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Forçada a combater EI, Turquia ataca rebeldes curdos

A dupla ofensiva quer evitar que os curtam influenciem o norte da Síria e que fortaleçam o presidente Recep Tayyip Erdogan

Membros do exército da Turquia (Ilyas Akengin/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2015 às 16h50.

Forçada a se engajar na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI), a Turquia está aproveitando a ofensiva para atacar os rebeldes curdos, correndo o risco de romper a frágil trégua decretada há dois anos.

O governo turco modificou na semana passada sua política na Síria e decidiu atacar pela primeira vez o EI, que acusa de estar por trás do ataque, que deixou 32 mortos na segunda-feira na cidade de Suruc (sul).

Em paralelo, as autoridades turcas enviaram seus caças militares para o norte do Iraque para bombardear bases do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), após uma série de ataques mortais contra as forças de segurança.

A Turquia combina, assim, as duas operações dentro da mesma "guerra ao terrorismo", embora as milícias curdas na Síria, próximas do PKK, e os jihadistas lutem entre si na Síria.

De acordo com observadores, a dupla ofensiva visa evitar que os curdos estendam sua influência no norte da Síria e, ao mesmo tempo, fortalecer o presidente Recep Tayyip Erdogan, em caso de eleições antecipadas.

"Este governo equipara o PKK ao EI e, embora as duas organizações sejam extremamente diferentes, serve para os objetivos do governo", diz Marc Pierini, do Carnegie Foundation Europe.

De acordo com David Romano, da Universidade de Missouri (Estados Unidos), a prioridade da Turquia é clara: primeiro os rebeldes curdos e, em seguida, os jihadistas. "Ancara mata dois coelhos com uma cajadada só", afirma este especialista do movimento curdo.

Além disso, o fato de permitir o exército americano de utilizar sua base militar de Incirlik (sul) para atacar o EI na Síria e no Iraque, faz parte da estratégia do governo turco para que Washington se afaste dos curdos.

Desde as derrotas dos jihadistas em Kobane e Tall Abyad, Ancara está preocupado com o avanço das milícias curdas no norte da Síria e quer evitar a criação em sua fronteira de uma região autônoma curda.

Isso explica a equivalência que faz o governo turco entre jihadistas e o PKK.

"Embora os movimentos atuem de maneiras diferentes, eles compartilham as mesmas táticas e os mesmos objetivos", assegurou o porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, ao jornal Sabah.

Política interna

O atentado de Suruç e os ataques aos curdos ocorrem pouco depois das eleições legislativas de 7 de junho, em que Erdogan perdeu a maioria absoluta que mantinha no parlamento há 13 anos.

"A comunicação sobre a 'guerra contra o terrorismo' se enquadra no âmbito da política interna", segundo Marc Pierini, que assegura que Erdogan espera que uma ofensiva contra o PKK valerá votos entre o eleitorado nacionalista.

"A guerra ao terror é um pretexto. O objetivo real é se vingar das eleições de 7 de junho", explica Cengiz Candar, do jornal Radikal.

De acordo com analistas, a opção oposta - procurar a paz com os curdos, após um conflito que deixou 40 mil vítimas - poderia tornar-se uma vitória política para Erdogan, que em 2012 aventurou-se a começar a negociar com o líder do PKK, Abdullah Ocalan, odiado por muitos turcos.

David Romano acredita que o PKK tem agora outras prioridades que sua luta na Turquia: "está muito ocupado lutando contra os jihadistas na Turquia (...) Eu acredito que vão retirar-se [da Turquia] e não vão retomar seriamente a guerrilha".

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Forçada a se engajar na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI), a Turquia está aproveitando a ofensiva para atacar os rebeldes curdos, correndo o risco de romper a frágil trégua decretada há dois anos.

O governo turco modificou na semana passada sua política na Síria e decidiu atacar pela primeira vez o EI, que acusa de estar por trás do ataque, que deixou 32 mortos na segunda-feira na cidade de Suruc (sul).

Em paralelo, as autoridades turcas enviaram seus caças militares para o norte do Iraque para bombardear bases do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), após uma série de ataques mortais contra as forças de segurança.

A Turquia combina, assim, as duas operações dentro da mesma "guerra ao terrorismo", embora as milícias curdas na Síria, próximas do PKK, e os jihadistas lutem entre si na Síria.

De acordo com observadores, a dupla ofensiva visa evitar que os curdos estendam sua influência no norte da Síria e, ao mesmo tempo, fortalecer o presidente Recep Tayyip Erdogan, em caso de eleições antecipadas.

"Este governo equipara o PKK ao EI e, embora as duas organizações sejam extremamente diferentes, serve para os objetivos do governo", diz Marc Pierini, do Carnegie Foundation Europe.

De acordo com David Romano, da Universidade de Missouri (Estados Unidos), a prioridade da Turquia é clara: primeiro os rebeldes curdos e, em seguida, os jihadistas. "Ancara mata dois coelhos com uma cajadada só", afirma este especialista do movimento curdo.

Além disso, o fato de permitir o exército americano de utilizar sua base militar de Incirlik (sul) para atacar o EI na Síria e no Iraque, faz parte da estratégia do governo turco para que Washington se afaste dos curdos.

Desde as derrotas dos jihadistas em Kobane e Tall Abyad, Ancara está preocupado com o avanço das milícias curdas no norte da Síria e quer evitar a criação em sua fronteira de uma região autônoma curda.

Isso explica a equivalência que faz o governo turco entre jihadistas e o PKK.

"Embora os movimentos atuem de maneiras diferentes, eles compartilham as mesmas táticas e os mesmos objetivos", assegurou o porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, ao jornal Sabah.

Política interna

O atentado de Suruç e os ataques aos curdos ocorrem pouco depois das eleições legislativas de 7 de junho, em que Erdogan perdeu a maioria absoluta que mantinha no parlamento há 13 anos.

"A comunicação sobre a 'guerra contra o terrorismo' se enquadra no âmbito da política interna", segundo Marc Pierini, que assegura que Erdogan espera que uma ofensiva contra o PKK valerá votos entre o eleitorado nacionalista.

"A guerra ao terror é um pretexto. O objetivo real é se vingar das eleições de 7 de junho", explica Cengiz Candar, do jornal Radikal.

De acordo com analistas, a opção oposta - procurar a paz com os curdos, após um conflito que deixou 40 mil vítimas - poderia tornar-se uma vitória política para Erdogan, que em 2012 aventurou-se a começar a negociar com o líder do PKK, Abdullah Ocalan, odiado por muitos turcos.

David Romano acredita que o PKK tem agora outras prioridades que sua luta na Turquia: "está muito ocupado lutando contra os jihadistas na Turquia (...) Eu acredito que vão retirar-se [da Turquia] e não vão retomar seriamente a guerrilha".

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