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Negociações terminam sem acordo para consolidar trégua na Síria

Os 3 países garantidores da trégua - Rússia, Turquia e Irã - decidiram encerrar a reunião, sem esperar a chegada de líderes dos grupos rebeldes

Síria: os três países garantidores entraram em acordo para voltarem a se encontrar na capital cazaque, nos dias 3 e 4 de maio (Khalil Ashawi/Reuters)
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EFE

Publicado em 15 de março de 2017 às 15h46.

Astana - A terceira rodada de negociações sobre a trégua na Síria , boicotada pela oposição armada, terminou nesta quarta-feira em Astana, a capital do Cazaquistão, sem nenhum acordo que pudesse ajudar a consolidar o cessar-fogo vigente desde dezembro no país árabe.

Embora o Ministério das Relações Exteriores do Cazaquistão tivesse anunciado de manhã que os líderes de alguns grupos armados tinham intenção de viajar a Astana, os três países garantidores da trégua - Rússia, Turquia e Irã - decidiram dar por encerrada a reunião, sem esperar por sua chegada.

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No entanto, ficaram na capital cazaque integrantes de menor categoria de suas delegações para que possam se reunir amanhã com os opositores, desde que estes não cancelem a viagem.

"Há forças que não querem apenas minar os processos de Astana e Genebra, mas desejam impedir qualquer possibilidade de diálogo. Há forças que apostam pela via militar para resolver o conflito sírio", denunciou o chefe da delegação russa nas negociações, Alexander Lavrentiev.

O sírio Bashar Jafaari, chefe da delegação enviada pelo governo de Damasco, acusou diretamente a Turquia de "colocar impedimentos" às negociações e exigiu que o governo turco "responda como país mediador" do cessar-fogo pela ausência da oposição.

O chefe da delegação opositora nas negociações de Astana, Mohammed Alloush, enumerou ontem oito razões para justificar o boicote, mas destacou como a principal a evacuação forçada do bairro de Al Waer, a única região com presença insurgente na cidade central de Homs.

Também acusou Moscou e Damasco de descumprirem muitas de suas promessas incluídas no acordo da trégua: o fim dos bombardeios contra posições da oposição, a libertação de presos e o fim das ações militares em Ghouta Oriental (região de Damasco), entre outras.

Com a exceção da primeira reunião realizada em janeiro, o formato de Astana se revelou até agora insuficiente para consolidar o fim das hostilidades, talvez porque o regime de Bashar al Assad tenha vencido a oposição no terreno militar e a deixou quase sem forças para fazer exigências.

A Rússia, que assumiu o papel de intermediário entre Síria e Irã, por um lado, e a Turquia - a grande fiadora da oposição armada - por outro, tenta impor uma agenda que não deixa resquício para as reivindicações dos grupos em confronto com Damasco.

Moscou mantém o empenho de pôr sobre a mesa sua minuta de Constituição para a Síria, que abre a porta para que Assad permaneça por mais dois mandatos no poder, enquanto a oposição exige a criação de um governo de transição e a renúncia do líder sírio.

O Kremlin também estabelece como prioridade a elaboração de um mapa no qual sejam estabelecidas as posições da oposição moderada e dos grupos jihadistas Estado Islâmico e Frente da Conquista do Levante (antiga Frente al Nusra), que estão excluídos da trégua.

"Levamos um ano e meio tentando separar as posições da oposição moderada das da Frente al Nusra. As conversas sobre este tema continuam", disse Lavrentiev sobre o assunto, ao garantir que, durante esta terceira rodada em Astana, a Turquia proporcionou "informação precisa" para elaborar o mapa.

Alguns grupos da oposição moderada, que chegaram a combater lado a lado com as milícias da Frente al Nusra (antigo braço sírio da Al Qaeda), parecem ter reservas para delatar seus antigos companheiros.

"Tentamos convencer a oposição armada síria que nos prestasse socorro para determinar a localização das unidades da (Frente) al Nusra", ressaltou o chefe da delegação russa.

Quanto aos outros assuntos e diante do boicote da oposição, a terceira rodada de negociações em Astana se limitou a novas consultas sobre questões como a troca de prisioneiros, a criação de uma comissão para redigir a Constituição e a cooperação internacional na remoção de minas em Palmira.

Em seu comunicado final, os três países garantidores entraram em acordo para voltarem a se encontrar na capital cazaque, nos dias 3 e 4 de maio, e para realizarem uma reunião de especialistas em Teerã, nos dias 18 e 19 de abril.

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