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Mudança em curso de rio destrói casas no litoral sul de São Paulo

Dentro da água é possível ver árvores e construções que ficaram em parte submersas com o avanço do Rio Ribeira

Perda de volume do Rio Ribeira faz com que ele avance em direção ao terreno mais frágil (WIKIMEDIA COMMONS)

Perda de volume do Rio Ribeira faz com que ele avance em direção ao terreno mais frágil (WIKIMEDIA COMMONS)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 06h51.

Iguape - O Rio Ribeira está engolindo a faixa de areia da Praia do Leste, em Iguape, no litoral sul de São Paulo. Dentro da água é possível ver árvores e construções que ficaram em parte submersas com o avanço da água.

Entre elas está o antigo imóvel da comerciante Maria Aparecida Silva. Ela conta que aos poucos a água foi “comendo” as margens. Mas, em princípio, “ninguém percebeu porque não estava comendo nenhuma casa”, explica. Até que, em 2009, o processo se acelerou e o quiosque, que também servia de moradia, acabou dentro do Ribeira.

Com fotos, Maria Aparecida mostra que há 11 anos, quando se mudou para o local, seu primeiro imóvel estava a mais de um quilômetro do rio. Para substituí-lo, Maria construiu outra casa a cerca de 500 metros da água. Como a praia continua sendo engolida, essa também já está ameaçada.

O fenômeno é causado pela perda de volume do rio, que faz com que ele avance em direção ao terreno mais frágil, explicou o diretor da Divisão de Meio Ambiente da prefeitura de Iguape, André Gimenez. Isso ocorre por conta do fluxo desviado pelo canal do Valo Grande. A obra, do século 19, foi feita para encurtar o trajeto do transporte de arroz até o porto da cidade, o mais importante do estado à época.

Ao longo do tempo, a força da água alargou os 4 metros iniciais do canal para  quase 200 metros. Dois terços do Ribeira passaram a desaguar no estuário de Iguape pela saída artificial.
 
A queda no fluxo de água na desembocadura original provoca o “serpenteamento” do rio nessa parte, explica Gimenez, o que causa a invasão da Praia do Leste. A construção de uma barragem é apontada pela prefeitura e pelo governo do estado como a solução para o problema.
 
A ideia é antiga, mas voltou a ser discutida em 2007, conta o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Eliel Pereira de Souza. Naquele ano, o aumento rápido do volume de água que passa pelo Valo Grande destruiu um conjunto de cerca de dez casas em uma região próxima ao centro da cidade.

Maria Aparecida não tem certeza, no entanto, se a obra já iniciada realmente lhe trará benefícios. “Para fechar a barragem, tem que dragar [o leito assoreado do rio], senão vai piorar”, afirma. Segundo ela, nenhum representante do Poder Público apareceu na praia para dar explicações sobre a represa ou oferecer qualquer ajuda. Resignada, Maria espera pela boa vontade da natureza para que o quiosque atual, onde vende de sorvete a bebida alcoolica, não seja destruído.  “Estamos aqui enquanto o rio quiser”, desabafa a comerciante.

André Gimenez consultou a Defesa Civil do estado para saber que providências poderiam ser tomadas em benefício dos moradores da praia. O órgão respondeu, de acordo com ele, que a única medida possível é a remoção das pessoas, devido à proximidade com o rio, após a mudança de curso do Ribeira.

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