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Muro sugerido por Trump abre feridas e causa medo no México

"Será um muro grande, largo e bonito!", gritou recentemente Trump, assegurando que o México pagará por ele

Fronteira: um terço dos 3.145 km da fronteira entre os Estados Unidos e o México está delimitada por cercas duplas e triplas (Jose Luis Gonzalez / Reuters)
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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2016 às 14h26.

Maurilio Salcido tira o chapéu para pôr a cabeça entre as barras do muro que separa o México dos Estados Unidos. Através de uma cerca com pequenos furos, o velho camponês vê, pela primeira vez em 15 anos, seu filho, que migrou "para o outro lado".

Ainda que este vão do muro apenas deixe ver silhuetas, Murilio se arrumou e, aos 80 anos, não parecia ter viajado 2.000 km de ônibus com sua filha, nora e neto até o colossal muro da praia de Tijuana cumprindo um ritual que é repetido a cada fim de semana por dezenas de famílias mexicanas.

"É bom pra gente e elas estão felizinhas. Já o vimos, e agora vamos embora felizes", disse o frágil idoso com a pele curtida pelo sol que castiga Durango (norte do México), que nos anos 1950 foi um dos milhares de "braceiros" que foram trabalhar no campo americano em uma época em que não havia muros.

Hoje as coisas são diferentes: um terço dos 3.145 km da fronteira entre os Estados Unidos e o México está delimitada por cercas duplas e triplas, paredes, tapumes antigos ou arames farpados.

E, se Donald Trump chegar à Casa Branca, estas barreiras podem se multiplicar.

O magnata, que ao que tudo indica será oficialmente nomeado na próxima semana como candidato republicano à Presidência americana, transformou em uma de suas bandeiras a construção de um muro intransponível para os "estupradores, delinquentes e narcotraficantes" que, segundo ele, chegam do México.

"Será um muro grande, largo e bonito!", gritou recentemente Trump, assegurando que o México pagará por ele.

Urgência em resolver a documentação

Assim como Maurilio, outros vinte mexicanos se deslocaram até Tijuana para falar com seus familiares através do muro. Este é o único ponto da fronteira onde, aos sábados e domingos pela manhã, a "Border Patrol" (Patrulha da Fronteira) abre uma das cercas e permite encontros entre muros sem perguntar o status legal dos visitantes.

É um consolo para as famílias e uma pequena concessão que Olga Soto - nascida em Sinaloa e que, em 2012, teve que deixar seu filho de 15 anos em San Diego depois de ter vivido anos no local - deseja que não termine se Trump for o novo presidente americano.

Se isso acontecer, "a única esperança é que meu filho resolva tudo e possa sair bem, legal (dos Estados Unidos) para ficar onde ele quiser", disse Olga, de 36 anos, enquanto aproxima o viva-voz de seu celular do muro para que seu filho, David, possa ouvir as três irmãs mais novas, que também voltaram ao México com ela para cuidar da avó.

Um pouco mais adiante dessas barras decoradas com corações, bandeiras americanas ou pintadas pedindo "empatia", Carmen Rosete se desmancha em lágrimas vendo entre os buracos da malha sua filha Liz e, pela primeira vez, dois de seus netos.

"Queria abraçá-los, apertá-los nos meus braços, mas não posso", soluça esta mexicana de 59 anos, que há dois meses vendeu tudo o que tinha em Orizaba (Veracruz, leste) para se mudar a Tijuana e ficar mais próxima deles.

Carmen sente que a política migratória americana é muito dura, mas, do outro lado, sua filha Liz tem consciência que se Trump ganhar, as coisas podem ser ainda piores e que "por causa de uns" acabaria que "todos iriam pagar". "Dou graças a Deus porque temos isso", assegura.

O muro e os migrantes

Ao lado deste denominado "Parque da Amizade", cem metros adentro do oceano Pacífico, é onde agora surge o muro que os Estados Unidos começaram a construir em 1994 e que foi ampliado, especialmente, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Em Tijuana, alguns quilômetros mais distante da praia, parte das barras oxidadas possuem cruzes de madeira pregadas com os nomes dos migrantes que morreram - pelo menos um por dia, segundo uma ONG - tentando conquistar o sonho americano.

Mesmo sabendo do risco, Lorena Tablas - uma mexicana de 35 anos de Morelos (centro) que viveu muitos anos em Nova Jersey - tentou cruzar a fronteira seis vezes desde que retornou ao México há 10 anos, quatro delas saltando o muro.

Certa vez, tentando "pular a cerca" em Nogales (Sonora), seu coiote (traficante de seres humanos) a fez subir por uma escada, amarrou o corpo dela com um tecido e disse-lhe que pulasse para o outro lado, deixando o corpo cair. Tudo em menos de 5 minutos.

"Fiquei presa em umas varetas e fiquei nervosa porque lá tem muita vigilância", explica do centro de deportados de Tijuana esta mãe de quatro filhos, todos em Nova Jersey, que promete continuar tentando sem que nenhum muro, nem nada possam pará-la.

A vigilância de 21.000 agentes equipados com drones (veículo aéreo não-tripulado) e sensores e os 1.000 km de fronteira cercados não eliminaram a migração aos Estados Unidos, mas fez com que muitos migrantes - sobretudo mexicanos e centro-americanos que fogem da violência e da pobreza - se vejam obrigados a procurar rotas muito mais perigosas.

A maioria morre por desidratação após longas caminhadas no deserto, mas o muro também já fez suas próprias vítimas. No último 16 de junho, a Patrulha da Fronteira de Nogales (Arizona) encontrou o cadáver de uma migrante com o pescoço quebrado ao lado de uma cerca de mais de 6 metros.

O muro gigantesco com o qual Trump sonha "é uma ingenuidade, a problemática de fundo é como criamos prosperidade nos países de origem" da migração para freá-la, disse Rodulfo Figueroa, delegado do Instituto Nacional de Migração na Baixa Califórnia.

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Maurilio Salcido tira o chapéu para pôr a cabeça entre as barras do muro que separa o México dos Estados Unidos. Através de uma cerca com pequenos furos, o velho camponês vê, pela primeira vez em 15 anos, seu filho, que migrou "para o outro lado".

Ainda que este vão do muro apenas deixe ver silhuetas, Murilio se arrumou e, aos 80 anos, não parecia ter viajado 2.000 km de ônibus com sua filha, nora e neto até o colossal muro da praia de Tijuana cumprindo um ritual que é repetido a cada fim de semana por dezenas de famílias mexicanas.

"É bom pra gente e elas estão felizinhas. Já o vimos, e agora vamos embora felizes", disse o frágil idoso com a pele curtida pelo sol que castiga Durango (norte do México), que nos anos 1950 foi um dos milhares de "braceiros" que foram trabalhar no campo americano em uma época em que não havia muros.

Hoje as coisas são diferentes: um terço dos 3.145 km da fronteira entre os Estados Unidos e o México está delimitada por cercas duplas e triplas, paredes, tapumes antigos ou arames farpados.

E, se Donald Trump chegar à Casa Branca, estas barreiras podem se multiplicar.

O magnata, que ao que tudo indica será oficialmente nomeado na próxima semana como candidato republicano à Presidência americana, transformou em uma de suas bandeiras a construção de um muro intransponível para os "estupradores, delinquentes e narcotraficantes" que, segundo ele, chegam do México.

"Será um muro grande, largo e bonito!", gritou recentemente Trump, assegurando que o México pagará por ele.

Urgência em resolver a documentação

Assim como Maurilio, outros vinte mexicanos se deslocaram até Tijuana para falar com seus familiares através do muro. Este é o único ponto da fronteira onde, aos sábados e domingos pela manhã, a "Border Patrol" (Patrulha da Fronteira) abre uma das cercas e permite encontros entre muros sem perguntar o status legal dos visitantes.

É um consolo para as famílias e uma pequena concessão que Olga Soto - nascida em Sinaloa e que, em 2012, teve que deixar seu filho de 15 anos em San Diego depois de ter vivido anos no local - deseja que não termine se Trump for o novo presidente americano.

Se isso acontecer, "a única esperança é que meu filho resolva tudo e possa sair bem, legal (dos Estados Unidos) para ficar onde ele quiser", disse Olga, de 36 anos, enquanto aproxima o viva-voz de seu celular do muro para que seu filho, David, possa ouvir as três irmãs mais novas, que também voltaram ao México com ela para cuidar da avó.

Um pouco mais adiante dessas barras decoradas com corações, bandeiras americanas ou pintadas pedindo "empatia", Carmen Rosete se desmancha em lágrimas vendo entre os buracos da malha sua filha Liz e, pela primeira vez, dois de seus netos.

"Queria abraçá-los, apertá-los nos meus braços, mas não posso", soluça esta mexicana de 59 anos, que há dois meses vendeu tudo o que tinha em Orizaba (Veracruz, leste) para se mudar a Tijuana e ficar mais próxima deles.

Carmen sente que a política migratória americana é muito dura, mas, do outro lado, sua filha Liz tem consciência que se Trump ganhar, as coisas podem ser ainda piores e que "por causa de uns" acabaria que "todos iriam pagar". "Dou graças a Deus porque temos isso", assegura.

O muro e os migrantes

Ao lado deste denominado "Parque da Amizade", cem metros adentro do oceano Pacífico, é onde agora surge o muro que os Estados Unidos começaram a construir em 1994 e que foi ampliado, especialmente, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Em Tijuana, alguns quilômetros mais distante da praia, parte das barras oxidadas possuem cruzes de madeira pregadas com os nomes dos migrantes que morreram - pelo menos um por dia, segundo uma ONG - tentando conquistar o sonho americano.

Mesmo sabendo do risco, Lorena Tablas - uma mexicana de 35 anos de Morelos (centro) que viveu muitos anos em Nova Jersey - tentou cruzar a fronteira seis vezes desde que retornou ao México há 10 anos, quatro delas saltando o muro.

Certa vez, tentando "pular a cerca" em Nogales (Sonora), seu coiote (traficante de seres humanos) a fez subir por uma escada, amarrou o corpo dela com um tecido e disse-lhe que pulasse para o outro lado, deixando o corpo cair. Tudo em menos de 5 minutos.

"Fiquei presa em umas varetas e fiquei nervosa porque lá tem muita vigilância", explica do centro de deportados de Tijuana esta mãe de quatro filhos, todos em Nova Jersey, que promete continuar tentando sem que nenhum muro, nem nada possam pará-la.

A vigilância de 21.000 agentes equipados com drones (veículo aéreo não-tripulado) e sensores e os 1.000 km de fronteira cercados não eliminaram a migração aos Estados Unidos, mas fez com que muitos migrantes - sobretudo mexicanos e centro-americanos que fogem da violência e da pobreza - se vejam obrigados a procurar rotas muito mais perigosas.

A maioria morre por desidratação após longas caminhadas no deserto, mas o muro também já fez suas próprias vítimas. No último 16 de junho, a Patrulha da Fronteira de Nogales (Arizona) encontrou o cadáver de uma migrante com o pescoço quebrado ao lado de uma cerca de mais de 6 metros.

O muro gigantesco com o qual Trump sonha "é uma ingenuidade, a problemática de fundo é como criamos prosperidade nos países de origem" da migração para freá-la, disse Rodulfo Figueroa, delegado do Instituto Nacional de Migração na Baixa Califórnia.

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