EUA pedem a China para usar sua 'influência' sobre o Irã e ajudar a conter ataques dos houthis
Rebeldes apoiados por Teerã têm realizado disparos contra embarcações no Mar Vermelho em apoio aos palestinos em Gaza; autoridades sino-americanas também abordaram questão sobre Taiwan
Repórter de macroeconomia
Publicado em 27 de janeiro de 2024 às 18h17.
O governo dos Estados Unidos pediu para a China utilizar sua "influência" sobre o Irã e "deter" os ataques dos rebeldes houthis do Iêmen, apoiados por Teerã, contra navios no Mar Vermelho, informou uma fonte da Casa Branca, neste sábado.
O apelo ocorreu durante uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores de Pequim, Wang Yi, e conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, na Tailândia.
"Pequim diz que aborda a questão com o Irã, mas vemos o que está acontecendo e os ataques parecem continuar", declarou o alto funcionário da Casa Branca, sob condição de anonimato.
O jornal Financial Times já tinha divulgado que os diplomatas americanos vinham instando a China a pressionar o Irã para convencer o grupo a suspender os ataques. O tema chegou a ser abordado pelo secretário de Estado, Antony Blinken, com diplomatas chineses.
Desde novembro, ataques da milícia prejudicaram o comércio entre a Ásia e a Europa e alarmaram grandes potências. Os houthis — que controlam a capital iemenita, Sanaa, e boa parte do norte — dizem agir em solidariedade aos palestinos na Faixa de Gaza, que, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, estão sob cerco e bombardeios do Exército israelense.
Como resposta, no último dia 11, os EUA iniciaram uma ofensiva com ataques aéreos para intimidar os rebeldes. Mas os resultados, até agora, não são exatamente claros.
O governo americano, apesar de apontar a destruição de mísseis e mecanismos de lançamento nos bombardeios, reconhece que muitos dos equipamentos usados pelos rebeldes são portáteis e de fácil deslocamento. Ao longo dos últimos anos, o país tampouco esteve entre as prioridades dos serviços de inteligência ocidentais, dificultando o trabalho de determinar alvos importantes.
Na semana passada, o presidente Joe Biden, apesar de declarar que os bombardeios continuarão, afirmou que eles não vão parar os houthis. O mesmo foi definido pelo governo internacionalmente reconhecido do Iêmen, que pediu o apoio dos EUA e da Arábia Saudita para "eliminar" a capacidade do grupo de realizar ataques as navegações na região.
'O maior desafio'
O alto funcionário da Casa Branca disse que a as autoridades conversaram por 12 horas ao longo de dois dias. O encontro deve resultar em uma ligação "durante a primavera" (hemisfério norte, outono no Brasil) entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente americano, Joe Biden, acrescentou.
Pequim classificou as conversações como "francas e substanciais". Na mesma linha, a Casa Branca disse que a reunião fazia "parte dos esforços para manter linhas abertas de comunicação e gerenciar com responsabilidade a concorrência" entre as duas potências.
Além da questões no Mar Vermelho, as autoridades também abordaram Taiwan, a questão mais delicada. Pequim, que não reconhece oficialmente Taiwan e não apoia a independência da ilha, acusa os Estados Unidos de serem o principal fornecedor de armas e o principal apoiador das autoridades taiwanesas.
"O maior desafio para as relações sino-americanas é o movimento de independência de Taiwan", disse Wang Yi a Sullivan, segundo comunicado de Pequim, acrescentando que "os EUA devem [...] implementar concretamente seu compromisso de não apoiar a independência de Taiwan e de apoiar a reunificação pacífica da China". De acordo com a Casa Branca, Sullivan "enfatizou a importância de manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan".
A eleição presidencial de Taiwan, em janeiro, tensionou ainda mais os laços entre as duas potências. William Lai é vice-presidente do atual governo, que adotou uma política de aproximação com os Estados Unidos e distanciou-se da China. A vitória de Lai nas urnas foi duramente criticada por Pequim, enquanto Washington parabenizou o povo taiwanês.
Dispostos a manter diálogo
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA também mencionou, durante a reunião com Wang Yi, a "profunda preocupação" de Washington com as últimas manobras da Coreia do Norte, que realizou disparos de centenas de projeteis em ilhas próximas à Coreia do Sul, alegando ameaça à paz pelo vizinho. Os americanos gostariam de conversar com o vice-ministro das Relações Exteriores da China, que visitou a Coreia do Norte, após seu retorno.
Durante as conversas na sexta-feira e no sábado, os dois países também reafirmaram seu desejo de manter um diálogo sobre inteligência artificial na primavera e saudaram o progresso na cooperação antidrogas.
Pequim e Washington tiveram disputas nos últimos anos sobre questões como tecnologia, comércio, direitos humanos, o status de Taiwan e a soberania sobre o Mar do Sul da China. Após um período particularmente tenso no início de 2023, os dois governos estão dispostos a continuar o diálogo, embora algumas áreas de atritos permaneçam.
No ano passado, Xi Jinping realizou sua primeira visita aos Estados Unidos desde 2017. Em seu segundo encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden, os dois lados firmaram compromissos para restaurar as comunicações militares diretas, suspensas desde o ano passado, e para controlar a venda de produtos usados na fabricação do fentanil, droga que é problema de saúde pública nos EUA.