Geithner pede a ministros do G-20 para não dependerem dos EUA, diz WSJ
Secretário do Tesouro dos EUA disse que o consumo do país não absorve mais todas as exportações mundiais
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Busan, Coreia do Sul - O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse aos seus homólogos estrangeiros, em termos extraordinariamente diretos, que eles já não podem contar com o consumidor americano para absorver as exportações mundiais e resgatar a economia global. Geithner emitiu seu alerta em uma carta privada enviada aos ministros de Finanças do G-20 antes da reunião de dois dias do grupo, que começou nesta sexta-feira em Busan, na Coreia do Sul.
"Tendo em vista as grandes mudanças em curso na economia dos EUA em direção a uma maior poupança interna, sem um progresso maior no reequilíbrio da demanda global, as taxas de crescimento mundial vão ficar abaixo do potencial", escreveu Geithner, de acordo com uma cópia da carta obtida pelo Wall Street Journal. "Nesse contexto, nós estamos preocupados com o projetado enfraquecimento da demanda doméstica na Europa e no Japão."
Na sua carta, Geithner pressiona claramente os grandes países exportadores, como Alemanha, Japão e China, a reduzirem sua dependência dos mercados dos EUA como principal fonte de crescimento econômico.
"A mudança necessária para uma poupança maior nos EUA deve ser complementada por um crescimento mais forte da demanda interna no Japão e nos países europeus superavitários e o crescimento sustentado da demanda privada, juntamente com uma política mais flexível de câmbio na China", escreveu Geithner.
Os secretários do Tesouro dos EUA têm transmitido a mesma mensagem de inúmeras formas por vários anos, pedindo que Europa, China e países emergentes da Ásia adotem políticas para incentivar seus próprios consumidores a aumentarem as compras de bens e serviços dos EUA, enquanto prometiam vagamente uma mudança nos padrões econômicos americanos em relação à poupança.
Mas a mensagem de Geithner é uma indicação de que as autoridades norte-americanas acreditam agora que a necessidade das famílias americanas de economizar mais e a do governo de cortar seus déficits orçamentários, uma vez que o país começou a se recuperar da crise financeira, significa que mudanças tectônicas estão em curso na economia global.
Na verdade, os governos do G-20 se comprometeram no ano passado a desenvolver planos para tal reajustamento, que agora começam a ser revisados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao mesmo tempo, Geithner aconselhou seus colegas a planejarem uma restauração mais equilibrada do seu orçamento no médio prazo. O secretário ressaltou, porém, que isso não deve ser feito rapidamente. Ele escreveu que, embora os países devam tranquilizar os mercados de forma crível prometendo controlar seus gastos no futuro, eles não devem tomar ações imediatas que possam travar a frágil recuperação.
"As reformas fiscais são necessárias para o crescimento, mas elas não terão sucesso se não formos capazes de reforçar a confiança na recuperação global", acrescentou o secretário.
Geithner acrescentou que a retirada do "estímulo fiscal e monetário" - em outras palavras, os cortes orçamentários do governo e as altas taxas de juros - deverão se mantidos apenas até que o setor privado recupere a sua posição pós-recessão.
Essa mensagem parecia destinada principalmente aos grandes devedores da Europa, como Grécia, Espanha e Portugal, onde é crescente a pressão para que reduzam seus déficits a fim de tranquilizar os detentores de títulos de que esses países continuam solventes.
O secretário do Tesouro dos EUA também exortou a Europa a recapitalizar os bancos enfraquecidos e divulgar mais informações sobre a saúde das instituições financeiras.
Geithner e o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, acreditam ter ajudado a estabilizar o sistema financeiro norte-americano no ano passado por meio da realização de testes de stress nos bancos individuais norte-americanos, divulgando publicamente os resultados e ajudando instituições enfraquecidas a reconstruir seu capital.
Até agora, os reguladores dos bancos europeus se recusaram a realizar tais testes públicos de stress.As informações são da Dow Jones.