Mundo

ELN e Farc: as duas faces da guerrilha na Colômbia

Apesar lutarem há 52 anos, o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se diferenciam em vários aspectos

Guerrilhas: nos últimos anos, a mineração ilegal também se tornou uma fonte de financiação para ambas as guerrilhas (Luis Costa / AFP)

Guerrilhas: nos últimos anos, a mineração ilegal também se tornou uma fonte de financiação para ambas as guerrilhas (Luis Costa / AFP)

A

AFP

Publicado em 26 de outubro de 2016 às 15h51.

Apesar de compartilharem 52 anos de luta armada contra o Estado colombiano, o Exército de Libertação Nacional (ELN), que nesta quinta-feira instalará diálogos de paz com o governo, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), principal guerrilha do país, se diferenciam em vários aspectos.

Camponeses X Estudantes

- Farc: Surgiu em um levante camponês em maio de 1964 e se transformou em uma organização marxista-leninista, tendo a reforma agrária como principal reivindicação.

- ELN: Levantou-se em armas em julho de 1964. Este grupo insurgente se inspirou na revolução cubana e na Teologia da Libertação, uma corrente cristã latino-americana voltada para a defesa dos pobres, e tem influência em setores urbanos, principalmente estudantis e sindicais.

Verticalidade X Federalismo

- Farc: À semelhança do comunismo soviético, sua unidade de comando é forte e vertical, com uma "coesão" clara, explica o pesquisador Camilo Echandía. O Secretariado, sua cúpula de nove comandantes, é liderada por Rodrigo Londoño ("Timochenko").

- ELN: Tem uma estrutura "mais federalizada", onde cada frente tem voz própria, segundo o cientista político Víctor de Currea-Lugo. No entanto, conta com um Comitê Central (Coce) de cinco chefes, liderado por Nicolás Rodríguez Bautista ("Gabino").

A "coesão" do ELN, porém, está "em dúvida" devido à "flexibilização dos comandos", aponta Echandía. Alguns analistas afirmam que Gustavo Aníbal Giraldo ("Pablito"), comandante da Frente Oriental, a quem são atribuídas 40% das ações militares do ELN, é reticente em relação à saída política do conflito.

25 X 10

- Farc: Contam com 5.765 combatentes, segundo seus próprios cálculos. O governo estima que para cada membro em guerra pode haver entre um e três milicianos. Operam em 25 dos 32 departamentos da Colômbia.

- ELN: Oficialmente, há cerca de 1.500 integrantes armados em suas filas, que operam em ao menos dez departamentos. Segundo especialistas, sua base social é mais ampla que a das Farc, mas não se sabe o número exato de milicianos ou simpatizantes. "Têm uma capacidade de fogo menor que as Farc", afirmou De Currea-Lugo.

Narcotráfico X Sequestro

Tanto as Farc quanto o ELN financiaram suas operações com o narcotráfico, mas também com o sequestro e a extorsão. "Se existe uma guerrilha sequestradora, é o ELN. É a sua principal fonte de financiamento", disse Jorge Restrepo, diretor do centro de análise do conflito Cerac. Para esta guerrilha guevarista, a infraestrutura petroleira é o principal objetivo militar, segundo o organismo.

Nos últimos anos, a mineração ilegal também se tornou uma fonte de financiação para ambas as guerrilhas.

Terra X Participação

O desenvolvimento de cada organização é a meta das agendas de negociação com o governo, coincidem analistas, embora com algumas diferenças. "A reivindicação das Farc é o ponto agrário, e o ELN faz ênfase na participação na sociedade", disse De Currea-Lugo.

Ambos os roteiros para as negociações têm seis pontos. Neles, coincidem os temas "Fim do conflito", "Vítimas" e "Implementação".

No caso do ELN estão incluídos também "Transformações para a paz", "Participação da sociedade" e "Democracia para a paz", enquanto que no das Farc há ainda "Solução para o problema de drogas ilícitas", "Reforma agrária integral" e "Participação na política".

Mais de Mundo

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal

Milei insiste em flexibilizar Mercosul para permitir acordos comerciais com outros países

Trump escolhe Stephen Miran para chefiar seu conselho de assessores econômicos