Jovem de 17 anos é a 74ª vítima de protestos na Venezuela
O ministro do Interior da Venezuela confirmou a morte do jovem e admitiu o "uso indevido e desproporcional da força" por parte dos órgãos de segurança
AFP
Publicado em 20 de junho de 2017 às 09h25.
Um jovem de 17 anos morreu e outras seis pessoas foram feridas a tiros nesta segunda-feira em Caracas, em mais um dia de protestos contra o presidente venezuelano , Nicolás Maduro, que já deixaram 74 mortos e mais de mil feridos desde 1º de abril.
O ministro do Interior, general Néstor Reverol, confirmou a morte do jovem e admitiu o "uso indevido e desproporcional da força" por parte dos órgãos de segurança.
Reverol assinalou que os supostos envolvidos estão restritos a suas unidades enquanto se determina "sua responsabilidade individual", e garantiu a "aplicação implacável da justiça".
A morte do adolescente coloca em dúvida a declaração do ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas, general Vladimir Padrino López, de que os militares não utilizam armas letais para conter os protestos.
O prefeito do município de Chacao, Ramón Muchacho, assegurou que o adolescente, identificado como Fabián Urbina, levou um tiro no peito e confirmou à AFP que outras seis pessoas foram atingidas por impactos de bala.
"São seis feridos por bala, mais o jovem que morreu. Condenamos a violência, em especial o uso das armas de fogo para reprimir os cidadãos que exercem o direito constitucional de se manifestar pacificamente".
Um vídeo da AFP mostra um militar disparando o que parece ser uma arma de fogo durante a manifestação. No protesto, milhares de opositores tentaram marchar até a sede do Poder Eleitoral, no centro de Caracas, mas foram dispersados pelos corpos de segurança com bombas de gás lacrimogêneo, jatos d'água e tiros de bala de borracha.
"As mãos de Néstor Reverol e de Vladimir Padrino estão manchadas de sangue (...). Membros da Guarda Nacional com suas pistolas atirando contra manifestantes desarmados, jovens que desejam apenas um país diferente", denunciou Julio Borges, presidente do Parlamento.
Milhares de opositores ocuparam novamente as ruas de Caracas para protestar contra Maduro e sua convocação de uma Assembleia Constituinte.
No 80º dia da atual onda de protestos, uma grande passeata tomou o leste da capital para rejeitar a Constituinte, mas foi reprimida por militares e policiais, que voltaram a utilizar bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água lançados por veículos blindados.
Os manifestantes reagiram lançando pedras e coquetéis molotov contra as forças policiais.
A multidão pretendia chegar à sede do Poder Eleitoral, no centro de Caracas.
"Quando tentamos chegar a um ponto estratégico, nos cortam o acesso, mas temos que seguir tentando", disse àAFP a manifestante Ivone Santana
Partidários de Maduro se concentraram no centro da capital para apoiar a Constituinte, qualificada por dirigentes do chavismo como "um poder absoluto" para superar a grave crises política e econômica.
O ato incluiu músicas alusivas ao projeto de reforma da Constituição e discursos de líderes governistas.
Os protestos ocorreram paralelamente à reunião de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA), na cidade mexicana de Cancún, que fracassou em sua tentativa de aprovar uma declaração exortando Maduro a reconsiderar a convocação da Constituinte.
Procuradora investe contra Maduro
A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, pediu nesta segunda-feira que se investiguem denúncias de corrupção no governo de Maduro.
O pedido foi feito a centenas de funcionários de seu gabinete, os quais foram às ruas hoje para apoiá-la.
"Por que não há alimentos e remédios? Será que os recursos são usados para fins distintos? Não sei, não posso garantir, mas seria bom que os procuradores anticorrupção investigassem", declarou Luisa, que discursou na sede da Procuradoria, no centro de Caracas.
"É preciso investigar o assunto das drogas", continuou Ortega, sem especificar se há suspeitas sobre funcionários públicos envolvidos.
Chavista históriCa, a procuradora-geral enfrenta Maduro e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) por sentenças que, segundo ela, romperam a ordem constitucional. Além disso, Luisa Ortega rejeita as bases estabelecidas pelo presidente para convocar a Assembleia Constituinte no país.