Em movimento histórico, Alemanha pode legalizar o casamento gay
Um dos melhores países para a comunidade LGBTI, a Alemanha nunca legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas isso pode mudar em 2017. Entenda
Gabriela Ruic
Publicado em 28 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 28 de junho de 2017 às 09h14.
São Paulo – Em um movimento histórico, a Alemanha deve votar, ainda nesta semana, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Embora seja considerado um dos melhores países para a comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero e Intersex), o país caminha passos lentos, para não dizer que não caminha, neste tema.
Mas, 2017, ano eleitoral, pode ser o ano em que o mundo observará a mudança nesse cenário. Em um evento nesta semana, a chanceler Angela Merkel disse que o parlamento deveria votar o assunto e que cada parlamentar deveria se manifestar segundo a sua consciência.
A declaração vem sendo vista como uma retração de primeira-ministra sobre o assunto e um sinal de que seu partido, o conservador União Democrata-Cristã, que sempre se posicionou contra essa legalização, não tentará se articular para derrotar a proposta.
A oposição, liderada por um dos maiores rivais de Merkel nesta eleição, Martin Schulz, parece ter aproveitado essa abertura e agora corre contra o relógio para colocar o assunto em pauta nos próximos dias. Segundo a rede de notícias alemã, NTV, a votação da legalização deve ocorrer na sexta (30) e especula-se que será aprovada com relativa tranquilidade.
Sobrevivência política
O tema sempre foi uma espécie de calcanhar de Aquiles para Merkel. Elogiada na esfera mundial por sua atuação ante a crise dos refugiados, por exemplo, sempre sofreu críticas pelo posicionamento contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras questões, como a adoção.
O assunto pode ser incômodo para Merkel, é verdade, mas se tornou essencial se a chanceler, que já está no poder há 12 anos, deseja se manter nesta posição e governar com alguma desenvoltura. E por uma série de razões.
A primeira delas é porque seus maiores rivais nas próximas eleições vêm se manifestando fortemente em apoio à iniciativa “Ehe für alle“ (Casamento para Todos). Além disso, possíveis partidos parceiros de um novo governo já disseram que não vão considerar uma coalizão que não apoie essa igualdade.
A questão se mostra resolvida entre os alemães. Segundo uma pesquisa recente conduzida pela Agência Federal Anti-Discriminatória, 83% dos alemães apoia essa legalização e 95% considera positivo que gays e lésbicas estejam protegidos sob os olhos da lei.
https://twitter.com/ADS_Bund/status/879588452601405440
Direitos iguais?
Em solo alemão, as uniões civis são possíveis, mas o debate em torno do casamento pouco evoluiu, do ponto de vista político, nos últimos anos. Hoje, a posição da Alemanha vai na contramão de países considerados mais conservadores e religiosos, como a Irlanda ( relembre ), mas que consolidaram essa igualdade para todos os seus cidadãos.
Quanto à adoção, a lei alemã tampouco é avançada. Apesar de ser possível que uma mulher, por exemplo, adote o filho biológico de sua companheira, elas, enquanto casal, ainda são impedidas de adotarem uma criança. Esse é outro tema a maioria da população da Alemanha gostaria de ver revertido: 75,8% são a favor que casais do mesmo sexo possam fazer isso.
Repercussão
Entidades de defesa dos direitos da comunidade LGBTQ viram a iniciativa com bons olhos, mas não deixaram de lembrar como o tema foi quase que esquecido pelo governo de Merkel.
“Direitos iguais para todos é um requisito de nossas leis mais básicas”, notou a maior ONG alemã, Lesben-und Schwulenverband, “queremos viver em um país onde lésbicas e gays não sejam mais discriminados”, finalizou em comunicado.