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Grande embarque de etanol aos EUA é sonho distante

Os temores de os norte-americanos serem inundados pelo biocombustível tropical parecem infundados, pois a indústria do Brasil se debate para atender até mesmo sua demanda

A demanda por etanol brasileiro supera a oferta em quase 25% (Petrobras/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2011 às 17h15.

São Paulo - Por três décadas, o governo dos Estados Unidos procurou proteger seus produtores de milho e de etanol de uma temida onda de exportações do biocombustível brasileiro, impondo uma tarifa de importação que fez o país sul-americano protestar.

Mas agora, com a taxa dos Estados Unidos expirando no final do ano, os temores de os norte-americanos serem inundados pelo biocombustível tropical parecem infundados, pois a indústria do Brasil se debate para atender até mesmo a demanda local e provavelmente poupará produtores dos EUA da concorrência por mais alguns anos.

Três fatores têm dificultado a vida das destilarias de etanol no Brasil: a produção de cana-de-açúcar caiu este ano pela primeira vez em uma década, reduzindo a oferta; a demanda global por açúcar continuou forte e o crescimento econômico robusto do Brasil tem fortalecido a demanda doméstica por combustível.

A demanda por etanol brasileiro supera a oferta em quase 25 por cento, de acordo com dados da Reuters e da indústria. Pode levar mais de dois anos para que novos investimentos corrijam o desequilíbrio, atrasando a emergência do Brasil como a "Arábia Saudita do biocombustível".

A escassez brasileira é tão aguda que o segundo maior produtor de etanol do mundo está atualmente importando etanol de milho dos EUA, ajudando os Estados Unidos a destronarem o Brasil como maior exportador mundial.

"O fim da tarifa é um começo, mas eu não vejo grandes mudanças nas exportações nos próximos três anos", disse Antônio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, a entidade que representa a indústria no centro-sul.

"Ainda precisamos resolver como suprir nosso próprio mercado", disse Padua.

Isso deve vir como um alívio aos produtores norte-americanos, que lutaram para proteger seu mercado de etanol produzido com milho subsidiado contra produtores do Brasil, cujo clima e solo permitem uma abundante produção de cana-de-açúcar, matéria-prima para o biocombustível muito mais eficiente que o milho.

Mesmo com as novas regras de meio ambiente dos EUA dando um grande incentivo à demanda por etanol, produtores norte-americanos têm pouco a temer em relação ao Brasil até, pelo menos, 2014, dizem analistas e representantes da indústria.


A tarifa de 54 centavos por galão sobre o etanol importado expira em 31 de dezembro. Produtores brasileiros esperam que isso os ajude a atingir a meta de mais de dobrar a produção até 2020.

Mas mesmo se os brasileiros resolvam seu déficit de abastecimento, outros fatores vão provavelmente dificultar um ataque em larga escala no mercado de etanol dos EUA. Estes incluem a falta de dutos, navios, instalações portuárias e capacidade de armazenamento em ambos os países, junto com um mercado pouco desenvolvido para contratos futuros de etanol líquido.

Uma obra de 6,5 bilhões de reais, com 1.300 quilômetros de duto ligando produtores a portos no Brasil começou este ano. A conclusão de todo o projeto não deve ocorrer até o final de 2015. Em 2020, deve mover 22 bilhões de litros por ano, um volume quase igual a toda a atual produção brasileira.

Queda da produção brasileira

A produção brasileira de etanol caiu 17 por cento na atual temporada, para 22,8 bilhões de litros, ou cerca de 25 por cento menos que a demanda potencial. Quase todos os carros vendidos no Brasil agora rodam tanto a gasolina quanto a álcool, permitindo que o condutor escolha combustível que for mais interessante economicamente.

A queda na produção, principalmente devido ao clima adverso e ao baixo investimento no replantio da safra, após a crise financeira de 2008, pegou companhias em meio a seus ambiciosos programas de expansão. A cana deve ser replantada a cada cinco ou seis anos.

Ao mesmo tempo, a demanda por combustíveis no mercado brasileiro subiu à medida que a economia cresceu. Nos últimos anos, o Brasil cresceu a taxas mais rápidas em décadas.

Um novo investimento em usinas, no entanto, não se materializou, uma vez que os custos subiram e produtores enfrentam competição "injusta" com os preços da gasolina.

O governo, que possui participação de controle da Petrobras, tem impedido que a companhia repasse a alta dos preços do petróleo aos distribuidores, em um esforço para manter a inflação doméstica controlada.

O etanol, que chegou a se tornar o combustível mais usado em carros de passeio, recuou para segundo lugar, atrás da gasolina.


Brasil pode importar mais etanol dos EUA

Enquanto isso, as importações brasileiras de etanol dos EUA podem crescer em 2012. Isso limitaria a capacidade do país de exportar etanol aos EUA apesar do crescimento antecipado na demanda, por conta de novas regras ambientais.

Em 2010, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA reconheceu o etanol feito a partir de cana como um combustível renovável de baixo carbono avançado, que pode reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa.

O etanol celulósico e biodiesel de biomassa, feitos nos Estados Unidos, também são considerados biocombustíveis avançados, mas a oferta desses combustíveis tem sido muito baixa para atender a demanda. O aumento de preços resultante permitiu que o etanol brasileiro competisse, apesar da tarifa.

Em 2011 as exportações brasileiras subiram para 1,64 bilhão de litros (433 milhões de galões). As importações ficaram quase no mesmo nível, a 1,66 bilhão de litros, quase tudo dos Estados Unidos.

"É possível que estes volumes de etanol negociados em 2012/13 aumentem", disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari.

Nos preços atuais, não há incentivo econômico para exportar etanol brasileiro ao mercado dos EUA, disse em relatório o Itaú, o maior banco do Brasil do setor privado.

A baixa oferta no Brasil e uma falta de infraestrutura devem transformar o fim da tarifa de etanol dos EUA, saudado como uma grande vitória brasileira, em um não-acontecimento, disse Padua, da Unica, embora com o tempo isso possa mudar.

Com o fim da tarifa, traders vão estar mais propensos a assinar contratos de fornecimento de longo prazo, que permitem aos produtores investirem em terras e capacidade industrial. É aí que as vantagens do Brasil vão se tornar aparentes e as exportações vão subir, disse ele.

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São Paulo - Por três décadas, o governo dos Estados Unidos procurou proteger seus produtores de milho e de etanol de uma temida onda de exportações do biocombustível brasileiro, impondo uma tarifa de importação que fez o país sul-americano protestar.

Mas agora, com a taxa dos Estados Unidos expirando no final do ano, os temores de os norte-americanos serem inundados pelo biocombustível tropical parecem infundados, pois a indústria do Brasil se debate para atender até mesmo a demanda local e provavelmente poupará produtores dos EUA da concorrência por mais alguns anos.

Três fatores têm dificultado a vida das destilarias de etanol no Brasil: a produção de cana-de-açúcar caiu este ano pela primeira vez em uma década, reduzindo a oferta; a demanda global por açúcar continuou forte e o crescimento econômico robusto do Brasil tem fortalecido a demanda doméstica por combustível.

A demanda por etanol brasileiro supera a oferta em quase 25 por cento, de acordo com dados da Reuters e da indústria. Pode levar mais de dois anos para que novos investimentos corrijam o desequilíbrio, atrasando a emergência do Brasil como a "Arábia Saudita do biocombustível".

A escassez brasileira é tão aguda que o segundo maior produtor de etanol do mundo está atualmente importando etanol de milho dos EUA, ajudando os Estados Unidos a destronarem o Brasil como maior exportador mundial.

"O fim da tarifa é um começo, mas eu não vejo grandes mudanças nas exportações nos próximos três anos", disse Antônio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, a entidade que representa a indústria no centro-sul.

"Ainda precisamos resolver como suprir nosso próprio mercado", disse Padua.

Isso deve vir como um alívio aos produtores norte-americanos, que lutaram para proteger seu mercado de etanol produzido com milho subsidiado contra produtores do Brasil, cujo clima e solo permitem uma abundante produção de cana-de-açúcar, matéria-prima para o biocombustível muito mais eficiente que o milho.

Mesmo com as novas regras de meio ambiente dos EUA dando um grande incentivo à demanda por etanol, produtores norte-americanos têm pouco a temer em relação ao Brasil até, pelo menos, 2014, dizem analistas e representantes da indústria.


A tarifa de 54 centavos por galão sobre o etanol importado expira em 31 de dezembro. Produtores brasileiros esperam que isso os ajude a atingir a meta de mais de dobrar a produção até 2020.

Mas mesmo se os brasileiros resolvam seu déficit de abastecimento, outros fatores vão provavelmente dificultar um ataque em larga escala no mercado de etanol dos EUA. Estes incluem a falta de dutos, navios, instalações portuárias e capacidade de armazenamento em ambos os países, junto com um mercado pouco desenvolvido para contratos futuros de etanol líquido.

Uma obra de 6,5 bilhões de reais, com 1.300 quilômetros de duto ligando produtores a portos no Brasil começou este ano. A conclusão de todo o projeto não deve ocorrer até o final de 2015. Em 2020, deve mover 22 bilhões de litros por ano, um volume quase igual a toda a atual produção brasileira.

Queda da produção brasileira

A produção brasileira de etanol caiu 17 por cento na atual temporada, para 22,8 bilhões de litros, ou cerca de 25 por cento menos que a demanda potencial. Quase todos os carros vendidos no Brasil agora rodam tanto a gasolina quanto a álcool, permitindo que o condutor escolha combustível que for mais interessante economicamente.

A queda na produção, principalmente devido ao clima adverso e ao baixo investimento no replantio da safra, após a crise financeira de 2008, pegou companhias em meio a seus ambiciosos programas de expansão. A cana deve ser replantada a cada cinco ou seis anos.

Ao mesmo tempo, a demanda por combustíveis no mercado brasileiro subiu à medida que a economia cresceu. Nos últimos anos, o Brasil cresceu a taxas mais rápidas em décadas.

Um novo investimento em usinas, no entanto, não se materializou, uma vez que os custos subiram e produtores enfrentam competição "injusta" com os preços da gasolina.

O governo, que possui participação de controle da Petrobras, tem impedido que a companhia repasse a alta dos preços do petróleo aos distribuidores, em um esforço para manter a inflação doméstica controlada.

O etanol, que chegou a se tornar o combustível mais usado em carros de passeio, recuou para segundo lugar, atrás da gasolina.


Brasil pode importar mais etanol dos EUA

Enquanto isso, as importações brasileiras de etanol dos EUA podem crescer em 2012. Isso limitaria a capacidade do país de exportar etanol aos EUA apesar do crescimento antecipado na demanda, por conta de novas regras ambientais.

Em 2010, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA reconheceu o etanol feito a partir de cana como um combustível renovável de baixo carbono avançado, que pode reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa.

O etanol celulósico e biodiesel de biomassa, feitos nos Estados Unidos, também são considerados biocombustíveis avançados, mas a oferta desses combustíveis tem sido muito baixa para atender a demanda. O aumento de preços resultante permitiu que o etanol brasileiro competisse, apesar da tarifa.

Em 2011 as exportações brasileiras subiram para 1,64 bilhão de litros (433 milhões de galões). As importações ficaram quase no mesmo nível, a 1,66 bilhão de litros, quase tudo dos Estados Unidos.

"É possível que estes volumes de etanol negociados em 2012/13 aumentem", disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari.

Nos preços atuais, não há incentivo econômico para exportar etanol brasileiro ao mercado dos EUA, disse em relatório o Itaú, o maior banco do Brasil do setor privado.

A baixa oferta no Brasil e uma falta de infraestrutura devem transformar o fim da tarifa de etanol dos EUA, saudado como uma grande vitória brasileira, em um não-acontecimento, disse Padua, da Unica, embora com o tempo isso possa mudar.

Com o fim da tarifa, traders vão estar mais propensos a assinar contratos de fornecimento de longo prazo, que permitem aos produtores investirem em terras e capacidade industrial. É aí que as vantagens do Brasil vão se tornar aparentes e as exportações vão subir, disse ele.

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