Eleitores evangélicos ditam o rumo de Trump na política com Israel
Para especialistas, decisões como o reconhecimento das Colinas de Golã como área israelense visam agradar um dos principais eleitorados do republicano
EFE
Publicado em 27 de março de 2019 às 06h47.
Washington — Não são judeus, mas cristãos evangélicos brancos, um dos blocos de eleitores mais fiel ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , que estão há décadas inclinando a política americana no Oriente Médio a favor do sionismo.
Pela segunda vez desde que chegou à presidência, Trump rompeu com a política tradicional dos Estados Unidos ao reconhecer como israelense um território em disputa, neste caso as ocupadas Colinas do Golã, na fronteira com a Síria, o Líbano e a Jordânia.
Os elogios mais fortes por essa decisão não chegaram dos judeus americanos, na maioria democratas, mas dos evangélicos brancos, que votaram em Trump em 2016 e entre os quais 69% o seguem apoiando sem dúvidas, segundo um estudo publicado na semana passada pelo centro de pesquisa Pew.
"A principal razão, e talvez a única, pela qual Trump está dando estes passos em Israel é porque é o que sua base de eleitores evangélicos, brancos e conservadores quer que faça", explicou à Agência EFE o historiador John Fea, autor do livro "Believe Me: The Evangelical Road to Donald Trump".
Cerca de 25% dos americanos, de acordo com o Pew, são protestantes evangélicos, gente que "acredita na autoridade absoluta da Bíblia e na salvação através de Jesus", como foram definidos pela especialista em política e religião Elizabeth Oldmixon, da Universidade do Norte do Texas, para o portal de notícias "Vox".
Os evangélicos mais fundamentalistas, que, segundo Oldmixon, rondam 15 milhões de pessoas, são os defensores mais veementes nos EUA do Estado judeu, em parte porque consideram sua existência um requisito para a segunda vinda de Jesus Cristo.
"Muitos evangélicos que apoiam Trump acreditam que a restauração de Israel como Estado-Nação e o regresso dos judeus à sua terra é um presságio do regresso de Jesus Cristo", disse Fea.
"É uma interpretação baseada em uma leitura literal dos livros proféticos do Velho e Novo Testamento e implica que o sucesso de Israel como nação é central para o plano futuro de Deus para o mundo", acrescentou.
Robert Jeffress, pastor da First Baptist Church em Dallas (Texas) e um dos clérigos evangélicos mais influentes na Casa Branca, detalhou a gênese bíblica dessa teoria em artigo publicado na segunda-feira no site da emissora "Fox News".
"Deus prometeu a Abraão, o pai dos judeus, que daria a ele e a seus descendentes a terra que agora forma o Israel moderno (...). Essa clara promessa de Deus é a razão pela qual os cristãos americanos de ambos os partidos respaldaram o reconhecimento do Estado de Israel em 1948", resumiu o pastor.
O apoio dos evangélicos a Trump surpreendeu muitos observadores da corrida presidencial em 2016, quando essa comunidade tão conservadora respaldou decisivamente um candidato divorciado em duas ocasiões, protagonista de escândalos de adultério e que há poucos anos defendia o direito ao aborto.
Essa conquista de Trump se deveu, em parte, à escolha de Mike Pence como vice-presidente, que é descrito como um "católico evangélico renascido" e impregnou a Casa Branca com um profundo conservadorismo social.
Outro influente evangélico é o secretário de Estado, Mike Pompeo, que na semana passada opinou que Trump poderia ter sido enviado por Deus para salvar Israel da ameaça do Irã, assim como a rainha Esther, que em um episódio bíblico intercedeu para salvar os judeus de um genocídio do Império Persa.
"Como cristão, certamente acredito que isso é possível", afirmou Pompeo em entrevista.
O voto dos cristãos conservadores pode ser fundamental para a reeleição de Trump em 2020 e, há duas semanas, um grupo de líderes evangélicos recebeu na Casa Branca detalhes do plano de paz que o genro do presidente, Jared Kushner, apresentará em breve.
"Vários presentes expressaram preocupação com a possibilidade de o plano de paz poder dar aos palestinos uma capital em Jerusalém Oriental", informou o portal "Axios", citando uma fonte que participou do encontro.
Essa rejeição da solução de dois Estados alinha os evangélicos com a direita israelense e facilitou uma simbiose entre as prioridades políticas de Trump e as do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disputará eleições gerais no próximo dia 9 de abril.
"Israel nunca teve um melhor amigo como o senhor", disse Netanyahu a Trump na segunda-feira em visita à Casa Branca. EFE