Nobel da Paz deveria deixar governo de Mianmar, diz ONU
O comissário disse que Aung San Suu Kyi, que dirige o governo de Mianmar, deveria deixar o cargo contra a limpeza étnica dos rohingyas feita pelo exército
AFP
Publicado em 30 de agosto de 2018 às 11h27.
Última atualização em 30 de agosto de 2018 às 11h33.
A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, que dirige o governo civil de Mianmar , deveria se afastar do cargo em protesto contra a limpeza étnica dos muçulmanos rohingyas pelo Exército nacional - declarou nesta quinta-feira (30) o alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al-Hussein.
"Poderia não ter dito nada, ou melhor ainda, renunciar", disse Zeid Ra'ad Al-Hussein em entrevista à BBC.
Aung San Suu Kyi defendeu a atuação do Exército birmanês na crise e denunciou o "iceberg da desinformação" na imprensa internacional sobre o assunto.
Na quarta-feira, Mianmar protestou contra as conclusões dos investigadores das Nações Unidas que acusaram o Exército birmanês de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra contra os rohingyas.
"Não autorizamos à MEF (Missão de Estabelecimento dos Fatos da ONU) a entrar em Myanmar e, por isto, não aceitamos qualquer resolução do Conselho de Direitos Humanos", disse o porta-voz Zaw Htay, acrescentando que será criada uma "comissão de investigação independente" por parte de Mianmar para responder às "falsas acusações das agências da ONU".
O relatório dos investigadores da ONU pede ao Conselho de Segurança que envie a situação de Mianmar à Corte Penal Internacional de Haia, ou que se crie um Tribunal Penal Internacional especial, como foi feito para a antiga Iugoslávia.
Ao menos 700 mil rohingyas fugiram do norte do estado de Rakhin para Bangladesh depois de o governo birmanês lançar uma brutal repressão, em agosto do ano passado, contra rebeldes, em meio a relatos de incêndios, assassinatos e estupros praticados por soldados e máfias deste país majoritariamente budista.
O governo civil permanece firme, desde 2017, na defesa dos militares, uma força política poderosa com a qual a ex-dissidente tenta trabalhar desde que chegou ao poder, em 2016.