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Evo Morales denuncia caráter intervencionaista dos EUA na América Latina

"Quando não há golpes de caráter militar, buscam golpes judiciais ou congressais", disse o líder boliviano

Evo Morales: presidente boliviano afirmou que a candidatura de Lula "é a vontade do povo" (Adriano Machado/Reuters)
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EFE

Publicado em 16 de junho de 2018 às 11h57.

David Morales Urbaneja

Haia - O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou neste sábado em entrevista à Agência Efe que a América Latina "já não é o pátio traseiro dos Estados Unidos" e denunciou o caráter intervencionista do país ao citar "golpe" no Brasil e tentativa de "golpe militar" na Venezuela.

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"Quando não há golpes de caráter militar, buscam golpes judiciais ou congressais", disse o líder boliviano em referência ao Brasil, onde a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu um impeachment e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso.

O presidente boliviano acrescentou que a rejeição de Lula a um indulto em troca de reconhecer sua culpa demonstra que "é um preso político" e advogou pela "unidade e a força do povo brasileiro".

"Tenho certeza que vamos conseguir a libertação de Lula. Se voltasse, alguns países da América Latina outra vez se fortaleceriam nesta luta ideológica, programática, de libertação perante a dominação do império americano", afirmou o boliviano, que também expressou sua "esperança" que os candidatos da esquerda tenham bons resultados nas próximas eleições do México e da Colômbia.

Morales confidenciou também que dirigentes do continente lhe informaram, "por amizade e por confiança", que o vice-presidente americano, Mike Pence, "tenta convencer alguns países amigos dos Estados Unidos" para acabar com o Governo da Venezuela.

O líder defendeu que "uma intervenção militar só vai criar outro conflito armado" e acrescentou que o alvo dessa operação não seria o presidente do Governo, Nicolás Maduro, mas "o petróleo venezuelano, e isso os venezuelanos sabem".

Morales usou como exemplo a intervenção militar de 2011 na Líbia, onde foram usados "os direitos humanos e a ajuda humanitária" como "pretextos" para "invadir e bombardear".

O presidente boliviano afirmou que, apesar da atual crise política e social nesse país do norte da África, o Ocidente "não vai intervir" de novo lá porque o petróleo líbio é agora "das petrolíferas dos Estados Unidos e de algumas europeias".

O dirigente reiterou o caráter "intervencionista" dos Estados Unidos na América Latina e criticou o recente status da Colômbia como "parceiro global" da Otan, que qualificou de "agressão militar à toda América Latina e Caribe".

"Tenho muita confiança nos movimentos sociais" da América Latina, disse o líder, pois se organizam "para lutar e conseguir reivindicações perante o patrão Estado ou o patrão privado".

"No caso da Bolívia, não há patrão Estado, o Estado é escravo do povo. Em outros casos, os povos reagem quando as demandas não são atendidas", acrescentou.

Segundo o presidente boliviano, "em alguns países onde retorna o modelo neoliberal, há concentrações e manifestações", por isso que "enquanto existir o império e o capitalismo, a luta seguirá nos povos de todo o mundo".

Morales realiza uma viagem a Haia, na Holanda, para participar de reuniões privadas com a equipe jurídica que leva as reivindicações que a Bolívia e o Chile mantêm perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).

La Paz deve apresentar antes de 3 de setembro uma contramemória perante o tribunal para se defender das acusações de Santiago, que denunciou o país vizinho pelo uso das águas do Rio Silala, um curso de água que nasce na Bolívia e cruza a fronteira para o Chile.

Santiago considera que o Silala é um rio internacional e ambos países conservam direitos com relação às suas águas, enquanto La Paz assegura que é uma canalização feita no começo do século XX por uma companhia chilena em Potosi e que foi ilegal e abusiva para seus interesses.

Perguntado pelas relações com o Chile, Morales garantiu que está "disposto a retomar o diálogo dos diferentes temas, não só de Silala", mas também "de outros pendentes, como os campos minados", que ficam em algumas zonas da fronteira.

"Temos que pensar em grande, em como acabar com estes conflitos para não deixá-los às futuras gerações", concluiu o boliviano, que apelou pelo "restabelecimento das relações diplomáticas" com o Chile. EFE

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