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Manifestantes criticam governantes após incêndio em shopping na Sibéria

O governador da região de Kemerovo, Aman Tuleyev, e o vice-governador, Serguei Tsovoliov, foram os principais alvos dos protestos

Tragédia na Sibéria: incêndio na última segunda-feira (26) matou 64 pessoas, incluindo 41 crianças (Russian Emergencies Ministry/Reuters)
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AFP

Publicado em 27 de março de 2018 às 18h45.

A indignação era crescente nesta terça-feira (27) na Rússia após o incêndio em um shopping na Sibéria que deixou 64 mortos, sendo 41 crianças.

Em Kemerovo, cidade industrial de 500.000 habitantes onde ocorreu a tragédia, centenas de manifestantes, incluindo parentes das vítimas, se reuniram na praça central.

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Eles criticaram o vice-governador da região, Serguei Tsovoliov, que se ajoelhou para pedir perdão, e sobretudo o governador Aman Tuleyev, 73 anos e no poder desde 1997, a quem exigiram a renúncia.

Outros protestos foram organizados em várias cidades do país, incluindo Moscou e São Petersburgo.

"Todas essas crianças morreram por culpa da corrupção e da impunidade. O poder as matou", declarou à AFP Varia Mikhailova, de 26 anos, em São Petersburgo.

Mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, denunciou a ocorrência de uma negligência criminosa.

"O primeiro sentimento quando falamos da quantidade de crianças mortas não é o de chorar, é de gritar. E, quando ouço o que se diz aqui, francamente, surgem outros sentimentos", afirmou Putin em declarações transmitidas pela televisão durante visita ao local da tragédia.

Putin se reuniu com vários dirigentes locais e nacionais presentes em Kemerovo.

"Falamos de demografia e perdemos tanta gente. Devido a quê? Por negligência criminosa, por descuido", declarou Putin.

"O que aconteceu aqui não são confrontos, não é uma explosão de metano em uma mina. As pessoas vieram para cá se distrair. Havia crianças", acrescentou o presidente, segundo declarações difundidas pelo Kremlin.

Putin colocou uma oferenda de flores junto ao centro comercial e observou um minuto de silêncio em memória das vítimas.

Depois visitou os feridos em um hospital da cidade.

Um rapaz de 18 anos, ferido, e que escapou do fogo pulando do quarto andar do prédio, Ivan Zavarzin, explicou que muitas pessoas não perceberam a gravidade do que estava acontecendo.

"Elas achavam que era uma simulação de incêndio", segundo declarou ao site do Kremlin.

As crianças de várias escolas nos arredores de Kemerovo estavam no cinema do shopping quando o incêndio começou, e as salas de exibição, segundo testemunhas, estavam trancadas.

Na segunda, as autoridades russas denunciaram que o shopping não respeitava as normas de segurança, principalmente quanto às saídas de emergência, que ficavam fechadas, e os alarmes de incêndio, que não funcionavam.

Ainda não foram esclarecidas as circunstâncias que deram início ao fogo.

A comissão de investigação encarregada de casos criminosos na Rússia disse que descobriu violações flagrantes das regras de segurança no shopping inaugurado em 2013.

Cinco pessoas foram detidas, entre elas o arrendatário do local onde teve início o incêndio, o diretor da empresa que gerencia o centro comercial e um membro de uma empresa encarregada da segurança.

A tragédia no shopping chocou os russos, mas não os surpreendeu. Os incêndios deste tipo são muito frequentes no país.

"Eu acho que o governo, que gerencia o país, é o culpado. A quantidade de bombeiros não era suficiente. Um país tão rico não tem helicópteros suficientes. Como assim?", declarou um dos manifestantes, segundo imagens difundidas no Twitter.

Rumores correm em Kemerovo sobre um balanço de vítimas maior do que o anunciado oficialmente, o que levou o prefeita da cidade, Ilia Serediuk, a dar aceso aos necrotérios a um grupo demanifestantes para que constatarem com os próprios olhos o balanço anunciado.

O balanço de vítimas pode, no entanto aumentar. O Comitê de Investigação publicou uma lista de 67 desaparecidos.

Até o momento, apenas 25 corpos puderam ser identificados.

Todos os anos, inúmeras pessoas morrem em incêndios na Rússia, geralmente por causa de desrespeitos às normas de segurança. Em dezembro de 2015, 23 pacientes de um hospital psiquiátrico do sudoeste do país morreram no incêndio que consumiu uma construção de madeira.

O pior incêndio da história recente da Rússia aconteceu em uma discoteca de Perm, em 2009, quando 156 pessoas morreram.

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