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Maioria na Venezuela crê que militares ainda apoiam Maduro, diz pesquisa

Pesquisa exclusiva cedida a EXAME mostra como a população vê a crise na Venezuela após a tentativa de derrubada de Maduro por Guaidó

Militares marcham com Nicolás Maduro na Venezuela: maioria da população vê apoio militar ao regime de Maduro como decisivo para a sua permanência no poder (Miraflores Palace/Handout/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 7 de maio de 2019 às 12h05.

Última atualização em 7 de maio de 2019 às 12h08.

São Paulo – A maioria dos da Venezuela crê que os militares continuam apoiando Nicolás Maduro e apenas 23% discorda disso. É o que revelou uma pesquisa exclusiva produzida pela Ideia Big Data a EXAME. Entre esses extremos está 33% da população, que manifestou não saber se o aparato militar do país ainda se posiciona ao lado do chavista.

A sondagem foi realizada entre 2 e 6 de maio de 2019, poucos depois da tentativa de derrubada de Maduro por Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela. No último dia 30, o opositor afirmou ter conseguido apoio militar a seu favor e convocou a população para ir às ruas protestar contra a presidência chavista. Contudo, logo ficou claro que essa informação foi superestimada, algo que a oposição reconheceu nos dias seguintes.

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O apoio militar a Nicolás Maduro é visto como fundamental para a sua permanência no poder e a população da Venezuela sabe disso, como mostrou a pesquisa da Ideia Big Data. De acordo com os números, 77% dos venezuelanos acreditam que esses aliados são decisivos para o regime, 12% disseram não saber e 11% discordaram.

Para Mauricio Moura, CEO da Ideia Big Data, os números deixam evidente o protagonismo dos militares no processo de decisão sobre a transição de poder na Venezuela. “A população percebeu que não houve a debandada militar para a oposição e como as Forças Armadas são importantes na manutenção de Maduro no poder”, disse Moura, que conduz pesquisas de opinião no país desde 2011.

A reprovação de Maduro, no entanto, segue forte. 77% dos entrevistados enxergam o governo de maneira desfavorável, mas 19% se manifestaram favoravelmente, enquanto 10% afirmaram não saber como avaliar esse ponto. Em um levantamento anterior, também produzido pela Ideia Big Data com exclusividade a EXAME, o rechaço ao chavista estava em 76%. Na ocasião, 52% da população disse enxergar Maduro como presidente e 21% reconheceu Juan Guaidó como tal.

Por que os militares ainda apoiam Maduro?

Os dados coletados pela Ideia Big Data evidenciam o papel das Forças Armadas da Venezuela na sustentação do regime chavista. E isso, explicaram especialistas a EXAME, se deve ao grau de envolvimento do alto escalão militar no aparato estatal desde a chegada de Hugo Chávez, que fez carreira nas Forças Armadas, ao poder, em 1998.

Entre 1999 e 2013, era Chávez, 1.614 militares ocuparam posições na administração pública. A Petróleos da Venezuela, estatal que controla a exploração, produção e refino de petróleo, conta com oficiais em posições-chave. Além disso, contratos do setor estão nas mãos de empresas ligadas aos militares. Segundo a AFP, citando números de 2017, dos 32 gabinetes no governo de Maduro, doze são controlados por oficiais na ativa ou na reserva.

“Militares que consideram a deserção temem uma ação de agentes cubanos”, explicou a EXAME o especialista em política externa, Benjamin Gedan, conselheiro do programa de América Latina do Wilson Center e ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos na América do Sul durante a gestão de Barack Obama. “E outros não confiam na promessa de anistia feita pela oposição por desvios de conduta, como tráfico de drogas”.

“A queda de Maduro levará a um novo regime e como esse próximo governo julgará os antigos senhores do poder aterroriza muita gente”, diz Luiz Augusto Castro Neves, ex-embaixador do Brasil em Buenos Aires (Argentina) e Assunção (Paraguai) e vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). “Boa parte dos generais controlam o fluxo de drogas para o resto do mundo e a derrocada chavista pode levar a responsabilização dos militares envolvidos”, notou o diplomata.

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