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Milhares de pessoas vão às ruas no Haiti pedir a renúncia do presidente

Manifestantes protestam desde o dia 16 de setembro contra o governo do Haiti

Haiti: escassez de combustível, desemprego e inflação foram alguns gatilhos para as manifestações (Andres Martinez Casares/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 10h47.

Porto Príncipe — Milhares de pessoas foram às ruas neste domingo, dia 13, em Porto Príncipe, capital do Haiti , exigir a renúncia do presidente Jovenel Moise em um protesto convocado por artistas nacionais. A manifestação foi a maior já realizada desde o início do movimento antigovernamental, em setembro, e contou com a participação de adultos, jovens e crianças de toda a região metropolitana da capital haitiana.

Vestidos de branco e em um ambiente festivo, parecido com um carnaval, os manifestantes marcharam atrás dos caminhões de som no quais estavam os artistas, incluindo Izolan, Mathias e Ti Djo Zenny e Funny, todos famosos no Haiti.

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"Hoje a oposição é toda a população: que está com fome, não pode viver, seus filhos não vão à escola. Eu tenho o que comer, mas nem por isso que vou deixar de ver quem, ao meu lado, não tem nada", disse o rapper Izolan.

"Ninguém quer mais ficar em casa, estamos todos cansados. O presidente deve falar com o povo, ele não pode ficar mudo. Hoje ele não pode ficar calado", acrescentou Izolan, que organizou a mobilização do setor cultural.

Com o lema "lage pye'w" (renúncia), a marcha começou na frente do Teatro Rex, perto do Palácio Nacional e se dirigiu até Pétion-Ville, área na zona sudeste do Porto Príncipe e onde se encontra a residência de Moise.

Ao contrário da grande maioria dos protestos que ocorreram desde 16 de setembro, a marcha deste domingo foi pacífica e a polícia não usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

"Dada a violência que às vezes marca as manifestações temos medo de sair, mas hoje estamos aqui: queremos que as coisas mudem", disse Matthias, um manifestante de 26 anos que preferiu não revelar seu sobrenome.

O gatilho para os protestos foi a escassez de combustível que começou em agosto, além de outros fatores de descontentamento da população, como desemprego, inflação e a crescente insegurança em Porto Príncipe.

 

Desde 16 de setembro, as manifestações acontecem quase diariamente em Porto Príncipe e em outras cidades do interior.

As manifestações e a falta de combustível contribuíram para paralisar toda a atividade econômica do país, além de escolas e transporte público por quase um mês.

Os partidos de oposição anunciaram a convocação de novos protestos nos próximos cinco dias, com o objetivo de forçar a renúncia de Moise.

Na terça-feira, dia 15, está planejado um dia de solidariedade às vítimas da "repressão policial e do governo", de acordo com este novo calendário de mobilização publicado por André Michel, porta-voz do Setor Democrático e Popular.

Na quarta-feira, 16, um funeral nacional será realizado para os "assassinados" durante as semanas de mobilização e na quinta-feira, 17, uma "revolta geral das massas populares e camponesas" foi convocada, coincidindo com a data da morte do herói da independência, Jean Jacques Dessalines.

Desde o início do movimento de protesto, Moise dirigiu-se à população apenas uma vez, por meio de um discurso gravado na televisão pública às 2h da manhã em 25 de setembro.

A fim de encontrar uma saída para a crise política, o presidente nomeou na semana passada uma comissão para conversar com a oposição. Apesar desta proposta, nos últimos dias houve um aumento dos pedidos de renúncia do presidente, que está no poder desde 2017.

 

A imagem de Moise sofreu muito desgaste devido à investigação de vários casos de corrupção, especialmente o caso Petrocaribe, e o massacre do bairro La Saline, em Porto Príncipe, no qual dezenas de pessoas morreram no final de 2018, com a suposta participação de policiais.

Na sexta-feira, 11, um grupo de 107 organizações e instituições sociais, políticas e econômicas haitianas pediu a renúncia de Moise por meio de um documento no qual eles propõem um "governo de resgate nacional e uma transição bem-sucedida". (Com agências internacionais).

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