Deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma das vítimas da farsa, vai pedir à Polícia Federal informações sobre o resultado das investigações (AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2011 às 18h58.
Parlamentares citados na Lista de Furnas – documento forjado para atingir a oposição e abafar investigações sobre o escândalo do Mensalão – mostraram-se indignados diante da revelação de que dois deputados petistas estavam por trás do esquema que pretendia minar a CPI dos Correios, em 2006. As informações, obtidas por escutas da Polícia Federal, foram reveladas por reportagem da edição de VEJA desta semana.
O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma das vítimas da farsa, vai pedir à Polícia Federal informações sobre o resultado das investigações. E cobrar um aprofundamento dos trabalhos sobre um ponto específico da fraude: a coleta de sua assinatura, que se deu dentro da Câmara Federal em circunstâncias ainda não explicadas.
Maia sabe que sua assinatura foi obtida na Câmara porque a rubrica que consta do material fraudulento é a que ele usava para subscrever requerimentos na Casa. Em documentos que não tinham relação com a atividade parlamentar, ele usava outra assinatura. "A ocultação passou por dentro da Câmara dos Deputados. Temos que pedir que se avance nessa questão."
Outra vítima da montagem, o ex-deputado Raul Jungmann (PPS-PE) condenou a armação por trás da Lista de Furnas: "Ao PT, faltam limites éticos e morais, porque eles nunca aderiram à institucionalidade da democracia totalmente. O PT desenvolveu uma moral própria, que é aquela que lhe convém", disse.
José Carlos Aleluia (DEM-BA), ex-deputado também citado na lista falsa, foi à Justiça contra Nilton Monteiro, o criminoso que montou o documento sob encomenda dos petistas. Ele afirmou que a relação entre Monteiro e o PT era conhecida: "Na primeira audiência, ele foi representado por um advogado do PT. Depois, o PT começou a pagar outros advogados para ele." Aleluia também se mostrou indignado com a fraude: "É difícil fazer política quando você sabe que tem uma quadrilha, cujos nomes dos chefes são conhecidos, agindo nas barbas da polícia e da Justiça."
Osmar Serraglio (PMDB-PR), que era o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, lembra-se de ter encontrado o envelope com a Lista de Furnas em sua mesa. "Não tinha identificação, não tinha origem. Eu fiquei em dificuldade. O que eu iria fazer com aquilo? Dali a pouco, iriam dizer que o relator inventou a lista", diz o parlamentar.
Ironicamente, muitos daqueles que eram alvo do PT há seis anos agora são aliados do governo federal. A lista inclui, por exemplo, o govenador Sérgio Cabral (PMDB), os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Zezé Perrela (PDT-MG). O último, aliás, acredita que o episódio foi provocado por "uns malucos". "Eu não acredito que isso tenha sido uma coisa orgânica, centralizada. São uns malucos, uns outros aloprados", avalia o peemedebista.
Revelação – VEJA teve acesso a conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial, no primeiro semestre de 2006. Elas evidenciam que o estelionatário Nilton Monteiro – preso em outubro deste ano por forjar notas promissórias – agiu sob os auspícios dos deputados Rogério Correia e Agostinho Valente (hoje no PDT) com o objetivo de fabricar a lista. Há diálogos seguidos entre Monteiro e Simeão de Oliveira, braço direito de Rogério Correia.
Os dois discutem os padrões das assinaturas de figuras importantes da oposição naquele momento, como o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia, do DEM, e o então líder do PSDB, Antônio Carlos Pannunzio. Em troca das falsificações, Monteiro, além de receber pagamento diretos, exigia a liberação de recursos em bancos públicos. É o que demonstram as gravações.
A Lista de Furnas era uma espécie de planilha com valores supostamente repassados a campanhas eleitorais de parlamentares e governantes de oposição durante o pleito de 2002. O Caixa 2 seria comandado por Dimas Toledo, então comandante da estatal.