Líderes internacionais evitam comentar crise entre Brasil e Israel
Presidente colombiano disse que brasileiro 'apenas falou a verdade'; tom entre chefes de Estado e governo é de silêncio sobre comparação entre guerra em Gaza e Holocausto
Agência de notícias
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 12h10.
Na primeira declaração de um líder internacional sobre a fala de Lula comparando a guerra em Gaza ao Holocausto, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse no X, o antigo Twitter, que o brasileiro "apenas falou a verdade". O apoio do colombiano a Lula quebrou um silêncio global sobre a crise diplomática entre Brasil e Israel.
"Expresso minha total solidariedade ao presidente Lula do Brasil. Em Gaza há um genocídio e milhares de crianças, mulheres e idosos civis são covardemente assassinados. Lula só falou a verdade e defende-se a verdade ou a barbárie nos aniquilará", escreveu no X. "Toda a região deve unir-se para acabar imediatamente com a violência na Palestina. A decisão do Tribunal Internacional de Justiça sobre Israel deve gerar aplicação e consequências nas relações diplomáticas de todos os países do mundo."
Apoios a Lula
A declaração de apoio era de certa forma esperada por parte de Petro. No ano passado, logo após o estouro do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o presidente colombiano também usou uma referência ao regime nazista para comentar as ações do governo israelense no território palestino. Diante da crise, Israel chegou a suspender as exportações de material de defesa para a Colômbia, além de exigir um pedido de desculpas.
Até o momento, a atitude de Gustavo Petro é isolada no cenário global: desde o domingo, quando Lula fez as declarações, consideradas antissemitas por algumas organizações judaicas brasileiras, apenas Brasília e o próprio governo de Israel se pronunciaram. Não houve outras declarações oficiais de apoio vindas de outros chefes de Estado, seja para condenar ou apoiar o líder brasileiro.
Para Mauricio Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, havia a expectativa que a Colômbia, que tem relações estremecidas com Israel, e cujo presidente é afeito a declarações no Twitter se pronunciasse. Contudo, ele considera ser "inimaginável que um governo da União Europeia ou EUA apoie Lula", por serem "governos pró-Israel, e para quem esse tema (Holocausto) é um tabu".
Nesta terça-feira, o porta-voz da Casa Branca, Matthew Miller, disse que o governo dos EUA "discorda" da fala de Lula, mas sem condenar a comparação com o Holocausto e centrando a crítica na acusação de genocídio. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reunirá com Lula antes da reunião de chanceleres do G20.
"Obviamente nós discordamos desses comentários. Fomos bastantes claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível", disse Miller.
A proximidade da crise com a reunião de chanceleres do G20, que começa na quarta-feira, no Rio de Janeiro, a iminência de uma ofensiva terrestre israelense de grande porte em Rafah, algo criticado até pelo governo dos EUA, e a provável votação de uma resolução, patrocinada pelos EUA, no Conselho de Segurança, prevendo uma pausa temporária nos combates, também inibem falas mais contundentes.
Longe do poder, o ex-presidente boliviano Evo Morales prestou apoio a Lula nas redes sociais — ao contrário do atual líder do país e hoje algoz de Evo, Luis Arce, aliado de Lula mas que até agora silenciou sobre o incidente. Em novembro, a Bolívia rompeu relações com Israel.
"A nossa solidariedade ao irmão Lula, injustamente declarado persona non grata, por defender a vida e a dignidade do povo palestino face ao genocídio em Gaza levado a cabo pelo Estado de Israel . Ser declarado persona non grata por um governo genocida que comete massacres contra crianças é um privilégio que reafirma o compromisso com a vida e a paz perante a comunidade internacional e os povos do mundo" disse Evo no X.