Paris - Quinze dias após os atentados de Paris , a França e a Europa adotaram uma série de medidas contra a ameaça terrorista, que se traduzem para o Estado francês em custos de mais de 700 milhões de euros em três anos.
Este é um "enorme desafio", "uma mudança de escala que requer medidas extraordinárias", resumiu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, a repórteres.
"Ao todo, cerca de 3.000 pessoas serão vigiadas" por suas conexões com jihadistas ou "terroristas na Síria e no Iraque", declarou, citando um aumento significativo no número de pessoas a serem vigiadas "na esfera ciberjihadista francófona".
Nenhuma medida fere "o respeito ao Estado de direito", assegurou, por sua vez, a ministra da Justiça, Christiane Taubira.
Na esteira dos anúncios franceses, a Comissão Europeia também deve publicar medidas de segurança para reforçar a cooperação antiterrorista e prevenir novos ataques.
Bruxelas também discute a polêmica criação de um registo europeu de passageiros aéreos, previsto em uma diretiva de 2011, mas bloqueado no Parlamento Europeu, que reclama uma legislação comum em matéria de proteção de dados.
Os meios a disposição da UE permanecem limitados: as questões de inteligência permanecem em grande parte dependentes da vontade dos Estados-membros, muitos dos quais relutam em trocar informações sensíveis para além de seus aliados mais próximos.
Meios financeiros e humanos
O plano de reforço da "luta contra o terrorismo" na França prevê um total de 425 milhões de euros em "investimentos, equipamentos e operações" ao longo de três anos, segundo Manuel Valls. Com as despesas pessoais, a carga chega a 700 milhões de euros, que será "compensada" por cortes nos gastos públicos.
Em três anos, 2.680 novos postos de trabalho dedicados à luta contra o terrorismo serão criados, especialmente nos ministérios do Interior, da Defesa e da Justiça.
"Cerca de 60 capelães adicionais" serão recrutados para as prisões, que se somarão aos 182 já existentes. Alguns dos autores dos atentados de Paris se radicalizaram na prisão. O primeiro-ministro indicou que setores específicos para prisioneiros extremistas serão definidos.
Um site criado para informar o público sobre os meios para lutar "contra a doutrinação jihadista" será criado, enquanto um projeto de lei sobre a inteligência será discutido pelo Parlamento "no início de março", acrescentou Valls.
Enquanto 122 mil policiais, gendarmes e soldados foram mobilizados para proteger os locais sensíveis no país, o presidente François Hollande decidiu manter 7.500 postos de um total de 22.000 que seriam suprimidos no ministério da Defesa.
Em paralelo, o presidente anunciou um "plano de ação" para reforçar a transmissão na escola de valores como o respeito, a igualdade e a laicidade.
"Nenhum incidente deve permanecer impune", declarou em referência aos "comportamentos que colocam em causa os valores da República ou a autoridade" dos professores.
Desde os ataques em Paris, entre 7 e 9 de janeiro (17 mortos no total), incidentes têm prejudicado a imagem de unidade do país em várias escolas, principalmente em bairros sensíveis, onde estudantes perturbaram as homenagens às vítimas dos atentados, chegando, em alguns casos, a expressar apoio aos ataques jihadistas.
Apartheid na França?
Enquanto isso, as investigações sobre os ataques seguem em andamento. Quatro homens suspeitos de terem dado apoio material a Amedy Coulibaly, um dos autores dos atentados de Paris, foram acusados e detidos na madrugada desta quarta-feira, anunciou o promotor da capital francesa, François Molins.
Os investigadores descobriram que três dos acusados se dirigiram em várias ocasiões a lojas de armas nos arredores de Paris para comprar "material", incluindo coletes à prova de balas e bombas de gás lacrimogêneo.
Os quatro homens (Willy P., Christope R., Tonino G. e Michael A.) são acusados de associação terrorista para cometer crimes contra pessoas e um por posse e porte de armas. Nenhum deles está acusado de cumplicidade de assassinato.
Já um francês de 28 anos, Fritz Joly-Jiachin, suspeito de ligações com os irmãos Kouachi, pode ser extraditado ainda hoje da Bulgária, onde foi preso no dia 1º de janeiro, quando estava prestes a entrar na Turquia.
De acordo com várias fontes, o governo pode adotar uma proposta da oposição de direita, apoiada pela maioria socialista na Assembleia Nacional, de "uma pena de indignidade nacional" privando os acusados de terrorismo de seus direitos cívicos, civis e políticos.
A ideia é preservar o clima de unidade nacional que ganhou força após os ataques.
O terreno é sensível: enquanto os ataques foram cometidos por jihadistas franceses de origem imigrante, Valls criticou na terça-feira um "apartheid territorial, social e étnico" que corrói a França.
- 1. 1º Iraque
1 /10(Getty Images)
GTI: 10 Nº de mortes (2013): 6.362 Nº de feridos (2013): 14.947 O Iraque viu o número de mortes causadas por atos terroristas aumentar em 162% de 2012 para 2013. A maioria não teve a autoria descoberta, mas 77% dos que foram identificados são atribuídos ao EI. Os ataques suicidas estão entre os métodos mais usados. Em 2013, ocorreram 232 atos e cada um deles causou, em média, sete mortes. A capital Bagdá foi palco de 25% dos incidentes. Ao todo, 135 cidades registraram ao menos um ataque no ano passado.
2. 3º Paquistão 2 /10(Getty Images)
GTI: 9,37 Nº de mortes (2013): 2.345 Nº de feridos (2013): 5.035 De 2012 para 2013, o número de mortos por atos terroristas aumentou em 37% e a quantidade de feridos em 28%. Como no Afeganistão, a maioria dos eventos (49%) no Paquistão é atribuída ao Taleban. O pior ato de 2013 foi um ataque suicida realizado por dois homens. O episódio resultou na morte de 119 pessoas e deixou 219 feridos. Existem 23 grupos considerados terroristas em atividade no país e mais de 500 cidades foram palco de ao menos um incidente.
3. 4º Nigéria 3 /10(Getty Images)
GTI: 8,58 Nº de mortes (2013): 1.826 Nº de feridos (2013): 457 O pior ataque de 2013 deixou 142 mortos, danificou mais de 100 estabelecimentos e foi realizado por um homem ligado ao Boko Haram, principal organização em atividade no país. 90% dos atos terroristas no ano passado são atribuídos ao grupo. As táticas terroristas empregadas na Nigéria diferem daquelas vistas em países como Iraque ou Afeganistão. Os grupos usam armas de fogo e facões com maior frequência, enquanto que, no Oriente Médio, os principais métodos são explosões e ataques suicidas.
4. 5º Síria 4 /10(Getty Images)
GTI: 8,12 Nº de mortes (2013): 1.078 Nº de feridos (2013): 1.776 O número de ataques em solo sírio subiu de 136 em 2012 para 217 em 2013. A quantidade de mortos também aumentou: 600 contra 1.000. O crescimento dramático de atividades terroristas, diz o estudo, é consequência da guerra civil que assola o país desde os idos de 2011. 70% dos atos foram explosões e bombardeios e o alvo principal dos grupos foi a população. 18% dos eventos eram sequestros e os reféns, em sua maioria, eram ocidentais que trabalhavam em organizações humanitárias e jornalistas.
5. 6º Índia 5 /10(Daniel Beherulak/Getty Images)
GTI: 7,86 Nº de mortes (2013): 404 Nº de feridos (2013): 719 Em apenas um ano, houve um aumento de 70% nas atividades terroristas na Índia e o número de mortes subiu de 238 para 400. Grupos de orientação maoísta e que atuam nas regiões de Bihar, Chhattisgarh e Jharkhand (localizados ao leste do país) são os maiores responsáveis pelos atos. Já na fronteira com o Paquistão, são os extremistas islâmicos os principais atores envolvidos nos incidentes. Seus ataques em 2013 resultaram em 15% das mortes registradas neste período.
6. 7º Somália 6 /10(John Moore/Getty Images)
GTI: 7,41 Nº de mortes (2013): 405 Nº de feridos (2013): 492 De acordo com o estudo, a violência relacionada ao terrorismo na Somália segue aumentando, especialmente na região sul, onde aconteceram 90% dos eventos. O número de mortes aumentou em 32% de 2012 para 2013, ano que é considerado o mais violento do país nos últimos 14. O principal grupo em atividade é o Al-Shabaab, composto por mais de quatro mil extremistas islâmicos e afiliado ao Al-Qaeda. Foi o responsável, por exemplo, pelo ataque ao shopping Westgate, que resultou em 67 mortes e deixou 175 feridos no ano passado.
7. 8º Iêmen 7 /10(Getty Images)
GTI: 7,31 Nº de mortes (2013): 291 Nº de feridos (2013): 583 Existem hoje nove organizações terroristas em atividade no Iêmen. Contudo, duas delas são responsáveis por 80% dos atos realizados no país no ano passado, o Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), afiliado do Al Qaeda global, e o Houthis. O braço do Al Qaeda global é considerado uma das células mais ativas do grupo e, apenas em 2013, o AQPA causou mais de 177 mortes e foi o único a realizar ataques suicidas. Já o Houthis matou, em média, seis pessoas por ataque.
8. 9º Filipinas 8 /10(Jeoffrey Maitern)
GTI: 7,29 Nº de mortes (2013): 292 Nº de feridos (2013): 444 O número de incidentes terroristas nas Filipinas dobrou de 2012 para 2013, revelou a análise, assim como dobrou a quantidade de mortes. Diferentemente de países no Oriente Médio, a maioria das organizações no país tem aspirações nacionalistas e separatistas, e não religiosas. Em 2013, 438 cidades sofreram ao menos um ataque. Grande parte dos atos foi atribuída aos grupos Novo Exército Popular, Abu Sayyaf e Frente Moro de Libertação Islâmica. Os principais alvos foram autoridades do governo, forças policiais e personalidades do mundo dos negócios.
9. 10º Tailândia 9 /10(Rufus Cox/Getty Images)
GTI: 7,19 Nº de mortes (2013): 131 Nº de feridos (2013): 398 A quantidade de mortes por conta de ataques terroristas caiu em 2013 em relação a 2012. Curiosamente, houve mais incidentes que em anos anteriores. A maioria, contudo, não teve a autoria identificada. De acordo com o estudo, grande parte das atividades está concentrada no sul do país, onde há conflitos entre separatistas islâmicos e o governo. Os principais grupos atuantes na Tailândia são o Barisan Revolusi Nasional (BRN), o Aba Cheali e o Runda Kumpalan Kecil. Os dois últimos são dissidências do BRN.
10. Agora veja os locais mais perigosos do mundo 10 /10(Getty Images)