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Negociador europeu adverte Londres que Brexit não será indolor

Michel Barnier chamou a atenção para um contexto de tensão para ambos os lados do canal da Mancha

Brexit: May se defendeu assegurando que será uma "mulher condenadamente difícil" nas negociações (Jeff J Mitchell/Getty Images)
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AFP

Publicado em 3 de maio de 2017 às 15h34.

Última atualização em 3 de maio de 2017 às 15h35.

O negociador europeu para o Brexit , Michel Barnier, advertiu nesta quarta-feira ao Reino Unido que as negociações de divórcio não serão "rápidas nem sem dor", em um contexto de tensão para ambos os lados do canal da Mancha.

"Alguns criam a ilusão de que o Brexit não terá um impacto material em nossas vidas ou de que as negociações podem encerrar-se rapidamente ou sem dor", disse em entrevista coletiva Barnier, que, como negociador da Comissão Europeia, liderará as negociações em nome dos 27.

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Londres não demorou a reagir. A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou que alguns em Bruxelas não querem que as negociações do Brexit evoluam bem e acusou a UE de ingerência nas eleições britânicas antecipadas para 8 de junho.

Essa nova troca de declarações chega em um contexto já tenso após a revelação dos detalhes do indigesto jantar entre May e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Juncker concluiu o jantar com a primeira-ministra muito mais pessimista em relação a uma eventual saída ordenada do Reino Unido e estimando que May "vive em outra galáxia", segundo o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Na terça-feira, May se defendeu assegurando que será uma "mulher condenadamente difícil" nas negociações, uma descrição sobre ela utilizada anteriormente por um companheiro de partido, e negando que vive "em uma galáxia diferente".

"Respeito profundamente a primeira-ministra britânica, gosto dela como pessoa. Disse que ela é uma mulher firme", respondeu nesta quarta-feira o presidente da Comissão Europeia em Bruxelas.

100 bilhões de euros

As negociações parecem encaminhadas para complicarem-se em torno da questão da fatura a ser paga por Londres, uma das prioridades estabelecidas pelos mandatários europeus em suas orientações políticas do sábado passado e que Bruxelas recolhe em suas recomendações divulgadas nesta quarta-feira.

Barnier expressou também nesta quarta-feira que asão um "castigo", mas que se trata "unicamente" de "saldar contas" em relação aos compromissos adquiridos pelo Reino Unido no financiamento dos programas plurianuais da UE que correm até 2020.

Fontes europeias estimam esta fatura em aproximadamente 60 bilhões de euros, enquanto o jornal Financial Times indicou que pode chegar a até "100 bilhões de euros" caso considerem os pedidos de Alemanha e França, especialmente sobre subsídios agrícolas.

De acordo com o negociador europeu, até o momento não existe nenhum número, mas ele será calculado utilizando uma "metodologia". "Nunca se tratou de pedir ao Reino Unido um cheque em branco", trata-se de "saída ordenada com contas a liquidar", reiterou Barnier.

O ministro britânico para o Brexit, David Davis, afirmou que o Reino Unido não pagará "100 bilhões de euros" à UE, eadvertiu que, em caso de um divórcio sem acordo com os 27, "não haverá nada a pagar".

Essas declarações não caíram muito bem em Bruxelas. O presidente da Comissão Europeia disse que Davis se equivoca "quando ameaça estar disposto a sair" das negociações, já que sua experiência em política lhe diz que "aqueles que vão embora precisam voltar".

Viver, trabalhar, estudar

As outras prioridades para os europeuos na primeira fase das negociações com Londres são garantir os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e vice-versa, assim como evitar a volta de uma fronteira física entre Irlanda e a britânica Irlanda del Norte.

O negociador europeu buscará garantir o direito à residência permanente após cinco anos de residência legal, mas advertiu que os direitos também incluem o acesso ao mercado de trabalho, à educação e à saúde.

Com a publicação dessas recomendações, Bruxelas avança em seu objetivo de que a UE esteja pronta para negociar a partir de 22 de maio, mas a negociação formal começará após as eleições antecipadas de 8 de junho no Reino Unido convocadas por May com o objetivo de se fortalecer para a negociação.

Depois de lançar o processo de divórcio, o Reino Unido deve se tornar no primeiro trimestre de 2019 o primeiro país a abandonar o projeto europeu. A incógnita é se ele o fará com um acordo fechado com seus sócios europeus, especialmente quando o jantar entre May e Juncker reflete a complexidade das negociações que estão por vir.

Londres quer negociar simultaneamente o divórcio e o âmbito das futuras relações com a UE, algo que os europeus se opõem a fazer se não forem registrados avanços nas três prioridades apontadas pelo bloco.

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