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Gaza tem mais de 400 mil casos de doenças infecciosas, alerta ONU

Em quase três meses de guerra, bombardeios, incursões terrestres e deslocamentos em massa agravaram a crise humanitária na região

Jovem chora pelos corpos das famílias Salah e Abu Hatab, mortos quando a tenda onde se abrigavam foi atingida por bombardeios israelenses (AFP/AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 13h43.

Última atualização em 4 de janeiro de 2024 às 15h13.

Apesar do anúncio de Israel, na segunda-feira, de planos para a retirada de suas tropas temporariamente da Faixa de Gaza, o cenário no enclave palestino ainda é preocupante. Para além das 22,3 mil mortes já registradas pelo Ministério da Saúde do Hamas em quase três meses de guerra, iniciada no dia 7 de outubro, a Organização das Nações Unidas (ONU) chama a atenção para um dado alarmante: mais de 400 mil casos de doenças infecciosas foram notificados na região desde o início dos combates.

O dado, citado pelo site de notícias Middle East Eye, com sede no Reino Unido, aponta ainda que, desse total, pelo menos 180 mil padecem com infecções respiratórias superiores. Na cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde mais de 1 milhão de palestinos buscam abrigo após as sucessivas incursões israelenses no norte e as ordens para deslocamento dadas pelo Exército, centenas dormem ao ar livre com roupas de material inadequado para se protegerem do frio, alertou a ONU em uma publicação divulgada na terça.

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As crianças menores de 5 anos, por sua vez, são acometidas pela diarreia. Ao menos 136 mil casos foram registrados — metade da população dessa faixa etária. Também há casos de sarna e piolhos (55,4 mil). No documento, a ONU reforçou o alerta para um “risco iminente” de surtos de doenças transmissíveis no enclave palestino.

Histórico trágico

Gaza, com seus mais de 2 milhões de habitantes, já experimentava uma condição sanitária precária e era altamente dependente da ajuda de organizações internacionais. Com a guerra, porém, a crise foi elevada a uma escala sem precedentes.

Além das causas diretas, como as ofensivas militares israelenses, o deslocamento em massa contribuiu para o agravamento do cenário. Já nos primeiros dias do conflito, a população do norte de Gaza foi instada sucessivas vezes pelo Exército de Israel a se deslocar rumo ao sul.

Ao longo das semanas, a ordem se estendeu à população do sul — que, com um norte destruído e sob um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo severo desde 2007, imposto por Israel quando o Hamas chegou ao poder, encontra-se sem opções. Até o momento, a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) estima que 85% da população já foi transferida, alguns dos civis, mais de uma vez.

Como consequência, tem-se a superlotação de hospitais e abrigos. No norte, o maior hospital de Gaza, o al-Shifa, palco de uma incursão do Exército de Israel em novembro, abriga milhares pessoas, entre equipe médica, pacientes e deslocados.

Em novembro do ano passado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que, nos edifícios da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), as filas para tomar banho chegavam a demorar horas. Em uma atualização na terça-feira, a agência observou que, até o dia 30 de dezembro, pelo menos 486 pessoas dividiram um banheiro em instalações da agência, na cidade de Rafah.

A fome também segue assolando a população. No alerta de terça-feira, o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA), em uma postagem no X (antigo Twitter) alertou que “pular refeições é a norma” e que “muitas pessoas passam o dia e a noite inteira sem comer”.

Além dos milhares de mortos, a ONU apontou que pelo menos 7 mil pessoas foram dadas como desaparecidas ou soterradas sob os escombros.

Alertas similares

Em novembro, a Unicef alertou que o enclave estava à beira de uma verdadeira “tragédia” devido à falta de combustível e de água. Sem a fonte de energia, com superlotação e chuvas constantes atingindo a região, os palestinos enfrentaram “uma séria ameaça de surto de doenças em massa” que, a agência observou, poderia ser "letal”.

A agência de notícias turca Anadolu afirmou em dezembro que o Egito anunciou o aumento da entrada diária de combustíveis na região, passando de 129 mil litros para 180 mil. O novo volume deveria elevar o número entre 60 a 80 por dia — antes da guerra, entravam 50 caminhões-tanque diariamente.

Também em novembro, o PMA denunciou uma crise no abastecimento da cadeia alimentar da região, alertando que toda a população do enclave palestino estavam passando fome e corriam o risco de morrer por inanição.

Fio de esperança

Como um fio de esperança em meio ao caos, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) afirmou que os hospitais do Norte de Gaza — que no fim de dezembro atingiram o colapso — estão conseguindo retomar aos poucos alguns serviços hospitalares. Entre eles, está o al-Ahli Arab, que ficou limitado a prestar atendimento à pessoas gravemente feridas.

“Isso ocorreu em meio a grandes riscos que cercam o movimento e o trabalho das equipes médicas devido ao bombardeio contínuo de bairros residenciais e nas proximidades de instalações de saúde”, afirmou o OCHA, acrescentando que "o Ministério da Saúde de Gaza, a UNRWA e a OMS estão coordenando um plano para a reativação dos centros de saúde para satisfazer as necessidades das pessoas deslocadas em todos os locais de deslocamento."

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