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Milei cancela ida à cúpula do Mercosul e deve encontrar Bolsonaro em Camboriú

Tensão entre chefes de Estado do Brasil e da Argentina escalou semana passada, após Lula afirmar que o argentino deveria pedir desculpas por declarações feitas na campanha de 2023

Javier Milei, presidente da Argentina (Oscar Rivera/AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 1 de julho de 2024 às 15h45.

Última atualização em 1 de julho de 2024 às 16h35.

Em meio à crescente tensão entre os presidentes da Argentina e do Brasil, o argentino Javier Milei decidiu não participar da próxima Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no dia 8 de julho, no Paraguai, mas confirmou sua presença na reunião da Conferência Política de Ação Conservadora (Cpac), que será realizada no próximo fim de semana no balneário de Camboriú — e na qual também estará presente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A ausência de Milei na reunião de presidentes do Mercosul foi confirmada ao O Globo por fontes do governo brasileiro. Já a viagem do presidente argentino ao balneário de Santa Catarina foi noticiada pelo jornal La Nación e considerada "provável" pelo governo Milei. Ambas decisões causaram preocupação em fontes brasileiras, que temem um aprofundamento da crise bilateral.

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Na reunião da Cpac também estarão presentes os dirigentes de extrema direita chileno José Antonio Kast e o mexicano Eduardo Verástegui. Em 2022, ainda como deputado, Milei participou de um encontro do grupo no Brasil. Em sua coletiva desta segunda-feira, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que a presença de Milei em Santa Catarina era “provável”. De acordo com o La Nación, a viagem do presidente argentino já foi decidida.

A tensão entre Lula e Milei começou na campanha eleitoral Argentina de 2023, quando o então candidato da ultradireita argentino referiu-se ao presidente brasileiro como comunista e corrupto. Após a vitória de Milei, foram feitos esforços diplomáticos dos dois lados para aparar arestas e o resultado foram vários meses de aparente calma entre os dois principais sócios do Mercosul.

As duas chancelarias organizaram várias reuniões de trabalho, e a ministra das Relações Exteriores argentina, Diana Mondino, fez uma visita oficial ao Brasil. Tudo parecia caminhar sem grandes sobressaltos. Milei teve discussões fortes e públicas com outros presidentes, entre eles o colombiano Gustavo Petro, mas, até agora, evitou atritos com Lula. Os esforços diplomáticos, porém, foram insuficientes para impedir a escalada que começou semana passada.

A frágil paz terminou quando o presidente brasileiro disse, em referência às declarações de Milei de 2023, que o presidente argentino deveria “pedir desculpas ao povo do Brasil e a mim”. A reposta de Milei foi chamar Lula de “esquerdista com o ego inflado”.

"Desde quando deve-se pedir desculpas por dizer a verdade?", perguntou o chefe de Estado argentino.

A Casa Rosada argumenta que Milei não irá à cúpula do Mercosul por problemas de agenda, mas a decisão foi tomada após a troca de farpas com Lula. Até semana passada, a presença de Milei na cúpula de Assunção era dada como certa por funcionários argentinos. Paralelamente, o presidente argentino decidiu ir ao encontro da extrema direita internacional em Camboriú, onde se encontrará com Jair e Eduardo Bolsonaro, entre outros. Ambos participaram da posse de Milei em 10 de dezembro passado, na qual o Brasil foi representado pelo chanceler Mauro Vieira. O filho do ex-presidente esteve recentemente na Argentina e participou de eventos organizados por membros do partido de Milei, A Liberdade Avança, inclusive no Parlamento argentino.

A tensão entre os dois presidentes acontece pouco depois de que viera à tona o escândalo pela fuga de bolsonaristas envolvidos nos atos de 8 de janeiro para a Argentina. O caso preocupa o governo brasileiro, que acompanha de perto as investigações da Justiça argentina.

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