Espanha fecha boates e proíbe fumar na rua após aumento de casos de covid
Com o país sofrendo uma nova onda de infecções, a Alemanha declarou a Espanha como zona de risco
Mariana Martucci
Publicado em 14 de agosto de 2020 às 21h05.
Última atualização em 14 de agosto de 2020 às 21h22.
Fechamento de discotecas, restrições ao fumo nas ruas, um alerta para os jovens: a Espanha multiplicou, nesta sexta-feira, 14, as medidas para tentar conter o aumento alarmante de infecções pelo coronavírus.
Diante do agravamento dos casos — 3.000 novas infecções em 24 horas registradas tanto na quinta quanto na sexta-feira — o ministro da Saúde, Salvador Illa, apresentou uma série de medidas acordadas com as regiões do país, competentes em matéria de saúde.
Como o contágio aumentou em julho, cada região tomou medidas, como confinamentos seletivos ou obrigatoriedade de uso de máscara em ambientes externos, algo já em vigor em toda a Espanha, mas agora as decisões são de responsabilidade de todo o país em conjunto.
Com centenas de surtos, a Espanha, que lidera na Europa Ocidental em número de infectados com quase 343.000, atingiu uma média de 111 casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias, frente a 33,6 na França e 17 no Reino Unido.
Diante dessa situação, boates e demais casas noturnas serão fechadas, enquanto restaurantes e bares fecharão à 1 hora, segundo o ministro Illa, sem especificar quando o pacote de medidas entrará em vigor.
Não será permitido fumar nas ruas, a menos que se consiga manter uma distância de segurança de 2 metros, decisão já em vigor na Galiza e nas Ilhas Canárias.
Sejam "disciplinados"
Destacando a proibição dos chamados botellones, encontros de jovens para beber álcool ao ar livre, Illa fez um apelo específico a eles para que sejam “disciplinados”.
“Não podemos deixar de cumprir as medidas que decretamos juntos”, disse Illa. Várias regiões lançaram campanhas de conscientização juvenil, algumas usando imagens nítidas de pessoas em unidades de terapia intensiva (UTI) ou mortas.
Em lares de idosos, que foram duramente atingidos por milhares de mortes durante a primeira onda, as visitas serão limitadas e os novos residentes terão de passar por um teste de covid-19 para admissão.
As regiões poderão realizar campanhas de testes nos grupos populacionais de risco e nos bairros e aglomerações particularmente afetados pela epidemia.
"É excessivo"
Denunciando "falta de coordenação" com os hoteleiros por parte do governo, a indústria hoteleira da Espanha solicitou "medidas compensatórias" para "um setor que representa 6,2% do PIB [ do país ] que emprega 1,7 milhão de pessoas" e já seriamente atingido pela pandemia.
“É possível se contaminar tanto à 1 da tarde como à meia-noite. O que estão fazendo é cortar o benefício das empresas que precisam sair da crise. Em minha opinião, não é uma boa decisão", indicou à AFP José Ramón Fernández, de 46 anos, garçom em um restaurante no centro de Madri.
"É excessivo e não há consenso na Europa", disse Julien García, um fumante franco-espanhol de 34 anos. "Na França, dizem que fumar cigarros não transmite covid-19. É confuso."
O pacote de medidas foi anunciado um dia depois que as universidades de medicina espanholas expressaram a "decepção e indignação" dos profissionais de saúde pela "falta de uma liderança comum na resposta" à pandemia, ao mesmo tempo que pediram uma melhor coordenação entre as regiões e o Estado.
O governo central exerceu um comando único contra a pandemia graças a um estado de emergência entre meados de março e 21 de junho, regime de exceção que permitiu a imposição de um dos mais rígidos confinamentos do mundo aos espanhóis, com o qual foi possível controlar a primeira onda da epidemia.
Quando o estado de emergência terminou, as regiões voltaram a ser autônomas em saúde e o governo do presidente Pedro Sánchez descartou por enquanto outro período de exceção.
As autoridades de saúde destacaram que a situação atual não é semelhante à do pico da primeira onda, quando foram registrados 950 óbitos diários e alguns hospitais entraram em colapso.
Atualmente, afirmam, mais da metade dos novos casos é assintomática e o índice de mortalidade diminuiu: após o fim do confinamento, em 21 de junho, foram registradas 294 mortes de um total de 28.617 desde o início da pandemia.
Alemanha
A Alemanha, considerada um exemplo no manejo da pandemia do coronavírus, declarou nesta sexta-feira, 14, toda a Espanha, com exceção das Ilhas Canárias, como zona de risco, diante da ameaça de uma segunda onda de contágios.
Com a decisão, o governo alemão também considera as Ilhas Baleares, destino preferido dos alemães na Espanha, uma área de risco.
A partir de agora, todas as pessoas que retornam da Espanha para a Alemanha devem realizar um teste diagnóstico e aguardar os resultados em quarentena.
Berlim já havia alertado para os riscos de viajar para as comunidades autônomas de Aragão, Catalunha, Navarra, País Basco e Madrid.
Depois que outras regiões espanholas ultrapassaram a barreira de 50 infecções por 100.000 habitantes em uma semana, a ampliação das restrições pelo governo alemão era esperada.
"A Espanha tem um desenvolvimento muito rápido da epidemia", disse uma porta-voz do ministério. “A cada dia mais regiões são fortemente afetadas pela epidemia”, acrescentou.
A Alemanha, que até agora foi pouco afetada pela pandemia, depara com um aumento das infecções, que ultrapassaram 1.000 em 24 horas por vários dias, um fato "preocupante" para o ministro da Saúde, o conservador Jens Spahn.
Na sexta-feira, o Instituto Robert Koch registrou 1.449 novos casos, números que não eram registrados desde maio.