Israel esboça plano para pós-guerra em Gaza em meio a bombardeios
O plano para o "dia seguinte" à guerra foi apresentado na noite de quinta-feira pelo ministro Gallant
Agência de notícias
Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 10h48.
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, esboçou um plano preliminar para a administração da Faixa de Gaza quando o conflito terminar e propôs que nem Israel nem o Hamas governem esse território palestino, que continua sob intenso bombardeio nesta sexta-feira, 5.
O plano para o "dia seguinte" à guerra foi apresentado na noite de quinta-feira pelo ministro Gallant, na véspera da chegada ao Oriente Médio do secretário de Estado americano, Antony Blinken. Essa será sua quarta viagem à região desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, em 7 de outubro.
O futuro do pequeno território palestino está no centro das preocupações da comunidade internacional, em um contexto de crescente pressão por um cessar-fogo para proteger os civis e de advertências da ONU sobre uma crise humanitária que deixou milhares de pessoas deslocadas e expostas à fome e a doenças.
"O Hamas não governará Gaza, (e) Israel não governará os civis de Gaza", disse Gallant, apresentando o plano do pós-guerra à imprensa.
"Os habitantes de Gaza são palestinos. Consequentemente, entidades palestinas estarão encarregadas (da gestão) na condição de que não haja nenhuma ação hostil, ou ameaça, contra o Estado de Israel", acrescentou.
Segundo o plano, a guerra israelense no território continuará até garantir o retorno dos reféns capturados pelo Hamas nos ataques de 7 de outubro e garantir que tenham sido desmanteladas "as capacidades militares e de governo do Hamas", que controla Gaza desde 2007.
Depois disso, ainda conforme o plano, terá início uma nova fase, na qual as organizações palestinas assumirão a gestão do território.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas depois que o grupo lançou ataques sangrentos em 7 de outubro que deixaram 1.140 mortos, a maioria civis, de acordo com um balanço da AFP baseado em números israelenses.
A ofensiva de Israel deixou grande parte de Gaza reduzida a escombros e deixou pelo menos 22.600 mortos e 57.910 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O total de óbitos inclui as 162 pessoas falecidas nas últimas 24 horas.
Sem água, eletricidade ou comida
Na noite de quinta-feira, as forças israelenses intensificaram seus ataques no sul e no centro de Gaza, e várias testemunhas relataram intensos combates.
Também ontem, o Exército de Israel relatou mais bombardeios em torno da cidade de Gaza, uma área devastada por combates urbanos, assim como ataques em Khan Yunis, a maior cidade do sul do território. Os militares israelenses disseram que mataram combatentes do Hamas em Khan Yunis e que atingiram "infraestrutura terrorista".
Enquanto isso, a população de Gaza continua seu êxodo para fugir dos combates.
"Fugimos do acampamento de Jabalia para Maan (em Khan Yunis) e agora fugimos de Maan para Rafah", relatou uma mulher que preferiu não ser identificada.
"Estavam atirando. (Não temos) água, nem eletricidade, nem comida", desabafou.
Durante sua visita, Blinken enfrentará a questão espinhosa de pedir às autoridades israelenses que tomem "medidas imediatas" para aumentar a assistência humanitária a Gaza, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou sua preocupação com as recentes declarações de ministros israelenses que pedem aos palestinos para deixarem Gaza, o que desperta o temor de expulsões em massa.
O plano apresentado por Gallant observa, no entanto, que, embora Israel vá manter o direito de operar no território, não haverá "presença civil israelense na Faixa de Gaza, depois de alcançar os objetivos da guerra".
Tensões no Oriente Médio
O temor persistente desde o início do conflito de uma escalada regional aumentou esta semana após a morte, em um ataque com mísseis no Líbano, do número dois do Hamas, Saleh al Aruri.
O líder morreu no sul de Beirute, reduto do Hezbollah, movimento apoiado pelo Irã que, desde o início do conflito, está envolvido em combates com tropas israelenses na fronteira sul do Líbano.
O Hezbollah informou na quinta-feira que quatro de seus combatentes foram mortos, elevando para 129 o número de vítimas desde o início das hostilidades na fronteira.
Nas redes sociais, Gallant disse que Israel prefere "uma solução política" aos confrontos na fronteira, mas que a "janela de tempo" está se esgotando.
As tensões regionais se agravaram após o ataque com explosivos que deixou 84 mortos no Irã na quarta-feira, em uma homenagem pelo aniversário de quatro anos da morte do general Qassem Soleimani. Ele foi assassinado em um ataque de drone americano em Bagdá.
Ontem, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria do ataque, depois de o Irã ter, inicialmente, responsabilizado Israel e os Estados Unidos.