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Em eleição polarizada, Castillo e Keiko debatem em praça pública no Peru

Os candidatos também foram criticados por analistas por organizar um debate em uma praça no pior momento da segunda onda pandemia de covid-19

Pedro Castillo, candidato de esquerda à presidência do Peru: dois candidatos nos extremos chegaram ao segundo turno no país (AFP/AFP)
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AFP

Publicado em 1 de maio de 2021 às 20h12.

O candidato da esquerda, Pedro Castillo, e a da direita, Keiko Fujimori se enfrentaram neste sábado, 1º de maio, em um debate realizado em praça pública no Peru. Foi o primeiro debate do segundo turno presidencial, que acontece em 6 de junho e ameaça polarizar o país.

Os candidatos acordaram abordar temas de saúde, educação, segurança, economia e corrupção. O debate surgiu de um desafio de Keiko ao seu adversário, e ocorreu na praça da cidade agrícola de Chota, de 47.000 habitantes, na região de Cajamarca -- a mesma onde nasceu e reside Castillo, 900 km ao norte de Lima.

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"O problema da pandemia no Peru não é apenas um problema sanitário [...], é um problema econômico, é um problema moral, um problema social", disse Castillo, afirmando que a crise é um "produto deste modelo neoliberal" que Keiko defende.

Já Keiko disse que construirá "hospitais de alto a baixo do país". A candidata iniciou sua intervenção com uma saudação aos membros das Forças Armadas e da Polícia. "Construíremos mais 3.000 colégios, como fez meu pai", acrescentou, disse, falando sobre o pai, Alberto Fujimori.

Os dois candidatos prometeram vacinas contra a covid-19 este ano e disseram ter falado com o embaixador da Rússia com este fim. O processo de imunização avança lentamente no Peru e tem sido marcado por controvérsias.

A praça foi isolada horas antes por 200 policiais, enquanto centenas de moradores se concentraram nos arredores para acompanhar o debate, transmitido por emissoras de TV e que dominou as atenções do país.

Ao chegarem, os dois candidatos se cumprimentaram com os punhos e fizeram o mesmo ao se despedirem. Eles só tiraram as máscaras na sua vez de falar no microfone.

"O debate permitiu comparar propostas absolutamente diferentes", escreveu Castillo no Twitter.

"O importante é que este debate aconteceu. A cidadania merece conhecer cada uma das propostas", disse Keiko Fujimori à imprensa.

Keiko Fujimori, ex-congressista e candidata de direita à presidência do Peru (AFP/AFP)

O analista político Fernando Tuesta criticou que os candidatos organizassem um debate em uma praça "no pior momento da segunda onda" pandemia de covid-19, quando o Peru registra quase 1,8 milhões de contágios e mais de 61.000 mortos.

O país, em recessão por causa da pandemia e politicamente instável desde 2016 - teve três presidentes em cinco dias em novembro passado -, agora se encaminha a um segundo turno entre dois candidatos situados nos extremos e que em conjunto obtiveram apenas 32% dos votos no primeiro turno em 11 de abril.

Luta anticorrupção

O professor de escola rural e a filha do detido ex-presidente Alberto Fujimori encabeçaram, com 18,92% e 13,40% dos votos, respectivamente, o primeiro turno das eleições, em 11 de abril, que contou com um recorde de 18 candidatos.
Castillo supera Keiko em todas as pesquisas de opinião com vistas ao segundo turno, com vantagem entre 20 e 10 pontos percentuais.

Os dois candidatos chegaram à praça acompanhados de seguidores e sob vigilância policial. Ela vestia camiseta branca com faixa vermelha da seleção peruana de futebol e ele, seu tradicional chapéu de copa alta, típico de Cajamarca.

Castillo prometeu que expulsaria todos os estrangeiros "que vieram delinquir" no país e propôs a "morte civil para todos os corruptos e que devolvam tudo o que foi roubado".

"A corrupção é um mal que causou muitos danos à nossa sociedade", disse Keiko, que atacou o líder do partido Peru Livre, de Castillo, Vladmir Cerrón, condenado por corrupção, enquanto era governador da região andina de Junín.

Coincidências

Keiko, de 45 anos, defende o livre mercado, enquanto Castillo, de 51, apoia um Estado com ativo papel econômico, inclusive com nacionalizações.

O próximo presidente deverá assumir o poder em 28 de julho, substituindo o chefe de Estado interino Francisco Sagasti e terá que pôr fim à instabilidade política do último quinquênio.

Apesar das diferenças, os dois candidatos coincidem em alguns temas: são contra o aborto, defendem a família tradicional, não dão importância aos direitos da comunidade LGTBI e rejeitam a abordagem de gênero nas escolas.

A filha do ex-presidente descendente de japoneses, que chega a um segundo turno pela terceira vez, tem dito que, se virar presidente, indultará seu pai, que cumpre pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção durante seu governo (1990-2000).

Ela mesma enfrenta um pedido do Ministério Público de 30 anos de prisão em um julgamento próximo por suspeita de lavagem de dinheiro e outras acusações no escândalo da empreiteira brasileira Odebrecht, que salpicou quatro ex-presidentes peruanos e a mantiveram em prisão preventiva por 16 meses, até maio de 2020.

Além do polêmico legado do pai, Keiko é criticada por ter alimentado a instabilidade no Peru pela ferrenha oposição de sua bancada aos presidentes Pedro Pablo Kuczynski e Martín Vizcarra. O primeiro foi forçado a renunciar em 2018 e o segundo foi deposto em 2020.

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