Na Polônia, festa da independência vira marcha da extrema-direita
Ao menos 60 mil pessoas se reuniram em Varsóvia em manifestação. Participantes cantavam "Polônia branca" e carregavam faixas pedindo "holocausto islâmico"
Gabriela Ruic
Publicado em 14 de novembro de 2017 às 14h17.
Última atualização em 14 de novembro de 2017 às 14h27.
São Paulo – O dia 11 de novembro é conhecido na Polônia como o marco da independência do país. Há alguns anos, no entanto, tornou-se uma espécie de data comemorativa para movimentos nacionalistas. Neste ano, não foi diferente: ao menos 60 mil pessoas se reuniram nesta demonstração que vem sendo considerada a maior da Europa nos últimos anos.
O cenário, descreveu o site Politico, era assustador e contou com milhares de manifestantes, muitos com os rostos cobertos, marchando em meio a uma fumaça vermelha pelas ruas pela capital polonesa Varsóvia, a cidade que abrigou o maior gueto judaico nos tempos da Alemanha nazista. Hoje, sabe-se que ao menos 700 mil judeus foram mortos na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial.
Demonstrações xenófobas, anti-semitas, anti-muçulmanos e anti-LGBT estavam por todos os lados e foram registrada por repórteres que cobriam a movimentação. “A Europa será branca ou ficará inabitada”, “Sangue puro e mente pura” foram alguns dos cartazes vistos pela agência Reuters. Segundo o Politico, milhares cantaram por uma “Polônia branca” e seguravam faixas em prol do “holocausto islâmico”.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a marcha foi composta por pessoas e líderes nacionalistas de diferentes partes da Europa. Entre eles, Stephen Lennon, do grupo britânico e islamofóbico English Defence League, e o italiano Roberto Fiore, que já disse ter orgulho de ser visto como “fascista” e fundou o Força Nova, organização que se opõe aos direitos da comunidade LGBT e políticas migratórias.
Organizada por grupos da extrema-direita na Polônia, a manifestação acontece todos os anos e sempre são registrados confrontos com movimentos de oposição que protestam contra esses ideais. Neste ano, no entanto, os grupos foram separados por policiais e autoridades locais disseram não ter registrado qualquer ato de violência, embora cerca de 45 pessoas de grupos opositores tenham sido presas, segundo o The Washington Post.
Durante uma coletiva de imprensa, da qual o Politico fez parte, o ministro do Interior, Mariusz Błaszczak, chegou a dizer que a alegação de que banners racistas foram vistos na marcha era “questão de opinião” e que o repórter se comportava como “ativista político”. “Foi uma bela vista”, disse ainda na coletiva, “estamos orgulhosos dos poloneses que vieram participar da celebração ligada ao feriado da independência”, continuou ao The Guardian.
Nick Lowles, ativista anti-extremismo ouvido pelo jornal britânico, se impressionou com a quantidade de pessoas que participou da marcha. Lembrando que muitas podem não ser parte da extrema-direita, o evento “sem dúvidas está se tornando cada vez mais significativo e virando um imã para esses movimentos mundo afora”, constatou.
No início desta semana, o governo da Polônia finalmente se manifestou formalmente contra o teor da marcha. Andrzej Duda, presidente polonês, disse que não há lugar para “nacionalismo doente” e para a “xenofobia” no país, além de ter denunciado o discurso de ódio visto nas ruas de Varsóvia naquele sábado.
Já Jaroslaw Kaczynski, líder do partido conservador que está hoje no poder, o Lei e Justiça (PiS), condenou as manifestações racistas, mas não endereçou a marcha. O PiS chegou ao poder em 2015 com a ajuda dos eleitores jovens que estão cada vez mais alinhados com a extrema-direita.