI e falaram publicamente sobre as razões da ida para a Síria ou Iraque e também os motivos que os fizeram desistir de apoiar o grupo e voltar para casa.

Veja abaixo as quatro principais razões de deserção:

1 – Lutas internas

Uma das maiores críticas é em relação aos confrontos com outros grupos rebeldes. “Lutar contra o regime de Bashar al-Assad não parecia uma prioridade”, mostrou o estudo.

Ao que parece, a obsessão dos líderes do EI em combater grupos rebeldes como o Exército Livre da Síria ou o Jabhat Al-Nusra, afiliado da rede Al Qaeda, foi visto pelos desertores como uma estratégia “errada, contraproducente e ilegítima do ponto de vista religioso”.

De acordo com eles, não era esse tipo de luta que eles tinham em mente quando resolveram se juntar ao EI no Iraque ou na Síria.

2 – A violência contra os muçulmanos sunitas

Outro ponto levantado pelos desertores investigados pelo estudo é a violência e a forma brutal com a qual o EI lida com civis. Em seus testemunhos, mostrou o estudo, muitos criticaram as operações que eram conduzidas sem qualquer tipo de preocupação e que, muitas vezes, acabavam com as mortes de dezenas de crianças e mulheres.

Uma observação da pesquisa é que, para a maioria dessas pessoas, as críticas não tinham relação com a matança de membros de minorias e sim quando as vítimas eram muçulmanos sunitas.

Contudo, muitos desertores disseram ainda que os assassinatos aleatórios de reféns, os maus tratos reservados aos moradores de pequenos vilarejos e a execução de combatentes do grupo por seus próprios comandantes também os ajudaram a tomar a decisão de deserção.

3 - Comportamentos em desacordo com a fé islâmica

Um terceiro ponto levantado com frequência pelos desertores que abandonaram o EI era a forma como muitos comandantes tratavam seus combatentes. Os sírios, especificamente, reclamavam que estrangeiros eram sempre privilegiados nas decisões da alta cúpula do grupo.

Muitos disseram ainda que eram comuns comportamentos injustos, desiguais e citaram até mesmo casos de racismo. “A maioria dos desertores consideraram que comandantes mais antigos do EI teriam falhado em sua promessa central: a de formar uma sociedade islâmica perfeita”.

4 – Qualidade de vida

O estudo constatou ainda que alguns dos desertores se juntaram ao grupo por razões “egoístas e materiais” e que logo se desapontaram com a qualidade de vida que teriam de enfrentar na Síria e no Iraque.

Durante o processo de recrutamento, militantes ludibriam potenciais combatentes com a promessa de que teriam acesso a itens de luxo e carros importados. Ao perceberem que nada disso se concretizaria, se frustravam.

Houve também casos de pessoas que desejavam experimentar a vida em combate e ter a chance de realizar atos heroicos. Estes, contudo, decidiram abandonar o EI ao perceber que seriam encaminhados para missões suicidas.

A pesquisa reconhece que a quantidade de entrevistas é pequena perto do número real de desertores. Mas lembra que "suas histórias podem ser a chave para tentar interromper o fluxo de combatentes estrangeiros, contrapondo a propaganda do grupo e expondo as mentiras que contam”. 

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