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México realiza eleições históricas e decisão está nas mãos dos millenials

País estratégico na América Latina, México vive um momento que deve trazer surpresas desagradáveis ao establishment político do país. Entenda

Eleitores de AMLO no México (Daniel Becerril/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 30 de junho de 2018 às 10h34.

Última atualização em 30 de junho de 2018 às 10h34.

São Paulo – O mundo observa com atenção aos desdobramentos de mais uma eleição histórica em 2018. Neste domingo, 1º de julho, o México realiza as maiores eleições já vistas no país e que irão definir o futuro dessa peça estratégica no desenho da América do Norte. E são justamente os millenials, pessoas com idades entre 18 e 36 anos, que irão definir os rumos daqui em diante: correspondem a 44,5% do total de eleitores.

O México é hoje liderado por Enrique Peña Nieto, 51 anos. Eleito em 2012, Nieto viu a sua aprovação desabar nos últimos meses em razão dos constantes escândalos de corrupção e os crescentes níveis de violência, uma realidade que atormenta a população de todo o país.

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Embora tenha tentado se posicionar como um líder jovem (assumiu a presidência aos 45 anos), e reformador, Nieto é do Partido Revolucionário Institucional (PRI), partido que governou o país por décadas em gestões manchadas por irregularidades e violações de direitos humanos.

Assim como em outros países, a expectativa é a de que o resultado dessa eleição traga surpresas desagradáveis ao establishment político. No México, o pleito poderá resultar em uma ruptura radical com o status quo com a vitória de Andrés Manuel López Obrador (curiosamente apelidado de AMLO), uma que levaria o país do centro à esquerda.

Abaixo, EXAME reuniu perguntas e respostas fundamentais para entender o contexto em que o país realiza o pleito, que tem no eleitorado jovem a maior força política.

O que está acontecendo nestas eleições?

Neste domingo, 1º de julho, acontecem as eleições gerais no México, as maiores da história do país. Ao todo, 3.400 cargos estão abertos para renovação ante os 2.127 registrados em eleições anteriores, que ocorreram em 2012.

Segundo o Instituto Nacional Eleitoral do México (INE), serão escolhidos um presidente, 128 senadores e 500 deputados. O país terá, ainda, eleições para os governos de 8 estados e a Cidade do México, além de assentos para governos locais em 30 estados.

O presidente tem um mandato de seis anos. O processo eleitoral não prevê a realização de um 2º turno e nem a reeleição. Nas últimas duas eleições, 2012 e 2006, os vencedores dos últimos pleitos presidenciais foram eleitos com menos de 40% dos votos.

Em 2018, o total de pessoas aptas a votar é de 89,1 milhões. A fatia jovem, no entanto, surpreende: pessoas com idades entre 18 e 36 anos correspondem a 40 milhões dos eleitores e 13 milhões irão votar pela primeira vez, cerca de 44,5% do eleitorado. Para efeitos de comparação, essa percentagem é de aproximadamente 15,3% no Brasil e 12% na Colômbia.

Para especialistas, esse grupo de jovens será fundamental para o resultado eleitoral em um momento de crise para os partidos tradicionais e para as instituições do país.

Como está o país?

O México tem uma série de grandes desafios pela frente, tanto na economia quanto na política. Tudo começará, no entanto, na missão de restaurar a confiança nas instituições mexicanas. Peña Nieto deixa a presidência marcado por escândalos de corrupção que derrubaram a sua aprovação: atualmente, 80% da população reprova a sua gestão.

No âmbito doméstico, pesquisas mostram que a maior preocupação dos mexicanos é a segurança pública -- 53% das pessoas apontam que esse é o principal problema do país, seguido da corrupção.

De fato, a violência chegou a níveis alarmantes no México, que registrou mais de 200 mil mortes violentas desde 2006. A violência é resultado direto da atividade intensa de narcotraficantes no país. A legalização das drogas promete se tornar um tema ainda mais debatido na nova gestão presidencial.

Questões econômicas complexas também estão no horizonte. A desigualdade social é alta e o crescimento, bem como níveis de investimentos, são baixos. No ano passado, o PIB mexicano cresceu 2,1%, menos do que o crescimento de 2,9% registrado em 2016.

Outro problema é a dependência da economia mexicana nas exportações para os Estados Unidos. As exportações representam 37,9% do PIB do país, segundo projeção do Banco Mundial, e quase 75% das vendas são feitas para os americanos. É uma situação que tem relação direta com o panorama internacional e diplomático.

Neste ponto, não se sabe como as relações entre os países serão daqui em diante. O próximo presidente terá de lutar com todas as suas armas para manter o NAFTA, tratado comercial entre México, Canadá e Estados Unidos e que vem sendo duramente criticado pelo presidente americano, Donald Trump. E AMLO, o candidato favorito, já se mostrou inclinado a assumir essa tarefa, se posicionando a favor das negociações.

Outro desafio nas relações com os Estados Unidos é a imigração. A fronteira do México é um dos maiores pontos de entrada de imigrantes ilegais nos EUA, cujo combate foi uma bandeira levantada por Trump durante suas campanhas e uma das principais preocupações do eleitorado que o levou à Casa Branca.

Quem são os principais candidatos?

Ao todo, concorrem ao posto de presidente do México apenas 3 candidatos: López Obrador, o AMLO, Ricardo Anaya, apelidado de “jovem maravilha”, e José Antonio Meade, um político que vive à sombra do PRI.

O favorito ao posto é AMLO, um conhecido dos mexicanos: concorreu ao posto de presidente em 2006 e 2012 e ex-prefeito da Cidade do México. Alinhado à esquerda. AMLO é da cidade de Tabasco (sudeste do país), iniciou carreira política no PRI, mas depois se uniu ao Partido da Revolução Democrática (PRD).

AMLO promete bater de frente com o presidente Trump, que frequentemente ofende a população mexicana e ameaça cobrar do país a construção de um muro na fronteira com os EUA. No entanto, não detalhou como, exatamente, fará isso.

Entre suas principais propostas, estão a redução dos salários dos funcionários públicos em 50%, o congelamento de impostos e da dívida pública, além do fim da reforma energética.

Já Ricardo Anaya tenta repetir o que Peña Nieto conseguiu fazer em 2012 ao se vender como um candidato jovem e moderno. Com 39 anos, promete se inspirar nas lideranças das grandes empresas no Vale do Silício, berço da tecnologia e sinônimo de modernidade nos EUA.

É conservador, membro do Partido de Ação Nacional (PAN) e seus comícios renderam comparações com as apresentações de novos produtos feitas pela gigante Apple. É visto com ceticismo dentro de seu partido, tachado de inescrupuloso e desleal por Felipe Calderón, ex-presidente do México entre 2006 e 2012, e odiado por Peña Nieto.

O terceiro candidato, José Antonio Meade, por sua vez, é elogiado por sua seriedade e desempenho na chefia de pastas importantes do Executivo, como de Energia, Relações Exteriores, Desenvolvimento Social e Fazenda. Tem 49 anos e, em seu desfavor, o fantasma do peso do PRI, partido que representa, por sua vez, a ligação com a velha classe política.

Como estão as eleições para o Legislativo?

As eleições também irão renovar as casas legislativas do México. Para a consultoria Eurasia, é difícil prever como os assentos irão se dividir, justamente pelo fato de o sistema mexicano ser baseado na maioria simples. Serão eleitos 500 deputados e 28 senadores.

De todo o modo, a consultoria prevê a vitória na Câmara dos Deputados da coalizão liderada por Obrador, chamada de Morena (Movimento de Regeneração Nacional), e que conta com o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Encontro Social (PES). A coalizão poderia conseguir negociar a maioria com outros partidos alinhados com a esquerda.

Já no Senado, avalia a Eurasia, a coalizão de Obrador precisaria garantir ao menos 42% do total dos votos em âmbito nacional para chegar próximo da maioria. Os números, notam os analistas da consultoria, estão favoráveis para a coalizão esquerdista, que tem 39% dos votos para as duas casas até o momento, segundo pesquisas de opinião.

Como estão as pesquisas de opinião para a presidência?

As pesquisas mais recentes mostram AMLO confortavelmente à frente dos outros candidatos. Segundo uma sondagem da Consulta Miofsky conduzida entre os dias 16 e 19 de junho, o esquerdista aparecia com 37,7% das intenções de voto, seguido por Anaya, com 20% e Meade, com 17,7%. Os indecisos representavam 21,5% dos votos.

Já pela pesquisa realizada pelo jornal El Finaciero, entre os dias 21 e 23 de junho, AMLO estava com 54% da preferência do eleitorado. Meade aparece em segundo, com 22%, e Anaya em terceiro, com 21%.

Se tem uma coisa que os últimos anos mostraram é que as populações estão cansadas da mesmice política e, como resultado, observa-se a eleição de líderes que representam o oposto, para o bem ou para o mal, de gestões anteriores. Impossível prever o quanto isso impactará o pleito deste domingo. No entanto, tudo indica que o México seguirá esse caminho.

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