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Guerra contra drogas nas Filipinas faz primeiras vítimas de 2017

A maioria das "mortes sob investigação"ocorre pelas mãos dos "vigilantes", justiceiros que combatem supostos usuários de drogas e narcotraficantes

Filipinas: A maioria das "mortes sob investigação"ocorre pelas mãos de justiceiros (Romeo Ranoco/Reuters)
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EFE

Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 08h29.

Manila - Após uma breve pausa no Ano Novo, o sangue voltou a correr nas Filipinas , principalmente nos bairros mais pobres, onde as balas fizeram novas vítimas em plena cruzada do presidente Rodrigo Duterte para eliminar as drogas a qualquer custo.

Um rio de esgoto divide o "barangay" (como se chamam os bairros nas Filipinas) 132 da cidade de Pasay, na região metropolitana de Manila, e impregna a área com um cheiro irrespirável à meia-noite de terça-feira; em ambos os lados há barracos, e na porta de um deles está o cadáver ensanguentado de Antonio Perez, de 33 anos, mecânico de profissão.

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Mari Luz, de 36, vivia com ele há dois anos nesta casa improvisada com chapas de madeira de menos de quatro metros quadrados e de teto tão baixo que não permite ficar de pé. Seus gritos desesperados rompem o silêncio da madrugada à espera do legista para recolher o corpo.

Três tiros nas costas acabaram com a vida de Antonio. "Não sabemos quem fez isso", comenta um agente, enquanto mostra um relatório preliminar escrito à mão: "objetos encontrados na cena do crime: cápsula de projétil calibre 45 e papelote de 'shabu' (metanfetamina)".

O caso engrossa lista das "mortes sob investigação", aproximadamente metade das mais de 6.100 execuções extrajudiciais provocadas até o momento pela "guerra contra as drogas" iniciada por Duterte em junho do ano passado.

A maioria das "mortes sob investigação", que paradoxalmente quase nunca acabam sendo investigadas, ocorre pelas mãos dos "vigilantes", justiceiros que combatem supostos usuários de drogas e narcotraficantes aproveitando o clima de impunidade no país.

Os vigilantes costumam embalar os corpos de suas vítimas com fita isolante e colar cartazes com frases como "Eu era traficante, não siga meu exemplo". No caso de Antonio não tiveram tempo; a delegacia fica a apenas 300 metros de distância.

Duterte venceu as eleições presidenciais em maio do ano passado com a promessa de eliminar o problema das drogas nos seus primeiros seis meses de mandato - mais tarde prorrogou para 12 - e convocou em várias ocasiões agentes e cidadãos a assassinar narcotraficantes e usuários de drogas.

Outras execuções da "guerra contra as drogas", menos da metade, são cometidas pelos policiais, que têm a permissão de atirar para matar se considerarem que o suspeito impõe resistência.

Este é o caso de dois jovens - pequenos narcotraficantes, segundo o relatório policial - que nessa mesma noite, encorajados pelo efeito do "shabu", invadiram um lava-jato próximo para roubar aparelhos eletrônicos.

Os agentes, que esperavam na porta do estabelecimento, puxaram o gatilho sem perguntar, segundo a imprensa local.

Enquanto isso, no "barangay" 132, após silenciados os gritos de sua companheira, o barraco caindo aos pedaços de Antonio permanece aberto. Há um maço de cigarros, roupa suja, dois ventiladores e um lençol, tudo impregnado de sangue.

Os vizinhos se recolhem em suas pequenas casas e somente María, uma mulher de 62 anos e olhos assustados, está disposta a falar.

"Neste 'barangay' há muitos problemas com as drogas. Há pouco um viciado em 'shabu' manteve sua filha pequena com uma faca no pescoço durante horas e a polícia teve que intervir", relata.

Duterte, que em dezembro pediu desculpas pelas vidas de inocentes perdidas em sua campanha particular, defende que os fins justificam os meios; que não é problema acabar com milhares de vidas de forma mais ou menos arbitrária se isso for salvar 100 milhões de filipinos das drogas e crimes relacionados.

Os cidadãos não parecem se importar tanto com a crueldade de seu presidente - 85% da população apoia a "guerra contra as drogas" - como os Estados Unidos, a União Europeia e organizações internacionais, que nos últimos meses apresentaram várias queixas e denúncias por violações dos direitos humanos.

"Sou o presidente de um país soberano e não responderei a ninguém além do povo filipino", advertiu Duterte em setembro do ano passado em referência ao presidente americano, Barack Obama, segundos antes de chamá-lo "filho da p..." no mais polêmico dos vários excessos verbais do excêntrico líder asiático. EFE

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