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Sem Chávez, governo ataca oposição na Venezuela

A Assembleia Nacional venezuelana deu início a uma investigação por corrupção contra dois deputados da oposição


	Chávez: o presidente venezuelano não é visto desde 11 de dezembro, data em que passou por uma cirurgia contra o câncer em Cuba
 (AFP/ Leo Ramirez)

Chávez: o presidente venezuelano não é visto desde 11 de dezembro, data em que passou por uma cirurgia contra o câncer em Cuba (AFP/ Leo Ramirez)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2013 às 22h47.

O governo venezuelano lançou uma ofensiva contra a oposição, que inclui ameaças de prisão por suspeita de corrupção, coincidindo com a longa ausência por doença do presidente Hugo Chávez, situação que, segundo analistas, une os chavistas, que desmentem que haja um vazio de poder.

Na noite de terça-feira, a Assembleia Nacional (AN), controlada pelos chavistas, iniciou uma investigação por corrupção contra dois deputados do partido Primeiro Justiça (PJ - social-cristão), do líder opositor Henrique Capriles.

"Não vamos prendê-los, a justiça vai prendê-los", ameaçou o presidente da AN, Diosdado Cabello, que também chamou o jovem líder opositor de "Pablo Escobar venezuelano".

Nesta quarta-feira, o deputado Pedro Carreño, presidente da Comissão da Controladoria da Assembleia formalizou a denúncia ante o Ministério Público e pediu que "sejam colocados sob custódia em sua residência".

Há semanas, o governo denunciou que grupos da "ultradireita" venezuelana e estrangeira, "infiltrados" no país, planejavam um atentado contra o vice-presidente Nicolás Maduro e Cabello. Na terça, o mesmo Maduro apontou como mentor desse suposto plano o ex-chefe de operações de inteligência da polícia Henry López Sisco, refugiado na Costa Rica depois de ter sido acusado pela justiça venezuelana de um massacre em 1986.

E dias antes, o vice-presidente havia acusado Capriles de conspirar contra o governo e a paz do país a partir da Colômbia, onde se reuniu com o ex-presidente do governo espanhol Felipe González.

Para o analista político Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, "na medida que se amplia a ausência de Chávez, torna-se mais perigoso a possível percepção de um vazio de poder, e a oposição fica mais perigosa como um ator que possa ser visto com interesse por parte da população".


Se Chávez não puder seguir exercendo a presidência, o governo terá que convocar eleições no prazo de um mês.

Desde que em 11 de dezembro foi submetido a sua quarta operação para o tratamento de um câncer em Havana, nenhum de seus colegas latino-americanos que foram visitá-lo disseram tê-lo visto, nem uma imagem do mandatário foi divulgada.

O governo tenta "amedrontar o adversário para diminuí-lo e enviar mensagens concretas de que não há vazio e que, inclusive, pode ser mais forte e mais duro do que o líder ao qual estavam acostumados", explica León à AFP.

Capriles reagiu nesse mesmo sentido: "Começaram a armar contra pessoas da minha equipe. Que aqui ninguém se confunda, isto não é nem contra (os deputados Richard) Mardo, nem contra (Tomás) Guanipa, nem contra (Gustavo) Marcano: eles me querem".

No entanto, para o analista Farith Fraija, a ausência de Chávez "não tem nada a ver" com as acusações destas últimas semanas nem com as denúncias de corrupção apresentadas na Assembleia Nacional, que, segundo ele, mostram que há uma parte da oposição que está atuando à margem do sistema democrático venezuelano".

Maduro e Cabello, as duas caras mais visíveis do chavismo sem Chávez, endureceram em uníssono seus discursos contra a oposição, à qual acusam de querer enfrentá-los para gerar divisão no chavismo. Antes de partir para Havana, Chávez nomeou Maduro seu herdeiro político caso ficasse impossibilitado de governar.

"Este burguezinho está bem derrotado e por onde mostrar a cara vai levar pau do povo", disse na terça Maduro, referindo-se a Capriles, adversário que perdeu pela menor diferença de votos -11%- dos quatro que Chávez enfrentou em eleições presidenciais desde 1998.

Cabello, derrotado por Capriles para o governo de Miranda em 2008, afirmou que "não há conciliação possível" com o velho sistema biparatidário de social-democratas e democrata-cristãos, que governaram a Venezuela desde 1958 até a chegada de Chávez ao poder em 1999, e hoje integram a coalizão opositora.

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