Militares tomam praça em frente à sede da Presidência em La Paz, Bolívia (AIZAR RALDES/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 27 de junho de 2024 às 16h38.
Última atualização em 27 de junho de 2024 às 17h15.
O governo boliviano anunciou nesta quinta-feira a detenção de 17 pessoas, incluindo militares ativos e reformados, além de vários civis, pela suposta ligação com a tentativa de golpe de Estado contra o presidente de esquerda Luis Arce nesta quarta. Mais cedo, o ministro do Governo da Bolívia, Eduardo del Castillo, divulgou que cerca de dez militares envolvidos tinham sido apreendidos. Ele afirmou que a polícia está trabalhando para desmantelar uma “rede antidemocrática” que tentou quebrar a ordem constitucional.
"Temos bastante informação para poder desmantelar toda essa rede antidemocrática, que foi formada por um grupo minúsculo de militares que tiveram a ousadia de tentar tomar o poder pela força com metralhadoras, com veículos", afirmou Del Castillo.
Também nesta quinta-feira, a ONU pediu uma investigação “exaustiva e imparcial” sobre as acusações de atos de violência em torno do golpe fracassado na Bolívia e solicitou “julgamentos justos” para os detidos. A tentativa de golpe agravou a tensão no país andino, confrontado com um prolongado declínio econômico.
O general Juan José Zúñiga, apontado como o responsável por tentativa de golpe de Estado na Bolívia, foi preso ainda na noite de quarta-feira. A prisão foi determinada pela Procuradoria-Geral do país. Ao ser capturado, o ex-comandante das Forças Armadas acusou, sem provas, o presidente Luis Arce de encenar um "autogolpe" para "aumentar sua popularidade".
Segundo publicado pelo El País, Zúñiga disse a jornalistas que esteve com o presidente no domingo, ocasião em que Arce teria reclamado que a situação estava "muito complicada". Segundo o general, o presidente propôs "montar algo" para elevar a popularidade. Zúñiga afirmou ter questionado se veículos blindados deveriam ser usados, e o chefe de Estado teria dado sinal positivo.
Enquanto Zúñiga era preso, de acordo com imagens da televisão estatal, o vice-ministro de Governo, Jhonny Aguilera, declarou: "Está detido, meu general!". O ex-comandante havia cercado o palácio presidencial por horas com tropas e veículos blindados. Ele afirmou que "a mobilização de todas as unidades militares" busca expressar sua insatisfação com a situação do país.
"Já basta. Não pode haver essa deslealdade", afirmou, acrescentando que continuava obedecendo ao presidente Arce "por enquanto", mas que tomaria medidas para "mudar o Gabinete de governo".
Arce convocou os bolivianos a se mobilizar contra uma tentativa de "golpe de Estado" e nomeou um novo comando militar horas depois de ter pedido respeito à democracia ao denunciar "mobilizações irregulares" de militares em frente ao Palácio Queimado, a sede presidencial em La Paz, na Praça Murillo. Em meio à movimentação das tropas, Arce anunciou o general José Wilson Sánchez Velázquez como novo comandante das Forças Armadas, sucedendo ao general José Zúñiga.
Ao assumir, Sánchez ordenou o regresso das tropas a seus quartéis, que procederam a se desmobilizar da praça. A tentativa de golpe foi condenada por todo o espectro político boliviano e pela comunidade internacional. Em nota, o governo brasileiro condenou, "nos mais firmes termos", a tentativa de golpe com a mobilização irregular de tropas do Exército "em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país".
Depois das 17h na Bolívia (18h em Brasília), Arce fez um pronunciamento desde a Casa Grande do Povo, um edifício adjacente à sede do governo, para transmitir uma mensagem de união e calma à população. Ao lado dos ministros de seu gabinete e da vice-presidente David Choquehuanca, enfatizou a necessidade de "aplacar os apetites inconstitucionais”.
"Convocamos o povo boliviano a se mobilizar e a manter a calma contra o golpe de Estado, em favor da democracia", disse Arce. "Todos juntos vamos derrotar qualquer intentona golpista."
Mais tarde, depois que os militares começaram a deixar a praça, Arce discursou perante centenas de seguidores desde o balcão do palácio presidencial. Ele afirmou que "ninguém pode tirar a democracia que conquistamos" e que "estamos seguros que vamos seguir trabalhando". Ao ordenar o retorno das tropas aos quartéis, o novo comandante militar nomeado por Arce disse que "o general Zúñiga foi um bom comandante, e lhe pedimos que não derrame o sangue de nossos soldados".
"Sejamos cientes de que o governo legalmente constituído permanece, de acordo com as normas do Estado", afirmou Sánchez.
No início do levante na Praça Murillo, o general Zúñiga, que estava no cargo desde novembre de 2022, alertou que não permitiria uma possível nova candidatura em 2025 do ex-presidente Evo Morales (2006-2019). Antes de entrar num veículo blindado, ele declarou que "as Forças Armadas pretendem reestruturar a democracia que seja uma verdadeira democracia, não de uns donos que já estão 30 e 40 anos no poder".