ELN pode declarar cessar-fogo unilateral durante visita do papa
O ELN e o governo do presidente Juan Manuel Santos estão negociando um acordo de paz para suspender as hostilidades enquanto o papa visita a Colômbia
Reuters
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 16h00.
Bogotá - Os rebeldes do Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) podem declarar um cessar-fogo unilateral temporário durante a visita do papa ao país no mês que vem se não conseguirem acertar um acordo com o governo para uma trégua bilateral, disse um líder da guerrilha no final da quarta-feira.
O ELN e o governo do presidente Juan Manuel Santos estão negociando um acordo de paz no Equador que pode permitir que os dois lados suspendam as hostilidades enquanto o papa está visitando a Colômbia, segundo o líder guerrilheiro, mas a menos de um mês da chegada do pontífice ainda não há nenhum pacto à vista.
"Faremos todo o esforço necessário para que o cessar-fogo seja bilateral, mas se não for alcançável, cogitaremos a possibilidade de torná-lo unilateral", afirmou Pablo Beltrán, negociador-chefe do ELN, à Reuters em uma entrevista por telefone de Quito.
"Sua Santidade Francisco é um papa que fez a Igreja voltar a pensar nos pobres e das maiorias excluídas. Ele é um papa progressista, e tudo que nós, colombianos, pudermos fazer para recebê-lo é um aceno ao apoio que ele dá ao processo de paz", disse.
Bogotá e o ELN, o segundo maior grupo insurgente do país, iniciaram negociações de paz formais em fevereiro depois de mais de três anos de conversas secretas sobre a pauta e a logística.
Santos exigiu que o ELN pare com os sequestros, as hostilidades contra civis e os ataques à infraestrutura de petróleo para rumar para um cessar-fogo bilateral, mas o grupo diz que os ataques são defensivos e uma reação às ofensivas militares contra seus combatentes.
O ELN tem cerca de 2 mil membros e é considerado pelos Estados Unidos e pela União Europeia como uma organização terrorista. Ele se inspirou na revolução cubana com apoio de padres católicos radicais e emergiu em 1964.
Beltrán também disse que o ELN foi para áreas antes ocupadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que assinaram um acordo de paz com o governo no final do ano passado e encerraram sua atuação em um conflito de meio século que matou mais de 220 mil pessoas e deslocou milhões.
Muitas antigas áreas das Farc estão sendo ocupadas por grupos paramilitares de direita, e por isso o ELN está protegendo a população civil, argumentou Beltrán.
Será difícil concluir as negociações de paz antes de Santos deixar o cargo no ano que vem, por isso as conversas precisam progredir com firmeza para que a próxima gestão se sinta pressionada a continuar o processo, disse ele.