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Exportadores são culpados por déficit americano, diz economista

De acordo com Catherine Mann, do Institute for International Economics, outros países devem adotar reformas para que deixem de depender tanto do consumo americano

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Em 1999, quando o déficit da balança comercial dos Estados Unidos atingia a marca de 200 bilhões de dólares, a economista Catherine Mann considerou o número extremamente preocupante e alertou para o perigo de uma crise financeira. Passados cinco anos desde a publicação de seu livro ("Is The US Trade Deficit Sustainable?", sem tradução para o português), o rombo na balança já chega a 726 bilhões de dólares. A crise, no entanto, não veio. "Mas isso não quer dizer que possa ser completamente descartada", diz Catherine, que trabalha junto ao Institute for International Economics (IIE), de Washington.

Da década de 90 até os dias de hoje, a balança comercial americana saiu do equilíbrio para um déficit que já corresponde a 5,8% do PIB. O problema, segundo Catherine, não está na falta de exportações, e sim no excesso de importações. Com a economia aquecida, juros baixos e diversos impostos com desconto, o americano médio acaba sendo praticamente forçado a comprar. O efeito China, que trouxe produtos ainda mais baratos ao mercado mundial, contribuiu ainda mais para a onda consumista que vem acompanhando os Estados Unidos.

Apesar da gravidade do problema, ainda é possível evitar uma crise financeira. Mas Catherine é categórica em afirmar: "engana-se quem acha que se trata de uma questão doméstica americana". Segundo ela, os Estados Unidos têm algumas reformas a realizar, mas nada adiantará se não houver a colaboração de outras economias, principalmente as asiáticas.

"Isso se transformou em um problema internacional, e é preciso que outros governos tenham consciência disso", diz a economista. Ela explica que, enquanto os americanos consomem irresponsavelmente, gerando o déficit na balança comercial, alguém está financiando esse rombo. "Bancos asiáticos, sobretudo, têm em mãos uma quantidade significativa de títulos americanos. Mesmo com todo esse déficit, eles ainda mantêm esses papéis em seus porfólios", diz Catherine.

Uma questão internacional

O motivo de tal insistência está no sucesso da economia americana. Como numa maldição: apesar de gerar um déficit assustador, os Estados Unidos pagam o preço de ser a economia mais robusta do mundo. Mesmo correndo riscos, os investidores internacionais ainda confiam na capacidade de os Estados Unidos honrarem suas dívidas. E assim seguem financiando o déficit da balança comercial americana.

A culpa, entretanto, não é apenas dos bancos asiáticos. Segundo Catherine, economias de todo o mundo tornaram-se dependentes da demanda americana, e precisam vender para os Estados Unidos para crescer. "O ideal seria que esses países adotassem reformas que aumentassem seus consumos internos. Em outras palavras, para resolver o problema do déficit americano é preciso um esforço internacional", diz.

Enquanto isso não acontece, um outro perigo entra em cena: o protecionismo. Uma ala considerável de políticos americanos, sobretudo os republicanos, costuma utilizar a "ameaça chinesa" para justificar um discurso nacionalista, com propostas para taxar as importações e, assim, proteger a economia local. Catherine diz que existe o perigo de uma onda protecionista este ano, com as eleições parlamentares marcadas para novembro.

"Não há dúvidas de que muitos políticos utilizarão propostas protecionistas durante a campanha, pois é o tipo do assunto que atrai votos. No entanto, mesmo esses políticos têm consciência de que o protecionismo é uma estratégia ineficiente, que só faz aumentar os custos das importações. Por isso, acredito que o assunto ficará apenas no discurso", diz.

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