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Irlanda do Norte x Irlanda: a tensão que está encurralando o Brexit

Entenda o que é o "backstop" e como a questão se tornou uma das mais delicadas no doloroso divórcio entre Reino Unido e União Europeia

A primeira-ministra britânica, Theresa MAy: incerta sobre vitória, May postergou votação do acordo do Brexit no parlamento (Henry Nicholls/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 15h18.

Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 10h47.

São Paulo – A primeira-ministra britânica, Theresa May, oficializou nesta segunda-feira, 10, que não levará adiante a votação do acordo do Brexit , anteriormente marcada para acontecer no parlamento nesta terça-feira, 11. O movimento foi visto como uma admissão de May de que o documento trazido por ela de Bruxelas não seria aprovado e fragilizou ainda mais a sua posição.

Há uma série de questões no acordo acertado que trouxeram descontentamento não apenas para os opositores desse longo e dolorido divórcio, mas também para os aliados de May . E uma das mais sensíveis é a que trata dos limites terrestres entre a República da Irlanda, que é parte do bloco europeu, e a Irlanda do Norte, que é parte do Reino Unido e estará fora da EU quando o Brexit se consolidar.

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Ao todo, são 500 quilômetros de fronteira. Atualmente, milhares de pessoas cruzam os limites entre os países, assim como bens e serviços, sem qualquer interferência alfandegária. Com o Brexit, contudo, isso teria de mudar, uma vez que o Reino Unido estaria fora do mercado comum europeu e controles fronteiriços teriam de ser instaurados. Surgiu, então, a possibilidade que ficou conhecida como “backstop”.

O tratado de saída da União Europeia negociado entre Londres e Bruxelas prevê uma “rede de segurança”, que ficou conhecida como "backstop". Nela, o Reino Unido permaneceria em união alfandegária com a UE e a Irlanda do Norte ficaria no mercado único europeu, caso os lados não alcançassem uma solução melhor até 2020.

A ideia por trás dessa possibilidade, dizia May, era a de evitar o ressurgimento de uma “fronteira dura” entre os países , que estiveram envolvidos em um violento conflito por décadas. Na visão de críticos, contudo, e de acordo com um parecer jurídico do advogado do governo, essa previsão poderia manter o país preso à União Europeia por tempo indefinido e seria uma ameaça para a integridade territorial do

 

A perspectiva desagradou também aos unionistas irlandeses, que não querem que a Irlanda do Norte tenha um regime diferente daquele do Reino Unido e representam um grupo fundamental para a frágil maioria que May detém no parlamento. Para o grupo, uma diferenciação como essa pode acabar os empurrando em direção à uma união com a República da Irlanda, um dos pontos centrais do conflito.

O acordo fechado por May e a UE em meados de novembro foi destroçado por aliados e oponentes. Como resultado das críticas, e certa de que esse acordo seria derrotado, a primeira-ministra decidiu postergar a votação do documento.

Durante o discurso no qual o adiamento foi anunciado, May foi alvo de gargalhadas e chacotas. Numa tentativa de fazer uma pergunta retórica à plateia, disse que a questão sobre o Brexit era “se a Casa estava disposta a votá-lo”. E inesperadamente ouviu um sonoro não de alguns membros da plateia.

Enrubesceu, ficou sem graça, mas seguiu adiante. “Aqueles que discordam da solução que encontramos, que apresentem uma alternativa”, disse May, “se querem um novo referendo, sejam honestos que isso arriscará dividir o país novamente. Se querem continuar na união aduaneira, sejam honestos de que isso envolve aceitar a livre circulação. E se querem sair sem acordo, lembrem-se de que isso causará danos em lugares que não podem tolerá-los”.

O tom da fala da primeira-ministra foi duro, é bem verdade, e cumpriu o objetivo de mostrar aos parlamentares as verdadeiras limitações e possibilidades das negociações de saída do bloco. Igualmente perceptível, contudo, foi a sensação de que May alertava não apenas os seus colegas, mas também a si mesma.

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