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Mundo árabe oculta epidemia ascendente de Aids, alertam especialistas

Região tem o maior crescimento no aparecimento da doença; médicos reclamam que governos ignoram o assunto

Iraniana lê panfleto em exposição organizada no Dia Internacional de Combate à Aids, em Teerã, (Atta Kenare/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2011 às 16h19.

Beirute, Líbano - No mundo árabe, dominado pelo estigma social, pela inação do governo e por um acesso frequentemente limitado à educação, especialistas alertam que uma epidemia de Aids está em ascensão.

"No Oriente Médio e no Norte da África, a epidemia de HIV esteve em ascensão na última década", afirmou Aleksandar Sasha Bodiroza, conselheiro de HIV e Aids do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).

"O número de pessoas que precisam de tratamento na região saltou de aproximadamente 45.000 em 2001 para quase 160.000 em 2010", disse Bodiroza à AFP.

"Isto pôs o Oriente Médio e o Norte da África como as duas principais regiões do globo onde a epidemia de HIV cresce mais rapidamente", acrescentou.

Segundo um relatório das Nações Unidas publicado este mês, o número de pessoas infectadas com o vírus e as mortes relacionadas com a Aids diminuíram em todo o mundo, à medida que o acesso ao tratamento se tornou mais difundido.

Mas o mundo árabe tem sido lento em acompanhar esta tendência, pois ali as taxas de contração de HIV e de mortes relacionadas à Aids aumentam enquanto a conscientização pública, a resposta do governo e o acesso a serviços médicos adequados têm tido um progresso lento.

Embora haja poucos dados confiáveis no Oriente e no Norte da África, as Nações Unidas calculam entre 350.000 e 570.000 o número de pessoas que vivem com o vírus HIV na região, cuja população é estimada em mais de 367 milhões de pessoas.

Um estudo publicado recentemente em uma Biblioteca Pública de Ciência estabeleceu as taxas de infecção entre homens que fazem sexo com outros homens em 5,7% no Cairo, capital egípcia, e em 9,3% em Cartum, capital do Sudão.

E enquanto alguns países começaram a dar pequenos passos para enfrentar um problema crescente, mas silencioso, a vergonha e o estigma dão poucos sinais de ceder em uma região onde as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo e o sexo antes do casamento costumam ser considerados crimes.


Este estigma se tornou algo normal para um jovem de Beirute, contatado através de um grupo que oferece apoio gratuito a pessoas soropositivas e doentes de Aids.

"Se fosse resumir em uma palavra, eu diria que a minha vida é um grande segredo", disse o rapaz, de 29 anos, que soube ser soropositivo há três anos.

"Embora tenha saído do armário com a minha família muito tempo atrás, isto é algo que não compartilhei com eles. Eu nunca poderia jogar sobre eles este peso", acrescentou.

As infecções se concentram normalmente em pessoas que pertencem a grupos de alto risco, incluindo usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e seus clientes.

"A vida para alguém que tem o vírus HIV é muito difícil. Eles sofrem com a incapacidade de falar sobre a doença livremente com pessoas próximas e nós temos casos em que indivíduos chegaram a ser expulsos da família", relatou Brigitte Khoury, psicóloga clínica do Centro Médico da Universidade Americana de Beirute.

"Portanto, embora algumas famílias deem apoio, trata-se de uma vida dominada pelo segredo, pelo engano e pelo medo do pior", emendou.

Este medo, segundo especialistas, é o que costuma afastar os soropositivos da procura de um tratamento.

"O estigma e a discriminação estão entre as razões primárias pelas quais as pessoas que vivem com HIV ou populações chave com maior risco de infecção por HIV não têm acesso a serviços essenciais para portadores de HIV", disse Bodiroza.

"Estes dois fatores também limitam a habilidade de governos e sociedade civil de fornecer serviços", acrescentou.


Muitos países do mundo árabe exigem que os estrangeiros façam exames de HIV para conceder vistos ou carteiras de residência.

Recentemente, os jornais noticiaram o caso de um jornalista sul-africano, deportado do Qatar após ter sido diagnosticado com HIV e demitido da emissora de TV Al-Jazeera.

A organização Section27, um grupo legal de interesse público radicado na África do Sul, pediu à delegação do país na Organização Internacional do Trabalho (OIT) para formalizar uma queixa contra o Qatar.

Mas alguns países mais liberais da região começaram a noticiar o problema, e Egito e Líbano lançaram uma campanha de mídia.

A campanha "Let's Talk" (Vamos conversar), no ar até o fim de dezembro, é organizada pelo UNFPA em parceria com os ministérios da Saúde dos dois países, e encoraja as pessoas a fazerem o exame.

A campanha, que no Líbano é estrelada por uma ex-miss e a superpopular banda Mashrou3 Leila, também disponibiliza uma lista de centros de exames gratuitos e anônimos nos dois países.

Mas apesar destes esforços, especialistas afirmam que os governos são menos propensos do que nunca a voltar sua atenção à epidemia crescente em uma região afetada por uma revolta política.

"O fio condutor que liga todos os países da região é o impacto do estigma e da discriminação, que estão (entre) as razões principais pelas quais as pessoas que vivem com HIV ou populações em risco não têm acesso a serviços essenciais", afirmou Bodiroza.

"Sem uma liderança forte, é improvável que estas questões sejam atendidas completa e adequadamente", concluiu.

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"No Oriente Médio e no Norte da África, a epidemia de HIV esteve em ascensão na última década", afirmou Aleksandar Sasha Bodiroza, conselheiro de HIV e Aids do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).

"O número de pessoas que precisam de tratamento na região saltou de aproximadamente 45.000 em 2001 para quase 160.000 em 2010", disse Bodiroza à AFP.

"Isto pôs o Oriente Médio e o Norte da África como as duas principais regiões do globo onde a epidemia de HIV cresce mais rapidamente", acrescentou.

Segundo um relatório das Nações Unidas publicado este mês, o número de pessoas infectadas com o vírus e as mortes relacionadas com a Aids diminuíram em todo o mundo, à medida que o acesso ao tratamento se tornou mais difundido.

Mas o mundo árabe tem sido lento em acompanhar esta tendência, pois ali as taxas de contração de HIV e de mortes relacionadas à Aids aumentam enquanto a conscientização pública, a resposta do governo e o acesso a serviços médicos adequados têm tido um progresso lento.

Embora haja poucos dados confiáveis no Oriente e no Norte da África, as Nações Unidas calculam entre 350.000 e 570.000 o número de pessoas que vivem com o vírus HIV na região, cuja população é estimada em mais de 367 milhões de pessoas.

Um estudo publicado recentemente em uma Biblioteca Pública de Ciência estabeleceu as taxas de infecção entre homens que fazem sexo com outros homens em 5,7% no Cairo, capital egípcia, e em 9,3% em Cartum, capital do Sudão.

E enquanto alguns países começaram a dar pequenos passos para enfrentar um problema crescente, mas silencioso, a vergonha e o estigma dão poucos sinais de ceder em uma região onde as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo e o sexo antes do casamento costumam ser considerados crimes.


Este estigma se tornou algo normal para um jovem de Beirute, contatado através de um grupo que oferece apoio gratuito a pessoas soropositivas e doentes de Aids.

"Se fosse resumir em uma palavra, eu diria que a minha vida é um grande segredo", disse o rapaz, de 29 anos, que soube ser soropositivo há três anos.

"Embora tenha saído do armário com a minha família muito tempo atrás, isto é algo que não compartilhei com eles. Eu nunca poderia jogar sobre eles este peso", acrescentou.

As infecções se concentram normalmente em pessoas que pertencem a grupos de alto risco, incluindo usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e seus clientes.

"A vida para alguém que tem o vírus HIV é muito difícil. Eles sofrem com a incapacidade de falar sobre a doença livremente com pessoas próximas e nós temos casos em que indivíduos chegaram a ser expulsos da família", relatou Brigitte Khoury, psicóloga clínica do Centro Médico da Universidade Americana de Beirute.

"Portanto, embora algumas famílias deem apoio, trata-se de uma vida dominada pelo segredo, pelo engano e pelo medo do pior", emendou.

Este medo, segundo especialistas, é o que costuma afastar os soropositivos da procura de um tratamento.

"O estigma e a discriminação estão entre as razões primárias pelas quais as pessoas que vivem com HIV ou populações chave com maior risco de infecção por HIV não têm acesso a serviços essenciais para portadores de HIV", disse Bodiroza.

"Estes dois fatores também limitam a habilidade de governos e sociedade civil de fornecer serviços", acrescentou.


Muitos países do mundo árabe exigem que os estrangeiros façam exames de HIV para conceder vistos ou carteiras de residência.

Recentemente, os jornais noticiaram o caso de um jornalista sul-africano, deportado do Qatar após ter sido diagnosticado com HIV e demitido da emissora de TV Al-Jazeera.

A organização Section27, um grupo legal de interesse público radicado na África do Sul, pediu à delegação do país na Organização Internacional do Trabalho (OIT) para formalizar uma queixa contra o Qatar.

Mas alguns países mais liberais da região começaram a noticiar o problema, e Egito e Líbano lançaram uma campanha de mídia.

A campanha "Let's Talk" (Vamos conversar), no ar até o fim de dezembro, é organizada pelo UNFPA em parceria com os ministérios da Saúde dos dois países, e encoraja as pessoas a fazerem o exame.

A campanha, que no Líbano é estrelada por uma ex-miss e a superpopular banda Mashrou3 Leila, também disponibiliza uma lista de centros de exames gratuitos e anônimos nos dois países.

Mas apesar destes esforços, especialistas afirmam que os governos são menos propensos do que nunca a voltar sua atenção à epidemia crescente em uma região afetada por uma revolta política.

"O fio condutor que liga todos os países da região é o impacto do estigma e da discriminação, que estão (entre) as razões principais pelas quais as pessoas que vivem com HIV ou populações em risco não têm acesso a serviços essenciais", afirmou Bodiroza.

"Sem uma liderança forte, é improvável que estas questões sejam atendidas completa e adequadamente", concluiu.

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