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Mundo muçulmano se divide quando o assunto é lei x Alcorão

Estudo da Pew Research Center mostra que o tamanho da influência da religião no Estado não é um consenso entre os muçulmanos


	Mesquita Azul, em Istambul, na Turquia: estudo mostra que a maioria das pessoas no país crê que as leis podem se basear no Alcorão, mas não seguir seus ensinamentos ao pé da letra
 (Thinkstock/silverjohn)

Mesquita Azul, em Istambul, na Turquia: estudo mostra que a maioria das pessoas no país crê que as leis podem se basear no Alcorão, mas não seguir seus ensinamentos ao pé da letra (Thinkstock/silverjohn)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 15 de maio de 2016 às 07h00.

São Paulo – Entre os países com grandes populações muçulmanas, o tamanho da influência da religião na política não é um consenso entre os fiéis do islamismo. É o que mostrou um estudo da Pew Research Center, organização independente formada por especialistas dedicados ao estudo dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos em âmbito global.

Realizada entre os meses de abril e maio de 2015 e divulgada nesta semana, a pesquisa concluiu que, enquanto há países nos quais as pessoas desejam ver os ensinamentos do Alcorão incorporados às leis, em outros essa é ideia é rechaçada.

Para a análise, foram entrevistadas 10 mil pessoas, entre muçulmanos e não-muçulmanos, em dez países (Paquistão, Palestina, Jordânia, Malásia, Senegal, Nigéria, Indonésia, Líbano, Turquia e Burquina Faso). Em três deles, a maioria da população se posicionou contra a influência do livro sagrado na vida civil: Burkina Faso, Líbano e Nigéria.

Localizada na África, Burkina Faso é formada por uma população majoritariamente muçulmana: 60% das pessoas se identificam assim. Apesar disso, 60% dos entrevistados preferem que a religião não interfira no governo e só 9% deles são a favor dessa ideia.

No Líbano, país árabe onde 55% das pessoas se declaram muçulmanas, 42% dos que participaram da pesquisa se manifestaram contra essa ideia, enquanto 15% deles acreditam que o governo deveria seguir os ensinamentos religiosos.

Nesse grupo de países, é na Nigéria onde foram observados os maiores contrastes. Em território nigeriano, onde a população é 50% muçulmana, a percentagem de pessoas contra a interferência da religião no governo é de 42%, ao passo que 27% é totalmente a favor.

A pesquisa ainda avaliou os níveis de escolaridade dos seus entrevistados e revelou que a parcela com educação secundária completa ou mais detém uma visão considerada como “mais secular” e são a favor de que as leis de seus países não sigam o Alcorão. Em Burkina Faso, 72% dessas pessoas se posicionaram assim. No Líbano, 46% e, na Nigéria, 48%.

Leis seguindo o Alcorão? Sim, por favor

Se há locais onde as pessoas não querem que a religião e o Estado caminhem de mãos dadas, há outros nos quais a população prefere que as leis sigam rigorosamente os preceitos religiosos. É o caso do Paquistão, da Palestina, Jordânia, Malásia e Senegal.

No Paquistão, 97% da população é muçulmana e o país sofre com a presença de organizações terroristas como a rede Al Qaeda e o Talibã. Dentre os entrevistados, 78% disseram que o governo deve seguir o Alcorão na produção de suas leis. Apenas 2% se posicionaram contra.

Nem lá, nem cá

Entre os países avaliados, a Indonésia e a Turquia se destacam pelo equilíbrio nas opiniões. Na Indonésia, onde 91% da população se designa como muçulmana, só 22% dos entrevistados disseram concordar com o governo baseando suas leis no livro sagrado e 16% dessas pessoas preferem separar uma coisa da outra.

Na Turquia, por sua vez, 36% acham que essa influência não deve existir e 38% disseram que as leis até podem se basear no Alcorão, mas não seguir seus ensinamentos ao pé da letra. 

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