Crianças carregam água após os efeitos do ciclone Idai em Moçambique em 22.3.2019 (Philimon/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 30 de março de 2019 às 07h45.
Última atualização em 30 de março de 2019 às 07h45.
São Paulo – A cada dia que passa, as mudanças climáticas mostram sua faceta mais real e implacável. O número crescente de mortos pela passagem do ciclone Idai na África, que soma mais de 500, é um “sinal alarmante dos extremos climáticos”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Enquanto o mundo acompanha aos esforços humanitários emergenciais na região, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou o balanço dos impactos de enchentes, furacões e secas severas ocorridas em 2018. Extremos do clima atingiram 62 milhões de pessoas e deslocaram mais de 2 milhões em todo o mundo no ano passado.
Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos da mudança climática estão se acelerando à medida que as concentrações recorde de gases de efeito estufa elevam as temperaturas globais em direção a níveis cada vez mais perigosos, de acordo com o relatório “Estado do Clima em 2018”.
O estudo aponta que a Terra está quase 1ºC mais quente do que no início da era industrial. Pelo acordo climático de Paris, os países devem empreender esforços para limitar o aquecimento a não mais do que 2 ºC até o final do século, preferencialmente a 1,5ºC, a fim de evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.
Para isso, será preciso reduzir drasticamente as emissões de gases efeito estufa mundiais, geradas majoritariamente pela queima de carvão, petróleo e combustíveis para eletricidade e transporte.
Segundo a OMM, desde 1998, pelo menos 4,5 bilhões de pessoas no mudo já foram afetadas de alguma forma por extremos climáticos.
"A ciência climática alcançou um grau de robustez sem precedentes, fornecendo evidências do aumento de temperatura global e seus efeitos associados, como a aceleração do aumento do nível do mar, encolhimento do gelo marítimo, recuo dos glaciares e eventos extremos como ondas de calor" disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
Esses indicadores-chave de mudança climática estão se tornando mais pronunciados. Os níveis de dióxido de carbono (CO2), que estavam em 357 partes por milhão (ppm) quando o relatório da OMM foi publicado pela primeira vez em 1994, continuam subindo — atingiram 405,5 partes por milhão em 2017.
Em 2018, a concentração de gases do efeito estufa liberados na atmosfera da Terra saltou para 409,9 ppm, o quarto maior nível já observado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), desde que os registros começaram, há 60 anos.
As inundações causadas por fortes tempestades continuaram a afetar o maior número de pessoas, mais de 35 milhões em 2018, de acordo com uma análise de 281 eventos registrados pelo Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) e a Estratégia Internacional da ONU para Redução de Risco de Desastres.
O furacão Florence e Michael foram dois dos catorze desastres mais caros de 2018 nos Estados Unidos Eles provocaram cerca de US$ 49 bilhões em danos e mais de 100 mortes. O super tufão Mangkhut afetou mais de 2,4 milhões de pessoas e matou pelo menos 134 pessoas, principalmente nas Filipinas.
Mais de 1.600 mortes foram associadas a intensas ondas de calor e incêndios florestais na Europa, Japão e EUA, onde foram verificados prejuízos econômicos recordes, de quase US$ 24 bilhões nos EUA. O estado indiano de Kerala foi castigado pelas maiores chuvas e as piores inundações em quase um século.