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Lágrimas de Putin deixam russos perplexos

População se questiona se as lágrimas do novo presidente foram mesmo de emoção após a vitória nas eleições

"São de verdade ou são lágrimas de crocodilo?", se questionou um dos internautas russos. Putin é ex-agente da agência de inteligência KGB (Oleg Nikishin/Getty Images)

"São de verdade ou são lágrimas de crocodilo?", se questionou um dos internautas russos. Putin é ex-agente da agência de inteligência KGB (Oleg Nikishin/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2012 às 06h34.

Moscou - As lágrimas derramadas pelo novo líder russo, Vladimir Putin, após sua vitória nas eleições presidenciais do último domingo deixaram perplexos os russos, acostumados ao rosto destemido do ex-agente da KGB, levando-os a se perguntarem se foram mesmo de emoção.

'São de verdade ou são lágrimas de crocodilo?', questionou nesta segunda-feira um dos internautas russos que inundaram a rede com centenas de comentários, cada um mais irônico do que o outro, sobre as já famosas 'lágrimas de Putin'.

Logo após ser informado de sua vitória eleitoral no primeiro turno, o presidente eleito fez a esperada aparição junto a seu antecessor, Dmitri Medvedev. O que ninguém imaginava é que ao subir ao palanque, cercado de centenas de bandeiras da Rússia, Putin apareceria com lágrimas nos olhos.

'Agradeço a todos os que disseram 'sim' a uma grande Rússia. Essa é nossa vitória e não vamos entregá-la a ninguém', afirmou o novo líder, com seus olhos azuis marejados.

As lágrimas claramente filmadas pelas câmeras de televisão contrastaram com a imagem de homem de ação que sempre quis transmitir Putin, que gosta de ser visto como piloto, motociclista, caçador, bombeiro e submarinista.

'Foi o vento. Foram autênticas lágrimas de vento', disse, ao se reunir com os representantes de sua campanha eleitoral.

Seu porta-voz, Dmitry Peskov, também tentou explicar que as fortes rajadas de vento que sopravam no ato realizado ao ar livre na Praça Manezh foram o real motivo das lágrimas do chefe de Governo.

Alguns analistas não hesitaram em comentar nesta segunda-feira que as lágrimas são consequência dos meses de tensão vividos desde as eleições parlamentares de dezembro, denunciadas como fraudulentas pela oposição não parlamentar.

'Moscou não acredita nas lágrimas', escreveu em referência ao famoso filme soviético um dos usuários da runet, a internet russa que transbordou nas últimas horas de comentários e imagens de um Putin emocionado.


Alguns internautas russos se orgulharam do fato de seu presidente ter mostrado seu lado mais sensível após a vitória eleitoral, mesmo que uma única vez.

Outros, no entanto, o acusam de não ter expressado a mesma emoção quando mais de 330 pessoas morreram, metade delas crianças, no sequestro de uma escola de Beslan por um comando terrorista checheno em setembro de 2004.

A rede também ficou cheia de caricaturas de Putin chorando com um lenço estampado com a cifra 64%, em referência à percentagem de votos que recebeu no último domingo.

No domingo à noite, Putin não deixou de distribuir abraços e beijos entre seus partidários e representantes, e inclusive aproveitou para recitar um poema patriótico de Sergei Yesenin, um popular poeta russo que se suicidou aos 30 anos.

Putin, que disse que sua vitória eleitoral não foi 'nenhuma surpresa', demonstrou em poucas ocasiões públicas emoções próprias dos mortais. Há quem diga que a única ocasião em que o viram chorando desconsoladamente em público foi no enterro de seu padrinho político, o prefeito de São Petersburgo, Anatoly Sobchak.

Uma biografia publicada pouco antes das eleições pela famosa jornalista russa Masha Gessen foi intitulada 'O homem sem rosto', devido à atmosfera de mistério que envolve a personalidade de Putin.

Acostumado a ridicularizar o populismo de seus oponentes políticos, Putin é muito dado a usar uma linguagem de quartel em seus discursos políticos ou durante suas reuniões com membros do Governo.

No entanto, ultimamente o líder russo, que após essa vitória eleitoral continuará no Kremlin até 2018, se permitiu algumas concessões à sensibilidade excessiva, como tocar piano ou cantar músicas em inglês em eventos beneficentes.

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